O Norte do Paraná, uma das regiões mais produtivas do Brasil e do mundo, é resultado do projeto de colonização desenvolvido pela CTNP (Companhia de Terras Norte do Paraná), criada por investidores britânicos na década de 1920. A empresa, que ampliou as atividades para a exploração do transporte ferroviário por meio da CFSP (Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná), foi adquirida por empresários paulistas duas décadas depois por imposição do governo da Grã-Bretanha, que exigiu a repatriação do capital de seus concidadãos para custear os esforços de guerra contra o nazismo.

Vinte e um de agosto de 1929 marca o início do processo de colonização. Nessa data, acampou, com a missão de abrir uma clareira que permitisse a instalação do núcleo inicial do projeto, que abarcava 546 mil alqueires, o primeiro grupo de funcionários da CTNP.

Esse grupo era chefiado por um jovem de 20 anos, de ascendência inglesa, George Craig Smith. Ele tinha sob seu comando o engenheiro agrimensor russo Alexandre Razgulaeff e seu auxiliar Spartaco Bambi, que viajou acompanhado da esposa e um filho; o cozinheiro alemão Erwin Frölich; Geraldo Pereira Maia e Joaquim Barbosa e o português Alberto Loureiro, que comandava a equipe encarregada de derrubar a mata e erguer os primeiros ranchos.

Não se sabe o número exato dos integrantes da comitiva, que viajou de Ourinhos a Jataizinho em caminhonetes que desafiaram as armadilhas da Serra Morena, transpôs o Rio Tibagi em canoas que rebocavam as mulas e completou o trajeto a pé, guiada por índios, até o local do acampamento, batizado de Marco Zero – e preservado até hoje.

A colonização do Norte do Paraná foi uma epopeia que uniu capitalistas ingleses e depois brasileiros, funcionários dedicados da colonizadora e colonos e empresários avulsos. Os primeiros visavam ao lucro, os segundos à correspondência a seus salários e em busca de eventuais promoções, os colonos a um quinhão da riqueza que a fertilidade do solo proporcionava, desde que adubado pelo trabalho, e os empresários avulsos, com predominância dos comerciantes e prestadores de serviços, à prosperidade econômica.

Não houve heróis, mas homens e mulheres abnegados e estoicos, que se se submeteram a todo tipo de sacrifício e privação para se impor ao desafio de substituir a floresta pela agricultura e dela tirar proveito. Esse objetivo coletivo seria mal visto hoje, pois a preservação das reservas naturais ocupa lugar de destaque na agenda política e econômica, mas estávamos no início do século passado, com abundância de terras férteis a serem exploradas e muita, muita área preservada.

Não houve heróis, mas personagens decisivos para que o projeto colonizador fosse viabilizado e tivesse êxito. Tudo começou com o major Antônio Barboza Ferraz, dono de uma fazenda de café em Cambará, que convidou o escocês Simon Frazer, o lorde Lovat, para se associar à CFSP. Lovat recusou o convite, pois seu interesse eram comprar a fazenda do major, que recusou vendê-la, mas foi convencido pelo engenheiro paulista Gastão Vidigal Filho a colonizar a região inexplorada entre os rios Tibagi e Ivaí. E depois a assumir o controle da empresa ferroviária. Vidigal foi um dos empresários que comprou a CTNP e a CFSP com a saída dos britânicos.

George Smith é o personagem que desponta entre os pioneiros por sua condição de líder do que se convencionou chamar de “caravana pioneira”, participação nos primeiros esforços para consolidar o núcleo urbano que daria origem a Londrina e retorno à cidade, 40 anos depois de deixá-la por motivos pessoais. Ao voltar, transformou-se, por testemunhar e fornecer documentos, em “guardião da história”.

Smith, seus colegas da “caravana pioneira” e todos os que participaram dessa epopeia fizeram História. O chefe da caravana sintetizava seu papel recorrendo a um pensamento de William Shakespeare: “Alguns nascem grandes, outros conquistam a grandeza e ainda outros têm a grandeza jogada por cima deles”.

José Antonio Pedriali, jornalista e escritor