Ribeirão Preto - A cada década de vida aumenta chance de um homem ter problemas para ter ou manter uma ereção em relações sexuais. Mesmo após 24 anos da descoberta de remédios para impotência, o medo de envelhecer ainda é um problema para alguns, como aponta a fala do presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) nesta quarta-feira 7 de Setembro.

Também candidato à presidência, Bolsonaro entoou um coro de "imbrochável" após beijar a primeira-dama na presença de milhares de seguidores, como se não ter um problema de disfunção erétil fosse uma "vantagem" eleitoral e de personalidade.

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Na idade de Bolsonaro, 67 anos, o índice de indivíduos do gênero masculino com disfunção erétil é próximo a 70%, mostram estudos.

O artigo norte-americano "Aging related erectile dysfunction" (Disfunção erétil relacionada ao envelhecimento, em português), divulgado na publicação internacional "Andrologia e Urologia Translacional" em 2017, por sua vez, afirma que "a disfunção erétil visitará todo homem em algum momento de sua vida."

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Segundo os autores, médicos de instituições acadêmicas de Los Angeles, na Califórnia (EUA), o que varia é a idade em que isso acontecerá, pois depende de fatores genéticos e externos, como a qualidade de vida. Uma vez instalada, a disfunção "tende a ficar para sempre", segundo o artigo.

A estimativa apontada no estudo é de que aos 40 anos, um homem tem cerca de 40% de chances de ter algum tipo de disfunção erétil e essa prevalência aumenta cerca de 10% a cada década que passa, ligando o transtorno ao envelhecimento normal humano e do sistema vascular.

Um trabalho de 1994, feito com 1290 homens com idade de 40 a 70 anos apontou que em média 52% dos participantes avaliados sofriam com algum tipo de impotência.

Chamado de Estudo de Envelhecimento Masculino de Massachusetts, o trabalho foi conduzido por médicos de Boston no final da década de 90 e se tornou uma das bases para futuras pesquisas sobre o tema.

O estudo mostra que cerca de 60% dos homens na faixa dos 40 anos não terão impotência, sendo que aos 70 anos aproximadamente 33% não passarão por problemas de disfunção erétil. Os sintomas iniciais incluem perda do desejo sexual e dificuldade de ter ou manter a ereção durante o sexo, entre outros.

Na Turquia, um levantamento publicado no Jornal Turco de Urologia de 2017 feito com 2.760 homens com idade média de 54,2 anos mostra que o quadro pode ser ainda mais grave após os 70 anos de idade.

Nessa faixa etária, 82,9% dos entrevistados relataram episódios de disfunção erétil de moderada a grave, diz o artigo "Prevalence of erectile dysfunction in men over 40 years of age in Turkey" (Prevalência de disfunção erétil em homens com mais de 40 anos na Turquia, em português).

TRATAMENTO

O médico e sexólogo Gerson Lopes, co-autor do livro "Sexualidade e Envelhecimento", diz que com o passar do tempo as modificações no corpo ficam cada vez mais nítidas e o indivíduo não deve sentir-se mal por isso, mas sim buscar tratamento.

"[Assim] como o envelhecimento geral, o sexual também é inexorável. Nos homens se produz menos testosterona, diminuem as fibras musculares penianas e a sensibilidade adrenérgica aumenta, o que é ruim para a ereção", afirma o médico.

Lopes lembra que com a idade o sexo não fica pior ou melhor, apenas diferente, uma vez que as ereções podem demorar mais, serem menos firmes ou de duração reduzida. Há também a possibilidade da relação terminar sem orgasmo.

"A frequência do sexo diminui. A condição de se excitar (lubrificação vaginal na mulher e ereção nos homens) e a resposta do orgasmo também se modificam, mas a idade não dessexualiza as pessoas", reforça o sexólogo.

Para Lopes, a disfunção erétil deve ser encarada como um problema de saúde pública, pois cerca da metade dos homens no Brasil entre 40 e 70 anos apresenta o problema em graus leve, moderado, acentuado ou total.

Nos consultórios, o profissional observa que os pacientes mais velhos - particularmente aqueles com uma vida sexualmente ativa - são os que têm mais dificuldade em lidar com a redução quantitativa da função sexual.

"Infelizmente muitos homens em vez de se relacionar com a mulher, se relacionam com o pênis deles. Qualitativamente [o sexo] poderia até ser melhor, se eles entendessem que sexo não é só encontro de genitais."

A literatura médica é ampla e também mostra que disfunção sexual em homens mais jovens é menos comum, mas está crescendo em 2022 e pode estar associada a fatores de auto-estima e psicológicos, que precisam ser abordados com menos cobrança.

Com o advento do Viagra em 1998 e, anos depois da Tadalafila, que permitiu uma janela mais longa para ereção (cerca de 36 horas) e mais espontaneidade nas relações, Lopes considera que os homens não devem mais temer a impotência como antes.

"Em matéria de sexo não existe aposentadoria. O que dessexualiza as pessoas são outras coisas, como doenças, medicamentos, o social, mas a idade em si não", afirma o especialista.