Desde a sua fundação, já foram dezesseis os baleados, entre presidentes e candidatos, resultando em cinco mortes. Talvez os dois casos mais famosos tenham sido Abraham Lincoln, que morreu no dia seguinte ao que foi baleado. Ele foi o 16º presidente dos Estados Unidos, vencedor da Guerra de Secessão, emancipador dos negros e o primeiro presidente assassinado da história americana.

E o outro, que todos bem lembramos, foi em 22 de novembro de 1963, em Dallas; John F. Kennedy estava numa carreata com sua esposa Jackie, quando foi morto. Os EUA são, de fato, um país violento desde a sua origem. A sua independência deu-se pelo conflito; depois veio a guerra civil, mas já anteriormente, a devastação e o genocídio dos povos originários! São uma nação armada que promove guerras pelo mundo afora desde o início do século XX.

A maioria dos americanos ou de seus familiares já viveram incidentes relacionados à violência armada. Este é um dos dados do relatório inédito apresentado pela autoridade máxima de saúde dos Estados Unidos, que foi base para a decisão de declarar a “violência armada” uma crise de saúde pública no país!

Desde 2020, esse tipo de violência é a principal causa de morte de crianças e adolescentes entre 1 e 19 anos, superando as mortes por acidentes de trânsito, câncer e overdose de drogas ou intoxicações por medicamentos. Não é pouca coisa. Nos EUA, para cada um milhão de pessoas com idades entre 1 e 19 anos, são registradas 36,4 mortes por armas de fogo. Nos outros países, não passa de 0.5!

O rapaz que atentou contra Trump tinha uma AR-15 em suas mãos! Com 20 anos! O Partido Republicano, totalmente sequestrado pela vítima do atentado, é ironicamente adepto de mais armas na população civil! Por óbvio, que a facilidade na aquisição de armas não seja a única razão da violência doméstica; porém, é um dado em si preocupante confirmado pelas estatísticas! Isso é a ponta do iceberg de uma sociedade classista, racista e xenófoba, onde cristãos supremacistas brancos elitistas abominam emigrantes, sendo que eles também o foram!

A vitória de Trump seria a derrota do bom senso, da democracia e dos direitos civis. O seu último mandato foi um ligeiro aperitivo do que fará se vencer no Congresso e ampliar ainda mais os membros favoráveis da Suprema Corte. Ele é expressão máxima do ódio ao pacto civilizatório e a vontade explícita de corroer todas as Instituições, nacionais e internacionais.

Os conflitos bélicos em andamento poderão ter um desfecho que origine mais apreensão e insegurança no mundo. Se a Ucrânia se vir obrigada a capitular perante a Rússia, renunciando aos territórios já ocupados, abrirá uma brecha para que outros eventos similares aconteçam, envolvendo inclusive os EUA. Se Gaza desaparecer do mapa, a paz tão almejada no Oriente Médio não será apenas uma quimera, mas impossível! Se a OTAN se encontrar confinada aos países europeus, o pêndulo desta guerra fria 2.0 não terá equilíbrio. Trump com as suas declarações flerta com a barbárie.

A bala que por milímetros não eliminou Trump também se transformou num excelente elemento teológico para a vítima e seus seguidores. Foi Deus. Foi Deus que impediu a tragédia! Botar mão deste recurso não é um ato exclusivo de Trump! Os extremistas sempre se apresentaram ao mundo como “enviados do além” para salvar, seja o que for! Salazar, Mussolini, Franco, Hitler e tantos outros encarnaram-se no papel messiânico de escolhidos e enviados! Um deus minúsculo, que preserva uns e olvida outros! O mesmo que desviou a bala de Trump é omisso em relação às crianças palestinas! Ou aos jovens que caem inertes nas estepes da Ucrânia! Mas funciona! As hordas assanhadas precisam de combustível (fóssil) para se manterem ululantes e agressivas. Quando Deus é invocado, caem por terra todos os argumentos!

Deste lado tupiniquim, o que temos a ver com isso? Tudo! Um espirro em Washington faz o dólar subir, a inflação disparar e o feijão ficar mais caro! Por isso, seria bom que Kamala Harris mandasse um criminoso condenado e mentiroso contumaz para o lixo da história.

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina

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