Para celebrar a cultura japonesa, popularizar seus costumes e danças e tradicionais, o Grupo Hikari, de Londrina, se reúne semanalmente e dá continuidade ao Bon Odori. Originalmente conhecido na cultura japonesa como “O-bon” ou “Bon”, o Bon Odori é um festival anual que ocorre durante o verão nórdico entre julho e agosto, no Japão. O ‘‘Bon Odori'' significa “dança do finado” e é uma tradição usada para a celebrar as almas, homenageando a sabedoria dos antepassados com danças em grupo entre outras homenagens.

Imagem ilustrativa da imagem Bon Odori: tradição viva em Londrina
| Foto: Ana Carla Dias

Antigamente o Bon Odori era comemorado somente no dia 15 de julho pelos japoneses, mas, de tempos para cá, diferentes regiões do Japão passaram a adotar a celebração em variadas épocas. As datas mais comuns são entre os dias 13 e 16 de agosto, período em que os japoneses limpam os túmulos de seus antepassados, colocando oferendas e arranjos de flores no local, também lanternas e alimentos como legumes e frutas para os espíritos, ​​em frente a um altar budista, chamado de “Butsudan”.

Em meio às ruas e templos budistas durante todo o festival, a dança Bon Odori é realizada ao som dos tambores Taikô, os tambores japoneses, e com a apresentação de dançarinos vestindo yukata (quimono de verão).

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| Foto: Ana Carla Dias

O Bon Odori também é celebrado em comunidades de imigrantes japoneses, por seus descendentes, podendo qualquer pessoa da comunidade participar da dança. Em Londrina, o Grupo Hikari, fundado em 2005, é um dos grandes representantes dessa cultura pelo Paraná e também no Brasil, já que percorre todo o país em eventos que exaltam e memorizam a cultura japonesa.

O grupo que se reúne todas as segundas-feiras para ensaiar o Bon Odori, Matsuri dance e a percussão do Taikô para acompanhar as novas letras que chegam ao grupo para as apresentações. "A gente já tinha morado em Londrina e sempre se reunia com um grupo de amigos, mas nos mudamos para Porto Velho (RO), ficamos 25 anos morando lá, mas quando voltamos a morar aqui, não encontramos mais ninguém, o pessoal tinha se espalhado. Começamos a frequentar uma igreja budista aqui e, na nossa época, tinha muita gente que gostava de Bon Odori, já eu não danço, fico mais na coordenação”, explica Luiz Kehiti Kuromoto, 72, um dos coordenadores do grupo e que deu início ao Grupo Hikari ao lado da esposa.

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| Foto: Ana Carla Dias

Composto por homens e mulheres de diferentes idades e profissões, os integrantes já possuem contato com outras comunidades nipo brasileiras pelo Brasil e participam de encontros levando todo o pessoal do grupo. Conhecidos na região, são chamados pelas associações culturais japonesas para criar oficinas com a finalidade de ensinar a dança e levar os costumes para várias cidades do Paraná e Brasil. Já participaram de eventos em São Paulo, Salvador, Belém, Belo Horizonte e Porto Alegre.

“Tentamos reagrupar o pessoal, a maior parte era de amigos de uma associação e começamos essa dança que já tinha quase desaparecido no Paraná. As pessoas que dançavam foram envelhecendo e não houve uma renovação. Por exemplo, havia as associações de Cambé, Arapongas, Rolândia, Maringá, nesses lugares todos, tinha em Assaí e Uraí, eles faziam o Bon Odori dentro das igrejas, mas era um Bon Odori bem tímido, pouca gente. Foi assim que montamos esse grupo, aprendemos e ensinamos o nosso pessoal a dançar, colegas da associação budista, aí saímos para dançar. O primeiro lugar foi a cidade de Colorado (PR)”. completa Luiz.

Folha de Londrina

Um dos objetivos iniciais da união sempre foi resgatar e manter viva a tradição japonesa e também divulgar o Bon odori e Matsuri dance na comunidade para os descendentes e não descendentes de japoneses.

“Era uma dança comemorativa de finados, hoje, com a modernização nós tiramos esse significado e virou um sinônimo de festa, porque se fosse no Brasil seria 1º e 2 de novembro para seguir o dia de finados. Mas fora de época não havia graça, também começamos a colocar música fora do repertório das tradicionais, colocamos músicas de sucesso do Japão, hoje ele não está mais na verdadeira essência. Hoje a gente faz do Bon Odori uma festividade”, explica.

