BOA VISTA, RR, E RIBEIRÃO PRETO, SP - Após o governo federal ter declarado emergência de saúde pública no território indígena yanomami, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou neste sábado (21), em Boa Vista, auxílio aos habitantes da região e combate ao garimpo ilegal.

Região com 30 mil habitantes em Roraima, a terra indígena yanomami tem atualmente crianças e idosos em estado grave de saúde, principalmente com desnutrição grave, malária e infecções respiratórias.

Cenário é tão crítico na terra indígena ao ponto de o Ministério da Saúde ter decretado estado de emergência para combater a falta de assistência sanitária na região. A decisão, já em vigor, foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União desta sexta (20).

Lula disse ter visto durante a semana fotos que o abalaram e que a situação encontrada foi de abandono.

"Se alguém me contasse que aqui em Roraima tinha pessoas sendo tratadas de forma desumana, como vi o povo yanomami ser tratado aqui, eu não acreditaria", disse o presidente.

Entre as medidas imediatas anunciadas estão melhoria no transporte, envio de mais profissionais de saúde, como médicos e enfermeiros, para atendimento aos indígenas. Lula também falou que vai combater o garimpo ilegal na região, mas não detalhou quais medidas serão tomadas.

"Nós vamos levar muito a sério essa história de acabar com qualquer garimpo ilegal. E mesmo que seja uma terra que tenha autorização da agência para fazer pesquisa, eles podem fazer pesquisa sem destruir a água, sem destruir a floresta e sem colocar em risco a vida das pessoas que dependem da água para sobreviver."

Lula ainda criticou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ao dizer que o governo mudou e que a atual gestão vai agir com seriedade no "tratamento do povo que esse país tinha esquecido".

"É desumano o que vi aqui. O presidente que deixou a presidência esses dias, se em vez de fazer tanta motociata, tivesse vergonha e vindo aqui uma vez, quem sabe esse povo não estaria abandonado como está."

O presidente visitou as instalações da Casai (Casa de Saúde Indígena) Yanomami na capital de Roraima acompanhado de uma comitiva composta por oito ministros e a presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Joenia Wapichana, entre outros membros do governo.

Lula chegou ao local acompanhado do governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), que é apoiador de Bolsonaro. A comitiva foi recebida por um grupo de indígenas das etnias yanomami, macuxi, wapichana e taurepang, que entoou cânticos em um círculo.

A comissão fez uma visita de inspeção nas instalações da Casai Yanomami, que presta atendimentos de saúde à etnia, e depois Lula falou aos jornalistas.

A situação, que se agravou nos últimos anos, é alvo de uma campanha do CIR (Conselho Indígena de Roraima), que iniciou em dezembro uma arrecadação de fundos para apoiar as comunidades da Terra Indígena Yanomami.

O CIR também cita a falta de acompanhamento da Funai no governo Jair Bolsonaro e o corte de orçamento da saúde indígena.

"Há uma verdadeira crise humanitária em curso [na terra indígena]." Segundo a organização, o garimpo também está causando "vários impactos irreversíveis".

O presidente viajou acompanhado dos ministros Sônia Guajajara (Povos Indígenas), Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública), José Múcio (Defesa), Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), Nísia Trindade (Saúde), Silvio Almeida (Direitos Humanos e Cidadania), Márcio Macedo (Secretaria-Geral) e general Gonçalves Dias (Gabinete de Segurança Institucional) e da presidente da Funai, Joenia Wapichana.

Equipes do ministério que estão na região terão 15 dias após o retorno da missão (previsto para ocorrer quarta, 25) para apresentarem levantamento da situação.

Além da declaração de emergência, o ministério instalou um centro de operações de emergências em saúde, sob responsabilidade da Sesai (Secretaria de Saúde Indígena) de Roraima, que coordenará as medidas durante o estado de emergência.

Também estiveram presentes militantes de partidos de esquerda e de movimentos sociais, como o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e outras entidades. Os manifestantes entoaram gritos contra a presença do garimpo ilegal em terras indígenas.