Curitiba - Já pensou saber quem estaria no seu velório? Foi isso que um cerimonialista de Curitiba quis descobrir ao fingir a própria morte. Na última quarta-feira (18), Baltazar Lemos, de 60 anos, agitou a capital paranaense e as redes sociais ao protagonizar um “velório fake”.

"Nos últimos cinco meses, com minha festa de 60 anos se aproximando, e como sempre faço grandes festas quando eu comemoro décadas, me veio a ideia de simular um texto em que as pessoas subentendessem que eu havia falecido", disse Lemos
"Nos últimos cinco meses, com minha festa de 60 anos se aproximando, e como sempre faço grandes festas quando eu comemoro décadas, me veio a ideia de simular um texto em que as pessoas subentendessem que eu havia falecido", disse Lemos | Foto: Acervo Pessoal

Cerimonialista há 30 anos, durante a pandemia o profissional precisou se reinventar e passou a realizar velórios. Segundo ele, foram 889 cerimônias. Em algumas delas, o funeral era solitário, sem nenhum presente. Foi assim que surgiu a ideia de organizar a própria despedida em vida para saber se teria amigos e familiares na ocasião.

"Nos últimos cinco meses, com minha festa de 60 anos se aproximando, e como sempre faço grandes festas quando eu comemoro décadas, me veio a ideia de simular um texto em que as pessoas subentendessem que eu havia falecido", disse à FOLHA.

Conforme Baltazar, tudo foi pensado com detalhes, inclusive a omissão da palavra "morte". "Eu não posso usar a palavra morte, porque poderia ser um crime", afirmou.

Um dia antes, na terça-feira, uma publicação convidou todos os contatos das redes sociais dele para a "cerimônia de despedida", que seria realizada, em 18 de dezembro, em uma capela funerária conhecida de Curitiba.

"Fiz a locação da capela, com contrato. Na Capela Vaticano, ninguém sabia. Nos meus familiares, ninguém sabia. Minha mãe, meus filhos, meus amigos, ninguém sabia de nada", contou à FOLHA.

Após o suposto velório, só quem comparecesse na capela seria convidado para uma festa de 60 minutos. Baltazar também organizou essa parte, prevendo a reação dos fornecedores do evento. "No contrato constava que, acontecesse o que fosse, a festa iria ocorrer naquela data. Porque eu sabia que, se o dono do local soubesse que eu havia falecido naquele dia, ele poderia não fazer a festa", lembrou.

FAMILIARES REVOLTADOS

Antes de descobrir a verdade e sem encontrar o corpo, um sobrinho de Baltazar chegou a acionar as polícias do Paraná e São Paulo, já que o tio supostamente teria morrido após um procedimento cirúrgico em um hospital na capital paulista.

Mais tarde, quando ficou sabendo da situação, o jovem publicou um novo texto nas redes sociais dizendo que a família não compactuava com o que estava acontecendo.

“Os demais familiares e eu estamos completamente arrasados com a possibilidade de tudo ser uma brincadeira DE EXTREMO MAU GOSTO, no entanto as inúmeras informações inconsistentes que sabemos até o momento nos fazem crer que ele trama tudo isso para de alguma forma chamar atenção de todos”, publicou.

Apesar da confusão familiar, Baltazar garante que não se arrepende do que fez. "Estava nervoso, logicamente, porque a princípio eu seria o primeiro morto-vivo da história. Em relação aos amigos e familiares que se sentiram prejudicados, eu quero pedir perdão, mas não me arrependo do que fiz", ressaltou.

Na noite do “velório fake” alguns amigos do cerimonialista estavam indignados ao saber que tudo não passava de uma pegadinha. "Nesse dia eu recebi agressão física, agressão de palavras lá na capela. Mas a partir do momento em que eu peguei o microfone e disse que ali era um lugar de respeito, todo mundo entendeu o que eu estava fazendo. As pessoas que ali foram receberam um incentivo: faça em vida o que você quer fazer", pontuou.

CAPELA LAMENTO O EVENTO

A Capela Vaticano, onde aconteceu o “velório fake”, se pronunciou sobre o evento no dia seguinte. O local explicou que houve a cessão do espaço para culto religioso e se eximiu da responsabilidade sobre a condução da cerimônia.

“A Capela Vaticano vem, por meio desta, lamentar o ocorrido e esclarecer que a Instituição efetuou uma cessão de espaço de culto religioso, não existindo nenhuma responsabilidade da Capela em relação à condução do referido culto/ cerimônia. Reiteramos nosso compromisso de respeito a todos os clientes da empresa. Nossa equipe trabalha na base da ética e do respeito há mais de 90 anos”, disse em nota.

O cerimonialista trabalhou por dois anos no local e reforçou que não teve a intenção de ofender alguém.

"Lá eu sei que é um local sagrado, eu não ia tirar esse intuito. A ideia foi levar nesse dia uma palavra de incentivo à vida. Esse foi o real motivo de eu fazer isso. Para que as pessoas aproveitem a vida e valorizem quem amam enquanto estão vivas", finalizou.

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