Washington - A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, que é parceira de chapa para as eleições de novembro ao lado de um enfraquecido Joe Biden, e possível candidata caso o democrata se retire da disputa, tem navegado habilmente na política nos últimos dias. "O candidato democrata em 2024 deveria ser Kamala Harris", escreve o ex-democrata Tim Ryan em um artigo na Newsweek.

Mas Biden ainda não se manifestou. "Joe Biden é nosso candidato, derrotamos Donald Trump uma vez e vamos derrotá-lo novamente", declarou ela na terça-feira (2) à CBS News, afirmando estar "orgulhosa" de fazer campanha ao lado do presidente dos Estados Unidos.

Após o desastroso debate de Biden contra Trump na quinta-feira passada (27), a democrata de 59 anos saiu imediatamente em sua defesa, dizendo que o presidente dos Estados Unidos teve um "começo lento", mas "terminou com força".

A primeira mulher afro-americana e asiática a se tornar vice-presidente dos Estados Unidos substituiria automaticamente o presidente em caso de morte ou incapacidade do democrata de 81 anos. Mas isso não garante que ela seria automaticamente a candidata à Casa Branca se Biden se retirar da corrida, algo que ele não tem intenção de fazer no momento.

"Durante três anos e meio, sempre houve o rumor de que o candidato democrata deveria ser alguém que não fosse a vice-presidente", afirma Ange-Marie Hancock, professora de ciência política na Universidade de Ohio. É possível que "uma corrente subterrânea de racismo e sexismo" esteja colocando obstáculos para Kamala Harris, estimou.

A ex-procuradora-geral da Califórnia tem sido há muito tempo menos bem vista do que o governador deste estado, Gavin Newsom, ou a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer. Muito tem sido dito na imprensa americana sobre os erros cometidos no início de seu mandato, sobretudo a nível diplomático, e sobre as tensões dentro de suas equipes.

No entanto, a especialista considera que a situação pode mudar, principalmente porque Harris tem visitado os estados mais disputados do mapa eleitoral há mais de dois anos, em especial para promover o direito ao aborto.

Considerada às vezes pouco convincente como oradora, a vice-presidente foi recebida com entusiasmo em suas visitas às universidades, especialmente nas instituições que acolhem estudantes de minorias.

Se Biden decidir se retirar, a vice-presidente deve desempenhar um papel importante durante a convenção democrata em Chicago em agosto. Nesta hipótese, ainda incerta, Harris provavelmente não seria a única opção. A vice-presidente já está "bem no radar do Partido Republicano", segundo Ange-Marie Hancock.

Nesta quarta-feira, Donald Trump voltou a divulgar um vídeo editado com quedas e momentos de confusão de Joe Biden, questionando sua capacidade de passar "mais quatro anos" na Casa Branca. O vídeo é concluído com a seguite pergunta: "E você sabe quem está esperando atrás dele, não sabe?", com imagens de Kamala Harris gargalhando ao fundo.

PESQUISA

Na terça-feira (2), uma pesquisa divulgada pela CNN mostrou que Harris está em melhor posição do que Joe Biden, mas não venceria o republicano Donald Trump. Ela recebe 45% das intenções de voto contra os 47% do ex-presidente republicano de 78 anos.

O presidente Biden receberia apenas 43% contra os 49% de seu antecessor, o mesmo percentual de outra pesquisa publicada nesta quarta-feira pelo New York Times/Siena College. A mesma pesquisa mostra que Michelle Obama, esposa do ex-presidente Barack Obama, supera Donald Trump por 11 pontos percentuais em uma possível disputa, marcando 50% contra 39%.