O Doodle do Google comemora nesta quinta-deira (11) o 100º aniversário do físico e professor curitibano César Lattes, que descobriu uma partícula subatômica chamada píon ou méson pi e avançou a compreensão das forças nucleares.

César Lattes foi um jovem que, com 19 anos, formou-se em física na Universidade de São Paulo (USP). Ele ingressou no início de 1941 e terminou no final de 1943. “Nas disciplinas do último ano, que tinham temas mais avançados, relacionados ao que a gente chama de física moderna do século 20, associada à relatividade e aos conhecimentos quânticos, ele tirou 10 em todas as matérias”, afirma o professor Ivã Gurgel, da USP. Era raro alguém ter um desempenho desse tipo naquele curso que estava, segundo o docente, atualizado com os principais conhecimentos do que se fazia no mundo.

Aos vinte e poucos anos, começou a estudar raios cósmicos, ou partículas de alta energia vindas do espaço. Suspeitou corretamente que a adição de boro às chapas fotográficas proporcionaria uma imagem mais clara da decomposição das partículas. Funcionou tão bem que pôde ver cada próton.

Para alcançar mais raios cósmicos, um pesquisador levou duas placas fotográficas ao topo de uma montanha. A placa que Lattes modificou mostrou rastros de uma partícula que nunca havia sido observada antes – o píon. Os píons, ou mésons pi, são menores que um átomo e são formados quando a matéria espacial colide com a atmosfera da Terra. Ele não apenas descobriu a existência, mas também observou que alguns mésons são mais pesados ​​que outros. Este trabalho rendeu à equipe de pesquisa o Prêmio Nobel de Física.

Pouco depois, tornou-se professor de física na Universidade de São Paulo e posteriormente na Universidade Estadual de Campinas. Fez campanha por mais financiamento governamental para a ciência, o que levou à formação do CBPF, instituto de pesquisa em física do qual Lattes era diretor científico. Ele orientou muitos estudantes que trabalhavam em teses de pós-graduação em emulsão nuclear (detecção de partículas) e geocronologia (datação de rochas) no Brasil, nos Estados Unidos e na Itália.

Lattes recebeu muitos prêmios pelos avanços em forças nucleares e física de partículas, incluindo o Prêmio Einstein da Academia Brasileira de Ciências e uma Ordem de Mérito do Brasil e da Itália. Dezenas de escolas, estradas e praças foram nomeadas em homenagem a ele.

No cenário acadêmico brasileiro, Lattes é homenageado pelo nome de uma plataforma que reúne os dados de pesquisadores e professores brasileiros, na base do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Isso porque o físico teve uma trajetória que foi além do seu campo de pesquisa e defendeu, durante toda a vida, a ciência no Brasil.

Para os entrevistados, a história do físico deveria inspirar os mais jovens. O professor da USP Ivã Gurgel testemunha que, mesmo com os alunos na graduação, há quem não conheça quem foi o pesquisador. “A gente precisa fazer um trabalho de preservação de memória e de divulgação”, considera.

A trajetória do homem que resolveu defender a ciência poderia, de acordo com Antonio Videira, ser exemplo, porque Lattes demonstrava ideais nacionalistas. “Seria muito interessante se as escolas pudessem multiplicar histórias como a dele. Tem que ter textos e vídeos sobre ele para serem divulgados nas redes sociais, por exemplo”. (com informações da Agência Brasil)