O senador Sergio Moro (União Brasil) pediu, no mês passado, intervenção do presidente nacional do União Brasil, Antônio Rueda, nas comissões provisórias do partido em Maringá, Londrina, Francisco Beltrão e Araucária. O intuito foi a formação de novas comissões com nomes indicados pelo senador.

O argumento utilizado por Moro para o pedido, que ganhou repercussão nesta semana, é o fortalecimento do União Brasil visando as eleições de 2026. Após ser absolvido da acusação de abuso de poder econômico na pré-campanha de 2022, o ex-juiz da Operação Lava Jato retomou espaço e seu projeto de concorrer ao governo do Paraná.

A FOLHA mostrou como a situação do partido em Londrina, desde o começo do ano, é instável. O deputado federal Felipe Francischini, que comanda a estadual, destituiu o advogado (e pré-candidato) André Trindade da presidência da comissão provisória e apoiou a pré-candidatura do vereador Jairo Tamura à Prefeitura.

“Atualmente, o diretório está sob o comando do vereador Jairo Tanura [Moro erra o sobrenome de Jairo no pedido] que afirma-se candidato a prefeito, mas que sequer é colocado nas pesquisas”, escreve o senador que, em julho, conseguiu retomar o controle do União Brasil em Londrina, reconduzindo Trindade à presidência e preterindo a pré-candidatura de Tamura.

Moro cita um acordo com Francischini para ficar com o comando do partido em Londrina, o que não teria sido respeitado. "Tínhamos promissor candidato a prefeito, que já havia ficado em terceiro lugar em 2016, e que pontuava em quatro em pesquisas do ano passado", afirma, se referindo a Trindade.

No pedido à nacional, Moro ainda diz estar “preocupado” com a condução da legenda em outras vinte cidades paranaenses e pede que o seu "mando político" seja reconhecido por Rueda ou pela executiva nacional. Curitiba, Ponta Grossa, Foz do Iguaçu, Guarapuava, Apucarana e Arapongas estão na lista.

“Em relação a essas 20 cidades, não solicito por ora qualquer intervenção, tendo em vista a viabilidade de convergências e composições com os atuais grupos, esperando, porém, que não haja alterações por decisões isoladas nos diretórios e que nas convenções partidárias seja ouvido e respeitada a posição do ora subscritor (sic)”, continua o senador.

A principal rusga é justamente com Francischini. Moro aponta que os pedidos de intervenção ocorreram por conta das decisões tomadas pelo presidente estadual - como a mudança ocorrida em Londrina no começo do ano.

“Peço escusas pela solicitação que se faz apenas em decorrência da centralização arbitrária das decisões políticas no Estado do Paraná pelo atual presidente do UB/PR, alijando não só o subscritor, mas a maioria dos filiados do partido, inclusive deputados federais e estaduais, das necessárias discussões e definições políticas. A esse respeito, há uma insatisfação generalizada”, diz outro trecho do documento.

Procurado reportagem, Moro disse, via assessoria de imprensa, que não está comentando o assunto. Francischini não retornou.

‘MOMENTO INAPROPRIADO’

Principal afetado pela intervenção em Londrina, o vereador Jairo Tamura, que na janela partidária deste ano trocou o PL pelo União Brasil para concorrer à Prefeitura, entende que, se o objetivo era fortalecer o partido para 2026, “foi em momento inapropriado, enfraquecendo a união e a unidade” para as próximas eleições.

“O risco de não elegermos representantes municipais, com as intervenções, só mostra jogo de poder e que o diálogo não foi prevalecido”, lamenta.

Tamura atuou diretamente na construção da chapa de pré-candidatos do partido à CML (Câmara Municipal de Londrina). Questionado se a intervenção pode atrapalhar a continuidade da chapa, o vereador diz que o cenário é incerto.

“Fiquei decepcionado com a intervenção. A minha entrada no partido era um projeto de futuro do União. Não estou interferindo em relação aos pré-candidatos. Realmente, formamos uma chapa pela confiança. Houve um rompimento. Como o comando municipal é outro, não sei como será conduzido, qual objetivo e compromisso com os candidatos”, completa Tamura.

DE OLHO EM 2026

O advogado eleitoral Nilso Paulo da Silva ressalta que, enquanto as lideranças municipais estão focadas nas eleições de outubro, a nível estadual e federal há uma preocupação com a consolidação de alianças para o pleito de 2026. As intervenções nos municípios não são incomuns e estão relacionadas à própria estrutura partidária.

O ponto é que comissão provisória é instável, pois, diferente do diretório municipal, é passível de intervenção pelo presidente estadual ou federal da legenda. É o que aconteceu com o União Brasil e o Podemos de Londrina, por exemplo.

“Como o próprio nome estabelece, comissão provisória é uma comissão que faz a gestão, a administração do partido até que o diretório seja devidamente votado pelos filiados, constituído uma direção partidária com prazo estabelecido no estatuto. Somente por uma nova eleição, ou por decisão judicial, se destitui o diretório", explica.

Silva afirma que Moro se fortaleceu após a absolvição e “passa a se cacifar para ter um comando de organização pensando nas eleições de 2026”.