O fantasma da inflação torna-se cada vez mais real, tanto nas prateleiras quanto em relação às notas que temos no bolso. Consumidores assombrados veem disparar os preços, sobretudo nos supermercados, porque os alimentos e as bebidas puxam a alta dos preços. Divulgado na última sexta-feira (23), o IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor - aponta um aumento de 0,94% nos preços, considerado o maior resultado para este mês desde 1995. No ano, a prévia da inflação acumulou 2,31%, atingindo 3,52 em doze meses.

A maior alta foi verificada no preço da carne (4,83%), seguida pelo óleo de soja (22,34%); arroz (18,48%); tomate (14,25%) e o leite longa vida (4,26%). Como se vê, quase todos itens básicos na mesa de qualquer consumidor. Houve redução nos preços da cebola (- 9,95%) e da batata inglesa (- 4,49%). Mas quem vive só de batatas?

Segundo os especialistas, a alta do óleo de soja deve-se em parte ao aumento do preço do dólar, que incide nas commodities, compradas a um preço menor para quem paga com a moeda norte-americana. Ou seja, aumenta-se a exportação a um preço mais baixo, mas o produto encarece no mercado interno. Também o auxilio emergencial oferecido pelo governo está focado na alimentação e, na equação geral, com aumento no nível de consumo, devido à possibilidade de compra, o que se vê é uma alta nos preços. O consumidor, literalmente, paga o pato de novo só porque tem comida à mesa.

O setor dos Transportes teve a segunda maior alta em outubro (1,34%), puxada pelos preços das passagens aéreas, que subiram 39,90% dando mostras de que os voos cancelados por causa da pandemia podem se refletir numa tentativa de se equilibrar as perdas cobrando mais do consumidor, o que não significa uma boa saída para a crise. O segundo maior impacto deve-se ao preço da gasolina, que subiu 0,85%. Os dados são todos do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -, que aponta uma forte aceleração da inflação em outubro em relação aos 0,45% registrados em setembro.

Com alta dos preços, o Índice de Confiança do Consumidor, medido pela FGV - Fundação Getúlio Vargas – também balança junto com os preços afixados nas gôndolas. Este índice caiu 1 ponto na passagem de setembro para outubro, atingindo 82,4 pontos numa escala de 0 a 200. Com isso foi interrompida uma sequência de cinco altas a partir de maio deste ano. Segundo os analistas da FGV, ainda há muita incerteza em relação à pandemia e à retomada da economia, o que abala os ânimos do consumidor. As pessoas de menor renda são mais vulneráveis e, portanto, menos confiantes que os demais.

Apesar de tudo, com a chegada das festas de fim de ano, é possível que os consumidores se animem um pouco se a indústria e o comércio também tiverem a sensibilidade de driblar a crise com as ofertas possíveis neste período do ano em que, tradicionalmente, as pessoas compram mais, o que, no entanto, fica difícil com preços maiores, menos dinheiro no bolso e a sombra duradoura do desemprego, que atinge 13,5 milhões de brasileiros.

No último trimestre do ano reside a última réstia de esperança de que as coisas melhorem um pouco e, no País e no mundo, se renovem as relações econômicas num ano especialmente difícil do qual, possivelmente, não sentiremos saudade.

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