A filantropia tem suas raízes em uma tradição de assistencialismo. Aquele gesto que se apresenta em forma de caridade e que, muitas vezes, se contenta em aliviar, de maneira superficial, as carências que saltam aos olhos. Porém, se pretendemos falar seriamente de impacto social empresarial — aquele que, de fato, transforma, precisamos nos afastar das migalhas de bondade baseadas em suposições rasas sobre a comunidade que nos rodeia. O verdadeiro engajamento comunitário exige mais - demanda uma postura estratégica, enérgica, pensada e repensada, que ultrapassa a mera filantropia. Ele exige que mergulhemos no "S" do ESG, para entender que o social não é apenas um conceito, mas uma prática viva e necessária.

Compreender, preocupar-se e agir em prol da comunidade ao redor de sua empresa ou organização não é, nem de longe, um bilhete premiado para o paraíso. Esses, na verdade, são atos de pura e refinada inteligência corporativa. Não é sobre espalhar recursos de forma aleatória, como quem joga moedas na fonte dos desejos, esperando um milagre qualquer. Falo da construção de relações sólidas que ecoam benefícios para todas as partes envolvidas.

Essa proximidade é uma chave que abre portas para um leque de oportunidades no mundo dos negócios. Na comunidade é possível descobrir novos talentos, refinar o conhecimento do mercado e, até mesmo, encontrar formas de reduzir custos operacionais. Aliás, mais do que isso, essa conexão permite também o desenvolvimento de novos produtos e serviços, feitos sob medida para atender necessidades específicas daquele contexto. Isso podemos chamar, sem medo de errar ou ser piegas, de inovação guiada pelo social.

Ainda assim, a realidade brasileira nos mostra que muitas empresas permanecem relutantes em adotar uma postura de engajamento estratégico com a comunidade. É curioso, mas um levantamento realizado durante a 22ª edição do Fórum HR First Class escancara essa resistência. A falta de investimento em impacto social surge como a maior barreira, apontada por 41,3% dos executivos participantes, mas sabemos que não é só uma questão de dinheiro. O que está em jogo aqui é visão, ou melhor, em muitos casos, a ausência dela. As empresas que ainda não se deram conta da importância do social em ESG estão negligenciando, com uma certa teimosia, a oportunidade valiosa de construir uma reputação sólida e positiva.

Os benefícios do engajamento comunitário estratégico são claros e vão além do valor imediato. De acordo com um relatório da McKinsey & Company, as empresas que se destacam nos critérios ESG têm maior valor de mercado, refletem maior eficiência e melhoram seu relacionamento regulatório. Em outras palavras, ao investir em relacionamentos comunitários, as empresas não apenas fortalecem sua reputação, mas também colhem frutos em termos de performance econômica.

Mas para que esse engajamento seja verdadeiramente transformador é essencial escutar a comunidade, respeitar seus valores e tradições, e, acima de tudo, amplificar as vozes, principalmente aquelas que moldam o dia a dia desse tecido social. O engajamento comunitário não é um capricho passageiro, muito menos um modismo de ocasião. É uma necessidade estratégica de sobrevivência e relevância. Aqueles que abraçam essa jornada estão assumindo o papel de protagonistas de um futuro mais justo, sustentável e inclusivo para todos. E é bom lembrar: empresas e organizações não são ilhas isoladas, mas partes intrínsecas da comunidade em que estão inseridas. Ignorar essa verdade é perder o próprio sentido de existir. Existimos em rede e é nela que nos inspiramos e apoiamos para construir um amanhã melhor.

Luciana Zanini, executiva, especialista em finanças, pessoas e negócios

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