Também organizado pelo Grupo Hikari, anualmente, no mês de novembro, é realizado o “Odori Fest” em Londrina, que abriga uma variedade de apresentações artísticas com destaque para o Bon Odori, Matsuri Dance, comidas típicas, artesanato, “chuva de moti” (tradicional bolinho de feijão) e outras atrações ligados à comunidade nipo-brasileira do Paraná.

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| Foto: Ana Carla Dias

Irene Hirano Kuromoto, 72, também é coordenadora do Grupo Hikari, casada com Luiz, fala do momento em que tiveram que dar uma pausa nos encontros por conta da pandemia, o cuidado foi mais do que essencial, principalmente pela idade dos participantes.

“O legal do Bon Odori é que qualquer um pode entrar, a gente está dançando e os passos são repetidos várias vezes, então você acaba decorando e dançando. Temos alunos de 20 anos e de 90 anos de idade, eles dançam juntos. É uma gracinha. Ficamos dois anos e meio sem aula por conta da pandemia, retornamos agora em maio, foi muito bom. Fizemos uma festa para a volta, chamada de Shinnenkai, que significa ‘Bem-vindo’”, comenta Irene.

A ideia do “Odori Fest” nasceu por conta da participação em diversos eventos com outros grupos de dança em diferentes cidades para celebrar a cultura. As festividades ainda arrecadam fundos para entidades locais, como o Hospital do Câncer de Londrina e a Associação Paranaense de Amparo às Pessoas Idosas - WAJUN-KAI de Maringá.

“Quando o Grupo Hikari começou a dançar na Aliança Cultural, depois de alguns anos, eu achava tão lindo aquele grupo grande, dançando alegre, eu falei para o meu marido: ‘Por que não fazer essa nossa festa e chamar outras cidades?’ Olha a coragem! Em 2005 começamos a fazer o ‘Odori Fest’”.

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| Foto: Ana Carla Dias

PARCERIAS

Em meio a risadas, danças e confraternização, os participantes que frequentam as reuniões semanais conseguem manter a tradição viva. Um deles é Celso Tetsuro Suono, 51, que está presente em todos os ensaios e adora ajudar. "Quando eu era pequeno, estudava a língua japonesa e lá tive contato com a tradição do Bon Odori, na escola japonesa. Aqui é um grupo de amigos, temos o pessoal que já está há mais tempo e ajuda também a passar as coreografias. Estou desde o início na turma. Essas danças são tradicionais, então as coreografias representam os movimentos do trabalhador, dos nossos antepassados. As coreografias já existem há muito tempo, só vamos treinando elas.”

Tokie Soraji recentemente completou 90 anos e ganhou bolo e várias homenagens do grupo que já frequenta há mais de 10 anos. Muito sorridente, ela conta que sentiu falta da participação e de reencontrar os amigos durante a pandemia. Agora, já com as vacinas em dia e um pouco mais tranquila, voltou a marcar presença: "Fez falta. Esse ano eu consegui vir umas três vezes. Antigamente eu dançava mais, já faz anos que frequento aqui. Antes viajava junto com a turma para todo lugar”, conta Tokie, antes de receber o parabéns surpresa dos amigos.

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| Foto: Ana Carla Dias

Junto ao grupo, Kleber Takashi Morikawa, 30, é quem ajuda nos ensaios do Taikô, a percussão que dá ritmo ao Bon Odori. "Comecei com o Grupo Hikari um pouco antes da pandemia, em 2020. Eu tocava no Ishindaiko desde 2008, faço parte desse outro grupo com outros integrantes que estão aqui no Hikari. O Bon Odori, apesar de eu ver nas festas e conhecer faz algum tempo, na parte técnica é um pouco novo para mim, estou me integrando. Vejo que é muito importante para a saúde do pessoal mais de idade, eles se encontram e se divertem”.

Toshihiko Tan, 92, também é daqueles que acompanham o grupo de outros festivais, sempre em parceria com os colegas nas reuniões para ensaio às segundas-feiras. Ele assiste a tudo, não é de dançar, mas participa de algumas viagens e aprecia o objetivo da união.

“O Luiz e a Irene me apresentaram ao grupo e eu gostei de apoiar as causas. No Grupo Hikari a maioria é de meia idade, se reúne e dança, se exercita e também faz campanhas educativas. Acompanho principalmente por esse propósito de ajudar as comunidades mais carentes.”

Quando o grupo foi fundado, o objetivo era reencontrar amigos, celebrar a cultura e resgatar a dança que já estava sumindo do sul do país, hoje, após 17 anos de Grupo Hikari. É possível notar que todos os planos se concretizaram. Além das surpresas e possibilidades de viajar, conhecer o Brasil, organizar atividades filantrópicas, criar festivais e tudo mais que o carinho pela dança e cultivo de boas tradições traz para a memória e vida de quem participa.


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