Professores têm entrado em contato com repórteres da Folha de Londrina para alertar que o protocolo de biossegurança da Seed (Secretaria de Estado da Educação e do Esporte do Paraná) não impede a contaminação por Covid-19 entre comunidade escolar. Segundo eles, a contaminação tem acontecido entre os professores, funcionários e alunos mesmo com todas as ações de proteção previstas para evitar o problema.

Imagem ilustrativa da imagem Comunidade escolar critica risco mesmo com protocolo de segurança

Esses professores têm feito a denúncia, mas pedem que a reportagem não publique seus nomes para protegê-los de eventuais represálias. Eles argumentam que mais de 150 professores foram contaminados em toda a rede e mais de 300 estão com suspeita da doença em todo o Estado. Há registros de cerca de 150 alunos com confirmações e quase 500 alunos estão com suspeita de ter contraído o novo coronavírus. Entre os servidores, dizem eles, há quase 150 casos e mais de 200 suspeitos.

Uma das pessoas ouvidas pela reportagem, que leciona em um colégio da cidade, destacou que só na instituição em que trabalha, em Londrina, houve três casos. “Eles aconteceram em um período muito próximo um do outro e entre professores. Ninguém ficou sabendo se a contaminação se deu dentro da escola ou fora dela. O clima entre os professores desde que foi determinado o retorno das aulas é tenso. Alguns professores estão mais tranquilos, mas há uns mais preocupados, e ninguém está à vontade com a situação”, aponta.

A Seed informa que quando há notificação de casos de Covid-19 entre estudantes, professores ou funcionários de colégios estaduais, a instituição de ensino informa ao comitê de biossegurança de seu Núcleo Regional de Educação e toma as medidas orientadas pela Sesa. Quando há um caso suspeito, o diretor solicita que a pessoa fique em isolamento e a encaminha a uma unidade de saúde local. Se há caso confirmado de aluno, há suspensão das aulas presenciais da turma do aluno que testou positivo. Se há caso confirmado de professor, há suspensão das aulas presenciais das turmas nas quais o professor ministrou aulas. No caso de três ou mais casos confirmados na mesma escola em menos de 14 dias, a comissão de biossegurança do Núcleo Regional de Educação e a chefia do Núcleo analisam a situação e podem suspender as aulas presenciais do turno ou da escola inteira.

A pessoa que deu o depoimento para a reportagem afirmou que na escola dele tudo continuou funcionando, mesmo quando o protocolo indicava a suspensão das aulas presenciais na escola inteira, já que ocorreram os três casos. A escola afirmou que todos os protocolos foram seguidos e que a escola não estava realizando aulas presenciais, porque está em um período de aplicação de provas de forma remota. Informou ainda que as aulas só deverão ser retomadas presencialmente em julho.

Em outra escola vários professores ficaram indignados, pois tiveram contato com uma professora contaminada, que mesmo ao comunicar estar infectada continuou trabalhando normalmente e compartilhou aparelhos com outros professores no dia de entrega de kit alimentação, antes que uma equipe fizesse a descontaminação do ambiente.

O presidente da APP-Sindicato (Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná) , Hermes Leão, afirma que o entendimento do sindicato é que a escola se mantenha fechada e a educação neste período seja feita de forma remota. “A contaminação vai continuar e há um entendimento via nota técnica de estudos que nós apresentamos, inclusive em audiência pública no município de Londrina, de pesquisadores que defendem que as escolas se mantenham fechadas, porque no ambiente escolar há uma concentração por horas a fio desses grupos de pessoas, onde um contaminado oferece muito risco. Os protocolos de segurança, mesmo se aplicados conforme descritos pela Seed, não garantem que a contaminação não ocorra”, destaca.

Roni Miranda Vieira, diretor de Educação da Seed, afirma que no Paraná o ambiente nas escolas é controlado e minimiza ao menor número possível a contaminação do estudante ou do profissional. “O risco dele é muito maior fora do que dentro da escola”, declara Vieira. “Vou te dar um exemplo prático. A turma tem no máximo 21 alunos e hoje tem metade disso. Dependendo do espaço da escola, esse aluno sai, faz o lanche e retorna respeitando o distanciamento. Não é aquele recreio que a gente tem na nossa memória, em que a gente ficava correndo, brincando e jogando bola, com todo mundo junto se abraçando. Em outras escolas adotaram o consumo do lanche na sala de aula”, declara.

Vieira ressalta que acompanha diariamente as informações repassadas pelas próprias escolas, por meio da comissão de biossegurança. “Todos usam máscaras, há um distanciamento dos alunos e o ambiente é higienizado com frequência. É um ambiente extremamente controlado por um protocolo aprovado pela Sesa. Tive reunião com a APP e a gente expôs toda a situação, mostrando todos os protocolos, todas as orientações que são passadas para os profissionais e os estudantes das escolas”, ressalta o diretor. Segundo ele, as contaminações registradas entre professores, funcionários e alunos não ocorreu em ambiente escolar.

Leão, por sua vez, afirmou que a declaração de Vieira só reforça aquilo o que a APP-Sindicato vem denunciando. “A transmissão comunitária do vírus está acontecendo no Paraná, porque se aglomeram as pessoas em um mesmo ambiente e, mesmo com esses cuidados, não há garantias de que as pessoas não se contaminem”, aponta.

O presidente do núcleo sindical de Londrina da APP-Sindicato, Marcio André Ribeiro, reforça que a Covid-19 tem transmissibilidade "muito rápida, fácil e violenta". “Principalmente essas novas cepas surgidas tanto aqui no Brasil, quanto a variante delta, e que já circula aqui no Paraná, principalmente aqui no Norte do Paraná, são muito contagiosas”, diz Ribeiro.