As mudanças climáticas têm sido objeto de crescente preocupação global, e hoje não há como negar que estamos no centro dessas mudanças, devido às suas consequências devastadoras pelo mundo afora. Neste contexto, este ensaio se propõe a analisar as manifestações previstas das reações climáticas, sobretudo no contexto da influência da modernidade capitalista sobre a biodiversidade planetária.

Ao longo de milhões de anos, as águas, os rios, as chuvas, os mares e oceanos, o Ártico e a Antártica, os ventos, as árvores, os animais, o frio e o calor coexistiram em um equilíbrio relativo na biosfera. Contudo, a ascensão da espécie humana marcou uma transição significativa nessa dinâmica. Inicialmente, a convivência era harmoniosa e respeitosa com os sistemas naturais. Houve muitos estragos, não há como negar, porém, como existia baixa população e, poucos recursos materiais e tecnológicos os impactos eram, de uma forma ou de outra, assimilados pela natureza, possibilitando sua recomposição a cada investida humana.

Entretanto, a modernidade capitalista, assim com definimos nosso tempo, impulsionou uma transformação acelerada, caracterizada pela intensificação da exploração, industrialização, poluição, contaminação, desmatamento e urbanização desenfreada. Aumenta a oferta de produtos ao mercado e estimulando o consumo. Assim cada vez mais estimulando o desejo de consumir novos produtos que impactam desde sua origem ao consumo final. Este período, mais do que uma simples Era do Antropoceno, é agora identificada como o a Era de "capitaloceno", evidenciando a hegemonia dos valores de expansão, consumo, poder, lucro e acumulação em detrimento da preservação do patrimônio natural existente em toda a superfície planetária, dos oceanos, rios, terras, flora e fauna.

Sabe-se, com segurança científica, que a redução das emissões de gases de efeito estufa é a principal medida para frear a crise climática do momento e dos próximos anos.

O que esta acontecendo no RS neste mês de maio de 2024, é o resultado deste conjunto de extremos que estão ocorrendo. Elevação e aquecimento de água dos mares, desmatamento, flexibilização das leis ambientais, falta de planejamento e investimento preventivo para conter, frear as mudanças climáticas.

Os impactos desse paradigma capitalista e moderno, hoje manifesto em seu mais alto teor, são visíveis em todo o mundo, manifestando-se em eventos climáticos extremos que afetam diretamente e indiretamente a humanidade. Os estudos do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU), com suas análises e relatórios. As COPs, Conferências do Clima, centenas e milhares de estudos e relatórios de centros de pesquisa, de universidades tem demonstrado que tais eventos são resultado direto da ação humana orientada pela lógica capitalista, a qual se intensifica na emissão de gases causadores do efeito estufa, e de sua lógica de expansão. Tudo visando intensificar a produção e os ganhos econômicos sem considerar as conseqüências ambientais.

Diante desse cenário, urge pensar e criar um novo paradigma de produção e de vida que priorize a sustentabilidade e o respeito a todas as formas de vida que convivem na biodiversidade planetária, pois elas formam uma grande Teia da Vida (Capra, F.) que de sua forma se organiza e se articula com a vida dos humanos. Isso requer uma mudança profunda nos padrões de produção, consumo e governança, bem como uma abordagem holística que integre saberes éticos e responsáveis de nossa heterogeneidade cultural.

A promoção de uma cultura sustentável, no qual vemos como uma das únicas prioridades de nossos desafios que temos nos próximos anos, implica não apenas na adoção de práticas ambientalmente conscientes, mas também na valorização da vida, fora da vida humana, em suas dimensões micro e macro, reconhecendo a interdependência entre todos os seres vivos e os sistemas naturais que sustentam a vida neste planeta.

Nessa Era Sustentável não será a competição, o individualismo, a ganância e o descaso que irão comandar nossas atitudes, nossos comportamentos e sim, a cooperação, o coletivo, a partilha, e a preocupação com as causas comuns. Assim configurar-se-á um novo modo de viver e conviver de forma empática, ética e responsável.

A transição para uma sociedade sustentável exige um compromisso coletivo com a mudança, inovando e respeitando os limites planetários, e sua capacidade regeneradora diante da presença humana, visando garantir um futuro habitável, saudável para as gerações presentes e futuras. Pois, segundo informações e análises da NASA, em relação às possibilidades de existir um planeta conhecido que possa abarcar a vida humana, ainda esta no plano da ficção. Por isso que só há, por mais alguns séculos apenas, este planeta que chamamos de Terra, para estabelecer o percurso de nossas vidas.

Paulo Bassani é cientista social ambiental