Brasília - O presidente Lula (PT) disse nesta terça-feira (18) à rádio CBN que o Congresso se empoderou em relação ao Orçamento, citando as emendas parlamentares, e que os projetos ideológicos, chamados de "pauta de costumes", está fora da realidade do país.

"Essa pauta de costumes não tem nada a ver com a realidade", disse o presidente ao se referir à discussão atual sobre aborto.

O presidente disse ainda relação com Congresso mudou muito em relação aos seus governos anteriores e minimizou os problemas atuais, como recentes derrotas. Ele repetiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) "não governou o país e deixou o Congresso fazer o que quisesse".

Lula disse que o Congresso se apoderou do Orçamento por meio de emendas, como das de relator, e afirmou disse que deputados e senadores "muitas vezes têm contribuído" e que, na política sempre, há problemas. "Tem que exercitar a arte de conversar e de convencer."

Lula ainda disse que os líderes do governo no Congresso precisam conversar mais com os parlamentares.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, a chamada "pauta de costumes" do bolsonarismo, que engloba questões como aborto e drogas, vem avançando mais nesta primeira metade do governo Lula do que nos quatro anos de Jair Bolsonaro (PL).

Se de 2019 a 2022 temas como escola sem partido e o chamado Estatuto do Nascituro empacaram, agora o Congresso caminha a passos largos para criminalizar o consumo de drogas e, ao menos na Câmara, para equiparar as penas de homicídio ao aborto cometido após 22 semanas de gestação.

Um conjunto de fatores explica o paradoxo, que engloba também temas relativos à segurança pública e à questão agrária.

CANDIDATURA

Lula disse ainda que poderá ser candidato à reeleição em 2026 para, segundo ele, derrotar o que chamou de "trogloditas".

Lula não citou nomes de adversários. "Se for necessário ser candidato para evitar que os trogloditas que governaram esse governo voltem eu serei candidato."

"Não vou permitir que esse país volte a ser governado por um fascista e um negacionista", completou o presidente, que, aos 80 anos em 2026, disse que estará no auge de sua vida.

Embora tenha dito que pode se candidatar, Lula afirmou que essa "não é a primeira hipótese."

"Nós vamos ter que pensar muito, tenho que medir meu estado de saúde e minha resistência física porque eu quero ter responsabilidade com o Brasil. Mas não vou permitir que esse país volte a ser governado por um fascista", afirmou.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, Jair Bolsonaro (PL) disse a pelo menos três pessoas que aposta em recursos no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para reaver o direito de se candidatar novamente à Presidência em 2026.

O discurso do ex-presidente, porém, é visto por alguns aliados e por especialistas em direito eleitoral mais como um aceno à militância, para mantê-la acesa, do que como uma esperança real.

As projeções feitas por Bolsonaro também esbarram em dificuldades jurídicas –sobretudo no STF (Supremo Tribunal Federal).

ROBERTO CAMPOS

Lula vocalizou também a irritação não só dele, mas também de integrantes de seu governo e da cúpula petista com a movimentação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, rumo a uma aliança com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em 2026.

Foi a primeira vez que Lula tratou o governador de São Paulo como potencial adversário nas eleições de 2026. Em entrevista à rádio CBN, o petista afirmou que o presidente do BC tem lado político.

"[Tarcísio] Tem mais [poder de influência] que eu. Não é que ele [Campos Neto] encontrou com Tarcísio numa festa. A festa foi para ele, foi homenagem do governo de São Paulo para ele, certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhoso a taxa de juros de 10,5%", disse Lula.

"A quem esse rapaz é submetido, como ele vai numa festa em São Paulo, quase assumindo candidatura um cargo no governo de São Paulo? Cadê a autonomia dele?", questionou o petista, que também comparou o presidente do BC ao ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro.

"O presidente do Banco Central, que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país", afirmou, após declarar que a autoridade monetária está "desajustada".

A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que o partido prepara uma ação popular contra Campos Neto. "É um escândalo isso. Vi vários comentaristas criticando essa postura. Estamos preparando uma ação popular contra ele. Por violação do interesse público e moralidade administrativa", disse ela.

Segundo Gleisi, Campos Neto mostrou o lado político e conduz o BC para impedir o crescimento do país. "Está fazendo o serviço sujo para a oposição", disse a presidente do PT.

Aliados do presidente divergem sobre a menção a Tarcísio como potencial opositor na corrida presidencial, uma vez que defendem a rivalidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como estratégia política.

No entanto, apontam como importante a responsabilização de Campos Neto pela política de juros, associando o presidente do BC ao bolsonarismo.

Na avaliação de aliados do presidente Lula, a materialização dessa aliança entre o presidente do BC e a oposição pode ser constatada com a presença de Campos Neto em jantares ao lado do governador de São Paulo, além da hipótese de participação em um eventual governo Tarcísio.

JANTARES E HOMENAGEM

Campos Neto jantou com o governador na casa do apresentador Luciano Huck, foi homenageado em outro jantar, no Palácio dos Bandeirantes, e sinalizou a Tarcísio que aceita ser seu ministro da Fazenda caso ele se eleja presidente da República.

Para a homenagem, na semana passada, o governador convidou alguns aliados, banqueiro e empresários. Campos Neto foi junto com sua família ao jantar.

Segundo relatos de presentes, o clima era ameno e descontraído. Nas conversas, Campos Neto era elogiado pela conduta à frente do BC, criticada por Lula.

Horas antes ele foi homenageado com o Colar de Honra ao Mérito Legislativo da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), maior condecoração da Casa. A honraria foi proposta pelo deputado bolsonarista Tomé Abduch (Republicanos), vice-líder do governo Tarcísio na assembleia.

Já na semana passada, aliados do presidente Lula foram às redes em protesto. Ex-presidente do PT, o deputado Rui Falcão (SP) foi um dos críticos. "Que vergonha esse presidente do BC! Além de sabotar nossa economia, virou sabujo do Tarcísio", postou.

Gleisi também protestou nas redes, mencionando reportagem da Folha. "Isso é que é a tal 'autonomia' do Banco Central: diz a Folha que Campos Neto faz campanha por Tarcísio Freitas para presidência e topa ser ministro da Fazenda. Aposta na deterioração da economia do país (que ele faz de tudo para atrapalhar) para favorecer o candidato de Jair Bolsonaro. E o cara ainda está sentado na cadeira de presidente do BC! Quando a gente diz que ele é político, jamais um técnico, ficou escancarado agora. Campos Neto não tem sequer resquício de autoridade para comandar o BC", escreveu Gleisi.