O desastre ambiental que atingiu o Rio Grande do Sul também ligou um alerta no agronegócio paranaense. Segundo o levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM), divulgado na última sexta-feira (17), os prejuízos no campo causados pelas chuvas já ultrapassam R$ 2,5 bilhões. A estimativa é que esse número seja muito maior quando os estragos forem contabilizados, assim que a água baixar.

Conforme um relatório feito pela Emater-RS (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul), os danos mais significativos foram nas culturas de soja e milho. A entidade também aponta perdas na produção de hortifrutigranjeiros e pondera que somente depois da coleta completa de dados é que poderá ter a noção real do rombo financeiro.

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A soja e o milho estavam no ciclo final com 76% e 86%, respectivamente, das colheitas finalizadas. A Emater-RS cita que a impossibilidade de seguir com os trabalhos agrava ainda mais a situação e as perdas aumentam diariamente. No caso da soja, há a abertura das vagens, a germinação de grãos ou o comprometimento pela proliferação de fungos.

REFLEXÃO

“O avanço provavelmente será pouco significativo nos próximos dias, já que muitas lavouras devem ser abandonadas em razão da inviabilidade econômica, ou seja, a colheita dessas áreas não cobre os custos da operação, o frete e os descontos aplicados no recebimento pelas cerealistas”, analisou a Emater-RS.

Tudo isso tem provocado uma reflexão em produtores do Paraná, de acordo com o presidente da SRP (Sociedade Rural do Paraná), Marcelo Janene El-Kadre. Além de entender como ajudar e agir neste momento, o agronegócio analisa formas de evitar que novos desastres aconteçam.

“Nós estamos muito preocupados porque depois que a água baixar é que vamos saber o tamanho do desastre, porque existem áreas lá que a terra foi levada embora, virou cascalho [...] Estamos muito temerosos em relação a custo e situação do produtor rural do Rio Grande do Sul na questão de infraestrutura, porque os frigoríficos pararam, com a umidade os grãos incharam e muitos silos foram destruídos, o que estava armazenado também foi perdido. A gente também pensa na questão de reestruturar estradas, os meios de transporte e equipamentos”, considerou em entrevista à FOLHA.

RECONSTRUÇÃO

El-Kadre reforçou que o produtor que trabalha corretamente se preocupa com a degradação ambiental e promove ações para minimizar os problemas.

“Nós temos uma preocupação muito grande com a preservação, manutenção e conservação de onde a gente tira o sustento e de onde a gente alimenta o mundo. As pessoas falam muito em desmatamento. Primeiro que não se trata como produtor quem estimula o desmatamento, esses são bandidos”, garantiu.

Para o presidente da SRP é preciso refletir sobre o desastre ambiental no RS, para entender que a reconstrução vai além da infraestrutura física, reestabelecendo a harmonia com o meio ambiente para mitigação dos riscos futuros.

“A preocupação do Paraná, e acredito que de boa parte do país, é entender esses desastres para não acontecer mais ou se acontecer algo semelhante que seja em menor gravidade. O Paraná é um estado que tem a preocupação com o meio ambiente muito grande, o controle das matas ciliares é muito difundido e cobrado. Nós temos a preocupação de manter, porque é onde produzimos”, ressaltou.

Busca por soluções

O relatório da Emater-RS também destaca que as recentes chuvas intensas e enchentes causaram danos significativos às pastagens em praticamente todo o estado. Desde a dificuldade na semeadura e no desenvolvimento até a perda de culturas já implantadas, o temporal comprometeu a disponibilidade e a qualidade das pastagens para o gado.

Na última semana, o deputado federal paranaense Pedro Lupion (PP), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), informou que o grupo pediu audiências com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, para tratar de temas como a questão de crédito, seguro e reconstrução do campo.

“Não estamos falando só de plantio, estamos falando também do setor de proteína animal, que foi muito afetado. Granjas foram completamente destruídas, em que os animais morreram, fugiram ou não têm acesso à ração, por exemplo. E isso precisa ser reconstruído e essa reconstrução demanda muito dinheiro”, afirmou.

DEMANDA DE PRODUÇÃO

Pedro Lupion também disse que é preciso avaliar como outros estados, incluindo o Paraná, podem ajudar a cobrir a demanda de produção deixada pelo RS. “É um tema que a gente precisa ter muito claro e buscar nessa diversificação de cultura quais são as necessidades do momento para que atenda essa defasagem do Rio Grande do Sul”, pontuou.

Entre essas produções que precisam ser supridas está a de arroz, já que o estado gaúcho é o maior produtor nacional do grão. O relatório da Emater-RS aponta que a questão é agravada por conta da localização das plantações, onde estão concentrados os principais pontos de alagamento.

Mesmo diante desse relatório, Lupion considerou como um “equívoco” a Medida Provisória publicada pelo Governo Federal, no último dia 14 de maio, que autorizou a Companhia Nacional de Abastecimento a importar até um milhão de toneladas de arroz por meio de leilões públicos.

“Um equívoco total essa abertura de importação de arroz, por exemplo. Acho que não é a demanda e não vai sanar o problema, nós temos estoques suficientes para isso, temos conseguido trabalhar com esses números", concluiu, lembrando outros estados que produzem o cereal.