Com as obras paradas há nove anos, o esqueleto do que era para ser o Teatro Municipal de Londrina traz insegurança para quem vive na região leste da cidade e se desgasta com a ação da chuva, do sol e do vento. Projetada por um arquiteto de São Paulo, apenas 10% da obra foi entregue, custando pouco mais de R$ 8,4 milhões. Há quem opine que a obra nunca deveria ter saído do papel; por outro lado, outros desejam que Londrina tenha um teatro para chamar de seu.

Buscando uma solução para o imbróglio, o Rotary Club Londrina Norte procurou a FOLHA para sugerir a criação de uma Escola de Belas Artes, utilizando como base a estrutura já existente. Elias Ribeiro, presidente do clube, conta que a ideia dos membros e associados do grupo é que o projeto inicial seja alterado e dê lugar a uma escola de teatro, música, dança, escultura e pintura. Segundo ele, o teatro faria parte do conjunto, mas trazendo à comunidade algo que vai além das performances.

Segundo ele, o espaço seria de fato uma escola, que oferta a teoria aliada à prática. Como vantagem desse tipo de espaço, ele cita que Londrina não precisaria aguardar apenas os festivais de música e de teatro para oferecer à comunidade atividades culturais. Para Ribeiro, a Escola de Belas Artes poderia ter eventos semanais abertos ao público e com ingressos simbólicos como forma de devolver o investimento à população.

José Machado Botelho, secretário da atual gestão do Rotary, também acrescenta que o espaço poderia ser um local de democratização da cultura e da arte, já que a ideia é que todo o projeto seja gratuito e destinado, principalmente, à população dos bairros mais carentes. “Nós queremos estimular a juventude da região porque daqui a pouco podemos ter um violinista, um ator”, destaca.

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Quando foi orçada, entre os anos de 2011 e 2013, era estimado que a obra fosse custar R$ 80 milhões. Para os membros do Rotary Londrina Norte, caso o projeto seja adaptado para sediar uma escola, o valor investido poderia ser menor e a Prefeitura de Londrina poderia buscar apoio de deputados e do Estado e da União para concluir e gerir o espaço.

“Você tem que vender a ideia para que a comunidade se desperte para as possibilidades. Nós temos que comprar essa briga para que ela chegue a todo mundo: primeiro é querer, depois é ir atrás do como [fazer]”, afirma, citando a importância do engajamento da população e da discussão da ideia em veículos de comunicação.

Botelho destaca que o objetivo do Rotary Londrina Norte é provocar a comunidade e o poder público. “Nós estamos fazendo uma proposta que deve superar, ser mais ampla, gratificante e original para a cidade [do que o teatro]”, ressalta.

José Pedro da Rocha Neto, membro do clube, complementa que a função do Rotary é dar ideias que tenham prevalência e que atendam à cidade. “Que o dinheiro que ela [Prefeitura] vai buscar para o teatro, que busque para essa outra finalidade, que vai atender melhor à comunidade”, destaca.

A diretora de Patrimônio Artístico e Histórico-Cultural da Secretaria de Cultura de Londrina conta que o projeto do Teatro Municipal é resultado de um concurso nacional proposto pelo IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil) em 2007. O vencedor foi o arquiteto Thiago Nieves, de São Paulo. Com o início das obras em 2012 e a paralisação em 2014, o local hoje permanece largado às traças.

Segundo a diretora, desde então, a prefeitura vem buscando uma solução para dar continuidade ao teatro, inclusive com a atualização do projeto inicial. Ela ressalta que eles estão em contato com o arquiteto responsável pelo projeto original para que ele faça a atualização, levando em conta as novas tecnologias e materiais. “Ele [arquiteto] tem interesse porque é uma obra grande e importante para a cidade”, afirma.

Apesar do interesse, há todo um processo até que as partes cheguem a um acordo, inclusive em relação a valores, que não foram detalhados pela diretora. O projeto inicial tinha 22 mil metros quadrados de área construída, sendo dividida em dois auditórios, sala multiuso, outro bloco com diversas salas e um estacionamento coberto, que é definido por Batigliana como uma “obra de grande vulto”.

Ao ser questionada sobre a possibilidade de que a estrutura do teatro seja readequada para sediar uma Escola de Belas Artes, ela ressalta que as salas multiuso podem ser utilizadas para ministrar cursos na área das linguagens artísticas. “O projeto da forma que foi pensado contempla isso, sem a necessidade de abandonar a questão de que a gente pode ter um Teatro Municipal construído com essa finalidade”, ressalta.

Solange Batigliana acrescenta que a ideia proposta pelos membros do Rotary Norte poderia ser agregada aos serviços que o complexo ofereceria. “Tem a possibilidade de contemplar tanto a área da performance quanto das linguagens artísticas”, explica.

Apesar da retomada das conversas com o arquiteto, a diretora afirma que ainda não é possível falar em prazos e nem no que de fato será feito com a estrutura. Além disso, só é possível saber os valores revisados para finalizar a obra com a atualização do projeto.