Não sei vocês, mas a minha sensação é que, ultimamente, estamos vivendo uma era de Ctrl C + Ctrl V da beleza. A cada dia, vejo mais e mais pessoas tentando replicar o que veem na tela do celular com a facilidade de um comando de teclado: copiar e colar. Basta uma influenciadora postar uma foto de biquíni, mostrando os resultados de uma cirurgia recente no abdômen, e, em questão de segundos, milhares de comentários aparecem.

A rapidez com que essas imagens se transformam em padrões de beleza desejados é, no mínimo, surpreendente. E com isso, surge um fenômeno curioso nas clínicas de cirurgia plástica: pedidos cada vez mais frequentes e específicos para copiar exatamente os atributos das celebridades das redes sociais. "Doutor, está vendo essa foto? Faça igual!" Parece absurdo, mas com frequência escuto frases como essa.

E aí, cabe muitas vezes ao médico o papel de explicar que cada corpo é uma obra única, com características próprias, limitações e possibilidades. Transformar-se numa cópia exata de outra pessoa não é apenas um desejo irreal, mas pode ser profundamente prejudicial, gerando sofrimento e frustrações irreparáveis. A medicina estética não só deve, como precisa honrar a individualidade, buscando realçar o que cada um tem de melhor, ao invés de apagar suas singularidades em nome de uma beleza inatingível.

Há algum tempo, os ideais de beleza eram ditados pelas modelos nas capas de revistas. Hoje, são os influenciadores digitais que tomam esse papel. As fotos nas redes sociais, porém, frequentemente, passam por edições, recebem filtros e, muitas vezes, não refletem a realidade do corpo da celebridade. Esses artifícios criam expectativas ainda mais irreais, alimentando um ciclo incessante de insatisfação e comparações destrutivas.

Como cirurgião plástico, minha responsabilidade vai muito além de realizar procedimentos estéticos. É essencial ter uma conversa honesta com cada paciente, explicando não apenas o que é possível fazer, mas também o que não pode ser feito. Essa honestidade é crucial para evitar frustrações e garantir resultados que sejam, ao mesmo tempo, factíveis e seguros. É preciso cuidado, empatia e, principalmente, responsabilidade para dizer a um paciente: "Podemos ir até aqui, mas daqui não vamos passar." Limites! Limites do corpo, da mente, da saúde...

Inspirações podem e devem existir, mas precisam ser tratadas como tal – inspirações, não moldes a serem copiados. A reflexão aqui não é sobre o direito de cada um sobre seu corpo e de buscar caminhos que o agradem, mas sobre a perda da individualidade. Como profissionais da saúde, nossa missão é ajudar nossos pacientes a encontrar e valorizar a individualidade, ao invés de perpetuar um ciclo de imitações quase fordistas e expectativas irreais. Afinal, a beleza não está no Ctrl C + Ctrl V, mas na capacidade de ser você mesmo, da melhor forma possível.

Guilherme Ribeiro, cirurgião plástico