Cerca de 90% dos pacientes diagnosticados em Londrina com a Covid-19 conseguiram se recuperar. A autônoma Elaine Garcia Gradi, 34, faz parte deste percentual. Mas até ser considerada recuperada da doença, foram dias de angústia, dor e incertezas. Os sinais começaram a aparecer em 17 de maio, com febre chegando a 39º. Procurou a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do jardim Sabará, onde colheu exame para o coronavírus.

Elaine e Rodrigo Gradi com as filhas Isabely e Lara: fé para superar os desafios e conscientização sobre a gravidade da doença
Elaine e Rodrigo Gradi com as filhas Isabely e Lara: fé para superar os desafios e conscientização sobre a gravidade da doença | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Os sintomas foram se agravando, com tosse e dificuldade para respirar. “O resultado só iria sair uma semana depois. Temia pelas minhas filhas, que continuavam em casa e não tinha como me isolar totalmente, não tem um quarto separado. O que fiz foi me isolar na sala”, relembrou Gradi, que é mãe de Isabely, 10, e Lara, 4. “Inicialmente me indicaram Tamiflu, pois, poderia ser H1N1”, acrescentou a moradora da zona norte da cidade.

Mesmo em isolamento e tomando remédios, a situação foi piorando ainda mais ao longo dos dias, sendo necessário internamento na própria UPA e, posteriormente, na enfermaria do HU (Hospital Universitário). “Não conseguia dormir, comer. Quando veio o resultado positivo (para coronavírus) o ‘chão abriu’. Enquanto não se tem certeza, imaginamos que pode ser outra doença. Pensava que iria morrer e temia pelas minhas filhas, delas terem tido contato”, relatou.

Os pulmões acabaram tomados pela infecção. Foram cinco dias hospitalizada e pouco tempo depois de atravessar uma dengue severa. “O medo tem a mesma proporção da doença. A médica falou que a situação era grave, que caso não melhorasse teriam que me colocar no respirador”, lembrou. Diante de toda essa tribulação, outro baque, o marido, Rodrigo Carvalho Gradi, 42, também foi confirmado com a Covid-19. “Tinha medo do meu esposo ficar ruim e não ter como cuidar das nossas filhas.”

O financeiro foi outra aflição, já que o casal é autônomo e depende do próprio trabalho para sustentar a casa. Religiosa, Elaine Gradi se apegou na fé para superar todos os desafios. “Foi Deus na nossa vida e muita providência. Meu marido conseguiu ficar com as meninas, meu organismo reagiu bem a uma das medicações. Sirvo a Deus e Ele é maior na minha vida, tinha que acreditar nisso. Amigos rezaram por nós”, agradeceu.

ISOLAMENTO

Ao todo, o isolamento durou 35 dias, entre permanência no hospital e em casa. As filhas não foram testadas, entretanto, também não apresentaram sintomas. Curada, conviveu e ainda continua vendo uma outra vertente de quem é infectado com o novo coronavírus, o preconceito. “Falta informação. As pessoas sabem o que é a Covid-19 e pronto. Não sabem como é se contrair, os cuidados”, comenta.

INFORMAÇÃO

Mesmo com uma suposta imunidade à doença, os cuidados continuam, principalmente junto à família. “Busco passar isso para as pessoas, para usarem máscara. Muitas não têm noção da realidade do vírus, não acreditam na gravidade, fazem pouco caso. Fico assustada”, lamenta. “Foram dias terríveis. Nossa vida é ‘por um fio’ e que a qualquer momento pode se romper. Confiei em Deus.”