O primeiro debate na TV aberta do segundo turno em Londrina, organizado pela Tarobá nesta segunda-feira (14), foi marcado por um deserto de ideias e troca de acusações de corrupção entre a ex-secretária Maria Tereza Paschoal de Moraes, a Professora Maria Tereza (PP), e o deputado estadual Tiago Amaral (PSD).

Essa foi uma oportunidade para levar propostas para o eleitor - e com o desafio de diminuir a abstenção de mais de 111 mil londrinenses -, mas o debate acabou sendo uma extensão da propaganda eleitoral gratuita, que tem sido inundada por ataques.

O primeiro bloco possibilitou o confronto direto entre os prefeituráveis, que puderam perguntar com tema livre. Poucas ideias apareceram nesse trecho, já que os postulantes ao cargo de prefeito preferiram tentar atingir a imagem do adversário.

Tiago Amaral e Maria Tereza se revezaram nas acusações, e o “belinatismo” foi alvo do candidato do PSD, que manteve uma postura agressiva durante todo o bloco. A candidata governista se defendeu dizendo que suas contas foram aprovadas e que não é investigada. Em vários momentos, pediram para que os eleitores pesquisassem no Google o passado de seu adversário.

A posição ideológica dos prefeituráveis também foi pautada. Amaral tentou colar em Maria Tereza o rótulo de “petista” por ter recebido apoio da educadora Isabel Diniz (PT), e sua adversária lembrou que o deputado já foi filiado ao PSB no passado.

O primeiro sinal de proposta foi quando Tiago Amaral perguntou sobre a demanda por vagas em creches. Maria Tereza prometeu zerar a fila e construir novas unidades. Ele também perguntou sobre o atendimento à população em situação de rua, ao passo que a candidata propôs a integração da saúde, segurança pública e assistência social.

Questionado sobre o atendimento às crianças com deficiência, Tiago Amaral falou em criar um centro de diagnósticos e fazer a formação continuada dos professores. A candidata do PP lembrou de ações da gestão Marcelo Belinati (PP), como a contratação de 2 mil professores por concurso público e que 1,2 mil docentes de apoio atuam na rede municipal.

O analista político e professor Elve Cenci avalia que o debate teve natureza mais “belicosa” do que propositiva.

"O primeiro bloco foi de ataques mútuos e cada candidato tentando se defender. O debate foi uma extensão do que tem aparecido na propaganda eleitoral e nas inserções dos candidatos”, afirma Cenci, que aponta que várias informações ditas durante o debate “não correspondem à realidade”.

“Os candidatos traçaram suas estratégias ali buscando, principalmente, atingir o adversário e salvar a sua imagem perante as pessoas que estavam assistindo”, acrescenta.

POUCAS PROPOSTAS

No segundo bloco, com perguntas feitas pelos jornalistas da Tarobá, temas como a demora em obras públicas, o orçamento municipal, o incentivo ao esporte e o fortalecimento do setor de turismo foram pautados, mas novamente houve pouco desenvolvimento de ideias.

Tiago Amaral falou em fortalecer órgãos de controle e a central de licitações e alegou que “aditivos são sinônimos de corrupção”.

Sobre promessas incompatíveis com o orçamento, a candidata do PP citou seu trabalho à frente da Secretaria de Educação. “Sei como é feita a gestão do orçamento, quais princípios devem ser seguidos." Amaral questionou a merenda oferecida nas escolas do município.

No tema do esporte, ele disse que há descaso com os atletas de alto rendimento e de base na cidade. “Toda a carga é depositada no Feipe [Fundo Especial de Incentivo a Projetos Esportivos]." A candidata do PP citou o “Programa Vencer”, de esporte e cultura nas escolas.

O setor de turismo e eventos também foi pautado, sendo que Maria Tereza defendeu investimento em infraestrutura para incentivar o turismo religioso e descentralizar os eventos, por exemplo. Amaral disse que a gestão Belinati “acabou com a cultura”. “Vocês acabaram com o FILO”, afirmou o candidato, em referência ao Festival Internacional de Teatro, que tem o município como maior promotor.

Sobre mobilidade urbana, Tiago Amaral falou em reativar linhas do transporte coletivo no Nova Esperança e a candidata do PP questionou o fato de Londrina não receber recursos do governo do Estado para o transporte, como ocorre na RMC (Região Metropolitana de Curitiba).

Para o atendimento às crianças com deficiência no ensino municipal, Maria Tereza falou na contratação de novos professores - inclusive, com um novo concurso em 2026 - e no desenvolvimento de ações de inclusão, e citou parcerias com instituições londrinenses. O candidato do PSD criticou o atendimento feito pela Prefeitura. "Não tem profissional hoje para fazer diagnóstico", disse.

"O segundo bloco foi o bloco, eu diria, que restou alguma coisa para o eleitor, porque, com as perguntas, os candidatos se viram obrigados a apresentar propostas. No entanto, essas propostas eram permeadas também de ataques", pontua Cenci.

MAIS AGRESSÕES

Em mais um bloco de confronto direto, os ataques foram a tônica dos candidatos. Mas, nos momentos em que discutiram questões relacionadas à cidade, Maria Tereza defendeu a parceria do município com creches filantrópicas e Tiago ressaltou a necessidade de “simplificar a cidade” para atrair indústrias. Para a candidata do PP, é possível ampliar a industrialização e investir na formação de jovens.

“O terceiro bloco, assim como o primeiro, era um bloco de perguntas livres e, novamente, os candidatos remetiam ao Google: ‘Vejam as denúncias contra o meu adversário’. Então, eu diria que o grande protagonista da noite foi o Google”, aponta.

Cenci avalia que Tiago Amaral manteve uma postura ofensiva durante todo o debate, enquanto Maria Tereza buscou se defender e contra-atacar. “Ela foi um pouco mais propositiva”, acredita.

“O que todos esperávamos era um debate, um confronto de ideias, de projetos, de propostas, ou seja, quem governará melhor Londrina, pelo cotejo das propostas. O debate poderia ajudar para que o eleitor, não só os indecisos, mas também os que já fizeram sua escolha, pudessem ver a consistência das propostas de cada candidato e o seu preparo. Não foi isso que aconteceu. Infelizmente, uma oportunidade importante perdida”, completa.

DESAFIOS DO MUNICÍPIO

O advogado e cientista político Marcelos Fagundes Curti também destaca que o debate foi marcado por acusações “em detrimento da boa retórica”.

“Além de desnecessária, essa prática não contribui em nada para a resolução dos problemas e desafios do município”, afirma Curti, que entende que os prefeituráveis desperdiçaram uma oportunidade de discutir a cidade.

“A expectativa pelo lado dos eleitores, portanto, é que as propostas sejam apresentadas e debatidas com base em fatos verídicos, mediante o emprego de argumentos coerentes e que os dados estatísticos sejam fiéis à realidade. Infelizmente, não foi esse o tom do primeiro debate realizado no segundo turno”, finaliza.