Aviso não falta. Especialistas das mais diversas áreas se esgoelam na televisão, na mídia impressa ou pelas redes sociais desde o início da pandemia da Covid-19 para alertar sobre os cuidados necessários contra o perigo que o coronavírus oferece. Não tem adiantado. Depois de um 2020 dificílimo, o ano novo se iniciou com estatísticas não menos assustadoras. Na primeira semana, somente o Paraná registrou 626 óbitos relacionados à virose – sendo que, na sexta-feira (8), a Sesa (Secretaria Estadual da Saúde) não divulgou dados –, marca que demorou pouco mais de três meses para ser alcançada no início da expansão da doença a partir de março passado. Como diz a máxima popular: contra fatos, não há argumentos. No entanto, um número incontável de pessoas vem “decretando” o fim das medidas profiláticas, como o distanciamento social. O resultado é que o vírus demonstra ser realmente implacável. Mas, e agora, o que fazer?

Ainda que a vacinação esteja no horizonte, a perspectiva de que a pandemia seja contida é uma realidade muito distante de ser alcançada
Ainda que a vacinação esteja no horizonte, a perspectiva de que a pandemia seja contida é uma realidade muito distante de ser alcançada | Foto: Juan Barreto/AFP

Responder a tal questionamento é uma tarefa hercúlea mesmo para os especialistas debruçados a fundo no problema. Há que se encarar as diferentes realidades locais – país por país, estado por estado, cidade por cidade – e entender que existem limites. Fechar tudo pode não ser uma possibilidade para o Brasil, já tão assolado por suas questões socioeconômicas. A epidemiologista Karin Luhm, professora da UFPR (Universidade Federal do Paraná), entende que a administração da pandemia à brasileira pode ser comparada ao que popularmente conhecemos pela expressão cobertor curto – por mais que estique, alguma parte do corpo ficará descoberta. “A clareza e a transparência na divulgação de como está transcorrendo a pandemia, a testagem em larga escala e adotar medidas de vigilância, como uma fiscalização efetiva, são as medidas que podem garantir que os serviços possam ser mantidos funcionando”, afirma Luhm, que complementa. “Não seria possível proibir tudo de abrir sem um auxílio econômico para a população. O que acaba de ser interrompido”.

Passado o primeiro choque de realidade que o coronavírus impôs, o prolongamento do avanço da doença torna o desafio atual ainda mais complexo. Apesar de as primeiras vacinas já estarem sendo submetidas à análise da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a médica acredita que o Brasil está atrasado. Os estragos de cada dia de vacinação perdido são incalculáveis. “Acredito que o custo de vacinação rápida é muito menor do que o impacto social das medidas de fechamento e de um consequente programa de renda”, compara a epidemiologista, que faz um alerta: “O que mais me preocupa é que este atraso acontece por questões políticas e não científicas. Temos dois laboratórios com estrutura, casos do Butantan e da Fiocruz. Sem contar que toda unidade básica de saúde é uma sala de vacina. Nosso ‘know-how’ permitiria que estivéssemos em outra posição”, critica.

RESPOSTAS

Se no Paraná a situação é grave – até o dia 7 a pandemia já totalizava 459.658 casos confirmados e 8.556 óbitos –, em Londrina, não é muito diferente. Nos primeiros dias de 2021, a cidade registrou cerca de 30 mortes. Apesar de a prefeitura insistir que a situação está sob controle, falta uma maior clareza para a divulgação dos dados. A cidade, mesmo em momentos com alto índice de novos doentes diários, dificilmente ultrapassa a marca de 500 casos ativos, isso sabendo que uma pessoa contaminada fica doente entre 10 e 15 dias, com capacidade de transmitir o vírus. Já do Estado, faltam esclarecimentos sobre a dinâmica de totalização dos casos, sobre a testagem nas diversas regiões e clareza nas medidas conjuntas para o enfrentamento do aumento da dissipação da Covid-19. A FOLHA pediu entrevistas tanto para a Prefeitura de Londrina, quanto para a Sesa para tratar de tais fatos, mas não foi atendida.

Há pontas a serem atadas e cabe à população se manter informada e em alerta quanto à sua responsabilidade. Os cuidados em uma pandemia de um vírus respiratório não só implicam na proteção da própria vida quanto na de toda a sociedade. “Talvez seja um erro as autoridades falarem que o isolamento é fundamental para não exaurir os sistemas de saúde. É mais que isso. As imagens de festas lotadas de Réveillon são inaceitáveis. As pessoas precisam entender que não podem se manter aglomeradas pelo bem de todos”, pontua Luhm. Já aos governantes, a especialista da UFPR aponta que o único caminho é a ciência. “Os governantes devem estar cada vez mais próximos dos comitês científicos. Municípios ligados ao estado e aos institutos nacionais. As medidas precisam ser analisadas localmente, mas o conhecimento deve ser conjunto”, detalha.

PACIÊNCIA

Ainda que a vacinação esteja no horizonte, a perspectiva de que a pandemia seja contida é uma realidade muito distante de ser alcançada. A resposta dos imunizantes ainda precisa ser posta em cheque – apesar dos bons prognósticos, é preciso saber qual será a capacidade de impactar na disseminação do vírus. “Vamos ver qual será o grau de adesão da população numa vacinação de duas doses. Ainda há muito o que se acompanhar”, prevê Luhm, que garante que a necessidade de manter os cuidados ainda será exigência por um bom tempo. “Medidas de precaução, uso de máscaras, lavagem das mãos e a diminuição da concentração de pessoas irão continuar por um bom tempo. Ainda mais sem saber o comportamento dessas novas variantes do vírus”, lembra. É bom ter paciência e estar preparado. Faça sua parte.

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