O método Wolbachia, nova tecnologia de combate ao vírus da dengue e de outras arboviroses, deve começar a ser implantado ainda neste mês em Londrina, de acordo com informações da WMP (World Mosquito Program), responsável pela soltura dos mosquitos. Neste período epidemiológico, o município contabiliza quase 37 mil casos confirmados e 52 óbitos por dengue.

Líder de Operações da WMP Brasil, Gabriel Sylvestre explica que o espaço que vai abrigar a biofábrica, no Jardim São Francisco de Assis, zona oeste de Londrina, ainda está passando por ajustes e a expectativa é de que até o final do mês eles possam dar início à produção do mosquito. “Com a possibilidade das liberações ainda neste mês”, aponta.

A Wolbachia é um microrganismo intracelular presente em cerca de 50% dos insetos da natureza, mas que não está no Aedes aegypti. Quando presente nestes mosquitos, ela impede que os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela se desenvolvam dentro do inseto, contribuindo para redução destas doenças.

Sylvestre explica que 30 dias após a soltura dos mosquitos começa a fase de monitoramento em campo, que segue até o segundo semestre de 2025. Segundo ele, o processo é feito através da coleta de larvas do mosquito Aedes aegypti, que serão analisadas para confirmar a presença ou não da bactéria nos organismos dos mosquitos. “Assim nós sabemos como está sendo o estabelecimento dos mosquitos da Wolbachia ”, detalha.

De acordo com o gestor serão liberados mais de 2,9 milhões de mosquitos adultos contaminados com a bactéria por semana em todos os bairros da região norte, assim como em áreas das regiões sul, leste, oeste e central. “Os mosquitos são distribuídos pelos territórios de forma a garantir que a wolbachia consiga se estabelecer nesses locais e garantir a proteção da população”, aponta, complementando que, além da dengue, doenças como febre amarela, zika e chikungunya são afetados pela bactéria.

A expectativa é de que a liberação seja concluída em 20 semanas. “A partir do momento em que a maioria dos mosquitos tem a wolbachia, eles próprios vão fazer o trabalho de aumentar a frequência dessa bactéria na população local de mosquitos através da reprodução”, explica.

WOLBITOS

O trabalho de engajamento sobre o método começou em abril e se estendeu até o mês de junho, em que mais de 130 mil pessoas receberam informações sobre o método e puderam responder a uma pesquisa, que registrou 96% de aprovação quanto à utilização da bactéria no controle da dengue. Ao todo, 290 mil pessoas serão beneficiadas diretamente com a soltura dos mosquitos.

Os wolbitos, como são denominados os mosquitos, carregam uma bactéria chamada Wolbachia, que dá nome ao método. Após a soltura dos animais contaminados, a bactéria se espalha durante a reprodução, o que impede que o mosquito desenvolva o vírus da dengue.

Gabriel Sylvestre destaca que a Wolbachia deve ser vista como um método complementar de combate às arboviroses, sendo necessário continuar adotando outras formas de evitar a proliferação do mosquito. “O método Wolbachia não envolve nenhuma manipulação genética”, aponta, complementando que o wolbito não é transgênico e utiliza um método natural através de uma bactéria que não traz malefícios ao ser humano ou ao meio ambiente, mas que garante a proteção contra diversos vírus.

INICIATIVA INTERNACIONAL

O World Mosquito Program é uma iniciativa internacional sem fins lucrativos que trabalha para proteger a comunidade global das doenças transmitidas por mosquitos. No Brasil, o Wolbachia é conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz, com financiamento do Ministério da Saúde, em parceria com os governos locais.

Esse método foi desenvolvido na Austrália e, atualmente, está presente em mais de 20 cidades de 14 países. Além disso, os dados de monitoramento revelam que os Wolbitos estão se estabelecendo em níveis muito positivos nos territórios. Na Austrália, houve redução de 96% nos casos de dengue.

Além de Londrina, Foz do Iguaçu (Oeste) também está entre os seis municípios selecionados de todo o Brasil nessa nova fase. Uberlândia (Minas Gerais), Presidente Prudente (São Paulo), Natal (Rio Grande do Norte) e Joinville (Santa Catarina) também participam do projeto. (Com AEN)