Poderia ser uma palestra qualquer de recepção de novos calouros da UEL (Universidade Estadual de Londrina), mas a aula inaugural da nova turma de alunos do curso de Ciências Biológicas, na manhã de sexta-feira, 28 de junho, teve algumas particularidades. A maioria dos assentos do Auditório Cyro Grossi, no campus, foi ocupada por universitários, como era esperado. Mas haviam também crianças e seus pais e outras pessoas que não tinham nada a ver com a UEL, mas possuíam um interesse comum: dinossauros.

Todos estavam ali para assistir à palestra ministrada pelo professor Luiz Eduardo Anelli, um dos principais paleontólogos brasileiros, pesquisador da área e autor de mais de 30 livros para diferentes públicos sobre o universo daqueles gigantes que dominaram a Terra há milhões de anos.

Os dinossauros despertam um fascínio incomparável em crianças e adultos. Desde os primeiros desenhos animados, brinquedos até as mais recentes descobertas científicas, esses seres colossais mexem com a imaginação de todas as idades.

Anelli cursou Ciências Biológicas na UEL (turma de 1989), atualmente mora em São Carlos (SP) e é docente do Instituto de Geociências da USP (Universidade de São Paulo). A palestra, que começou pouco depois das 8 horas, foi encerrada por volta das 11 horas, apesar do público continuar atento, porque o professor ainda precisava autografar os livros e tirar fotos com os fãs.

Sim, paleontólogos têm fãs no Brasil. É muito bom ver que um professor arrasta admiradores para uma palestra de três, quatro horas, como acontece na Coreia do Sul ou no Japão. Um desses fãs, Vitor Yoshii, de 12 anos, acompanhou toda a palestra ao lado dos pais, a publicitária Anita e o empresário da área da construção civil Leonardo Yoshii.

Imagem ilustrativa da imagem Palestra na UEL prova que fascínio pelos dinossauros não tem idade
| Foto: Adriana de Cunto

Vitor levou seis livros para Anelli autografar, conversou e tirou fotos com o paleontólogo e seus pais fazendo com a mão a representação dos três dedos de um dinossauro. O menino conta que se interessa pelo universo dos dinossauros desde pequeno e que "gosta de muitas coisas" relacionadas a esses gigantes da Era Mesozoica.

O pais não sabem como o interesse do filho começou, já que ninguém próximo trabalha ou tem como hobby a paleontologia. Vitor é o primeiro a manifestar gosto pelo assunto e acabou despertando o interesse da família. "Sempre que viajamos e temos oportunidades visitamos museus de história e outros locais relacionados a dinossauros", afirma Leonardo Yoshii.

Quando a reportagem pergunta qual é o dinossauro preferido de Vitor, ele vai citando uma lista grande de nomes, como Sauropodomorfos, Argentinossauro, Ornitópodes, Uberabatitan e o Espinossauro - também o preferido da mãe do menino.

Já os dinos preferidos do professor Luiz Eduardo Anelli são o brasileiro Estauricossauro, encontrado no Rio Grande do Sul, cujo nome significa "Lagarto Cruzeiro do Sul", e o Estegossauro, o "Lagarto Telhado", que vivia na América do Norte e Europa.

E o T-rex?

O leitor que não está familiarizado com o mundo dos dinos pode estranhar a ausência, nessas listas, do mais famoso do público em geral, o Tiranossauro Rex, que botava o terror no "Jurassic Park" de Steven Spielberg. É que o mundo já nomeou mais de mil espécies de dinossauros, sendo que a primeira descoberta completa 200 anos em 2024. Trata-se da mandíbula de um “Megalossauro”, descrito por William Buckland para a Universidade de Oxford em 1824.

Quando entrou no curso de Ciências Biológicas em 1989, Anelli não imaginava se tornar paleontólogo. "Eu vim aqui para estudar inseto. Mas todas as universidades têm os seus focos. E o foco aqui não era tanto inseto", lembrou. Foi aí que um professor o convidou para organizar uma coleção de fósseis. "Eu me tornei paleontólogo desde então", disse.

Da UEL, ele chegou na USP em 1991 para continuar estudando e seis anos depois se tornou professor daquela instituição. Continuou fazendo pesquisas na área de paleontologia e não demorou muito para escrever livros. "A demanda para minha pesquisa era muito menor do que a demanda por livros sobre a pré-história brasileira. Aí, além de paleontólogo eu me tornei escritor, desde então eu escrevi 30 livros sobre a pré-história brasileira e um deles ganhou até o prêmio que eu tenho orgulho pelos dinossauros, o maior prêmio da literatura brasileira, que é o Prêmio Jabuti, com os dinossauros. Isso é maravilhoso".

Imagem ilustrativa da imagem Palestra na UEL prova que fascínio pelos dinossauros não tem idade
| Foto: Adriana de Cunto

Anelli tem uma vasta obra sobre paleontologia para crianças, atividade que ele conseguiu desenvolver sem ser superficial e deixando de lado o jargão científico. Para o professor, é o jargão científico que torna a ciência enfadonha para o público infantil. "A gente precisa aprender a conversar com as crianças. Eu tive dois filhos e eu aprendi a escrever para eles. Em uma época em que eu perdi a minha câmera fotográfica, eu não tinha como registrar a vida dos meus filhos eu comecei a desenhá-los. Fiz 200 desenhos deles e comecei a escrever poesias para eles. Assim eu comecei a escrever, sem jargão", contou.

O pesquisador costuma conversar muito com as crianças, visitando escolas. "E foi conversando com elas que eu aprendi a conversar com os adultos também", disse. Para o professor, os dinossauros são um tema que facilitam as aproximações. "Põe um dinossauro no anzol que você pesca todo mundo, porque todo mundo se interessa", ensina. "Os dinossauros educam demais, eles nos ensinam a entender o mundo atual, a fauna atual, a geologia, a geografia atual."

OS DINOS PARANAENSES

Anelli já teve oportunidade de visitar o sítio paleontológico de Cruzeiro do Oeste, no Paraná, onde foram encontrados dois dinossauros, o "Vespersaurus paranaensis" e a "Berthasaura leopoldinae". O pesquisador cobra comprometimento do poder público para o desenvolvimento daquele espaço. "Será um dos pontos mais fantásticos do Brasil, desde que as autoridades coloquem dinheiro naquele lugar. Aquele lugar merece um grande museu, um grande trabalho paleontológico. Imagina, de 20 metros quadrados de rocha, eles tiraram dois dinossauros supermaravilhosos e três répteis voadores. Aquele lugar vai brilhar. Ainda é uma protoestrela. A hora em que aquele lugar entrar em ignição, vai se tornar um polo maravilhoso sobre a pré-história do Estado do Paraná, do Brasil e do mundo", prevê.

Cruzeiro do Oeste já tem o Museu de Paleontologia Alexandre Gustavo Dobruski, criado e mantido pela prefeitura municipal, que recebeu 43 mil visitantes nos últimos dois anos, segundo Vanda Bueno, diretora da instituição. No local está exposto o primeiro dino paranaense. Também é possível aprender sobre a geologia da região e conferir a coleção de fósseis do museu. O horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira, das das 8h30 às 11h30 das 13 às 16 horas.