Brasília - Os ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) encaminharam ao STF (Supremo Tribunal Federal) uma notícia-crime para investigar o presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Filipe Barros (PSL-PR) por suspeita de divulgação de dados sigilosos contidos no inquérito da Polícia Federal que apura um ataque hacker sofrido pela corte em 2018. Todos os integrantes do tribunal eleitoral assinam o pedido. Eles requerem que o chefe do Executivo e o parlamentar sejam investigados no âmbito do inquérito das fake news por "possível conduta criminosa".

Os magistrados também pedem que seja determinada a exclusão das publicações de Bolsonaro e de Barros sobre o tema. Bolsonaro fez a publicação após afirmar em programa de rádio que comprovaria a fraude nas urnas eletrônicas. Um dia depois, a corte eleitoral desmentiu o presidente e disse que o episódio, que ocorreu em 2018, "embora objeto de inquérito sigiloso, não se trata de informação nova".

Segundo o tribunal, "o acesso indevido, objeto de investigação, não representou qualquer risco à integridade das eleições de 2018. Isso porque o código-fonte dos programas utilizados passa por sucessivas verificações e testes, aptos a identificar qualquer alteração ou manipulação. Nada de anormal ocorreu".

O caso da invasão, em módulos que não alteram a votação em si, já tinha sido revelado em reportagem no site Tecmundo em novembro de 2018. A reportagem do Tecmundo deixava claro que "os invasores não tiveram acesso ao módulo do sigilo do voto: isso significa que não foi possível acessar a parte do sistema que exibe os votos dos eleitores".

Procurado pela FOLHA, o deputado federal Filipe Barros classificou o pedido do TSE ao Supremo de 'cortina de fumaça'. Ele ainda encaminhou para reportagem um ofício no qual demostra que a Comissão Especial sobre o voto impresso solicitou formalmente à Polícia Federal autorização para ter acesso ao Inquérito que apura crimes cibernéticos para subsidiar os trabalhos do colegiado. O pedido foi formalizado no dia 14 de julho com resposta positiva da PF no dia 23 do último mês.

VOTO IMPRESSO E TANQUES NA RUA

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), defendeu nesta segunda-feira (9) que a discussão sobre o voto impresso cabe ao plenário da Casa, e não ao Judiciário ou ao Executivo, e disse esperar que a decisão dos deputados seja acatada com tranquilidade e respeitada pelos Poderes. A matéria deve ser apreciada pelo plenário nesta terça-feira (10) ou quarta-feira (11). Na avaliação de Lira, com 15 a 16 partidos contrários ao tema na Casa, as chances de aprovação da PEC seriam poucas.

E em meio ao agravamento da crise institucional entre Bolsonaro e o Judiciário, o Ministério da Defesa realizará nesta terça-feira (10) um desfile de blindados que passará em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília.

De acordo com um comunicado da Marinha, o desfile marcará a entrega a Bolsonaro e ao ministro Walter Braga Netto (Defesa) de um convite para que as autoridades acompanhem, na próxima segunda-feira (16), um tradicional exercício da Marinha. (Colaborou Guilherme Marconi/Reportagem Local)