A cinco meses das eleições municipais, muitos se perguntam qual o impacto que a tragédia climática no Rio Grande do Sul terá na escolha dos prefeitos e vereadores dos mais de 5,5 mil municípios brasileiros.

A FOLHA foi atrás dessa resposta e perguntou para pesquisadores e especialista em comunicação política. Para eles, o desastre ambiental no Rio Grande do Sul deverá colocar a pauta ambiental no centro dos debates das eleições deste ano, ao lado de temas como saúde e educação, mas os resultados não deverão gerar grandes mudanças a curto prazo.

O compromisso de grande parte da classe política com atividades que degradam o meio ambiente e a falta de percepção de parte considerável do eleitorado sobre a relação entre as políticas públicas e os efeitos das mudanças climáticas são dois fatores que podem inviabilizar as mudanças já para as eleições de outubro.

Uma pesquisa do instituto Quaest divulgada na semana passada indicou que 99% da população brasileira acredita que as enchentes no Sul do país têm ligação com as mudanças climáticas. A maior parte dos entrevistados, 64%, avalia que a crise climática tem ligação total com o excesso de chuva e as inundações, e 30% acham que a ligação é "em parte" causada da pelas mudanças globais de temperatura. Só 1% dos ouvidos disseram acreditar que não há nenhuma relação.

Mesmo assim, dificilmente essa percepção deverá se traduzir em votos – seja pela falta de opções entre os candidatos, seja pela divulgação de notícias distorcidas ou mesmo pelo compartilhamento de fake news em relação ao assunto.

“Quando essas tragédias acontecem, as pessoas de uma hora para outra começam a ter essa percepção de que elas decorrem das mudanças climáticas. Mas o que vemos entre candidatos a prefeito e a vereador é que essa pauta está muito longe da nossa realidade brasileira”, diz Miguel Etinger, doutor em Direito das Cidades e professor de Direito Ambiental e Urbanístico, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável na UEL (Universidade Estadual de Londrina).

O publicitário e especialista em marketing político Mauricio Ramos concorda que a percepção em relação à catástrofe colocará a pauta ambiental na campanha, mas diz que será preciso analisar bem os discursos. “Mesmo pessoas que não têm compromisso histórico com o meio ambiente, e que aliás têm até um histórico de desenvolver políticas depreciativas ou negacionistas, adotarão posturas diferentes, mas que com certeza não passarão de discurso de campanha”, diz.

Ele ressalta que caberá ao eleitor avaliar se há compromisso real por parte do candidato ou se tudo não passará de um discurso.

O fato é que a população está atenta e analisando a eficiência da resposta governamental à tragédia, a eficácia das ações de emergência e o suporte oferecido às vítimas. Isso pode pesar para o pleito de 2026. Em tempos de crise, a liderança é posta à prova, e a capacidade de agir de forma rápida e eficaz pode determinar sucesso ou o fracasso.

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