Desde o último pleito eleitoral para a Presidência de República, o Brasil vive uma exacerbada polarização política extremamente conflituosa. A divisão ideológica entre a esquerda no poder e a extrema direita na oposição é de uma profundidade sem precedentes no período da redemocratização. Ataques pessoais generalizados entre as partes oponentes, com uma agressividade descomunal, se espalharam vigorosamente desde a cúpula partidária e governamental, chegando em nível do eleitorado e, de forma impensável, até o seio familiar. Um leque de ocorrências cruciantes que vai de ofensas morais a assassinatos de adversários político-partidários pontuou esse antagonismo inconsequente.

Lamentavelmente, esse quadro lancinante continua deveras ativo no cenário político nacional. Não há um diálogo sério, responsável e construtivo para amenizar as radicalizações e acordar um pacto de governabilidade em favor do povo brasileiro, principalmente das classes menos favorecidas. Nesse cenário de extrema intransigência política-ideológica, avizinha-se o pleito eleitoral para eleger os próximos prefeitos municipais de todo o país.

De um lado, o atual presidente da República já subiu no palanque, discursando em apoio aos seus correligionários candidatos e desafiando a legislação eleitoral ao insinuar, veladamente, o pedido de voto para seus apadrinhados. Nesse mesmo tom de campanha política, aproveitou o momento para insurgir contra o presidente do Banco Central do Brasil. Levianamente atacou Campos Neto acusando-o de trabalhar para prejudicar o país. Como de costume, teve que desdizer as suas afirmações para acalmar o mercado; um resultado desastroso para a economia e mais um constrangimento para a sua desgastada imagem e desacreditada autoridade.

Do outro lado, irresponsavelmente, a extrema direita inunda diariamente as redes sociais com uma enxurrada de escandalosas fake news. Mentiras deslavadas, vídeos grosseiramente editados e notícias falsas são armas sujas que fazem parte do engodo que serve para iludir os eleitores incautos e desinformados. Maldosamente, essas postagens são amplificadas nas redes pelos adeptos do extremismo ideológico, com o propósito de confundir e induzir os imprudentes ao erro e ao desconhecimento da verdade.

Por aqui, no nosso quintal, as bravatas continuam ganhando espaço na nossa Câmara Municipal. A atual legislatura, que ficou marcada pela prodigalidade em projetos ridículos, ainda não conseguiu esgotar o seu estoque de bizarrices.

Tramita na Casa um projeto de lei tornando obrigatória a instalação, no prazo de 180 dias, de tela protetora nas janelas e varandas de todos os apartamentos de Londrina, dos prédios já existentes e dos que forem edificados doravante. O vereador autor desse despautério deveria atentar-se para o óbvio de que a instalação desse acessório é da vontade exclusiva dos moradores; ninguém pode obrigar quem não precisa ou não quer o dispositivo no seu imóvel.

Imagino que tal proposta não se trata de um lobby, mas que têm muitos fabricantes e instaladores dessas telas torcendo pela aprovação da lei, não há a menor dúvida. Vejamos os números dessa empreitada. Segundo o Censo do IBGE, Londrina tem em torno de 63 mil apartamentos. Conforme estimativa, 30 mil deles já possuem esses aparatos de segurança. Portanto, se a lei for aprovada, os demais 33 mil deverão providenciar o dispositivo em 180 dias; serão 200 instalações por dia trabalhado, numa meta ambiciosa para a exiguidade do prazo estipulado.

Considerando um apartamento médio, o custo para instalação das telas é de aproximadamente 900 reais por unidade, perfazendo um total estimado em 30 milhões de reais, montante esse significativamente oneroso para os londrinenses que serão obrigados a cumprirem a lei. É preciso levar em conta, ainda, que esses cálculos não contemplam as novas moradias desse tipo, que diariamente entram no mercado. Com certeza, o edil não conseguiu enxergar a inconveniência, o despropósito e a absurdeza do seu projeto de lei.

E a caça ao voto está apenas começando!

Ludinei Picelli, administrador de empresas

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