O secretário de Estado de Saúde do Paraná, Beto Preto, afirmou nesta quarta-feira (26) em entrevista à FOLHA que o momento não é para a população relaxar no combate ao novo coronavírus. Ele ressaltou que a falta de medicamentos continua. "Nós afrouxamos um pouco com a resolução 1026/2020 da Sesa, publicada na segunda-feira (24), que revoga a 926/2020. Chegamos a ter estoques para apenas dois dias", explicou.

Beto Preto participou recentemente de reunião da CIB (Comissão Intergestores Bipartite do Paraná).
Beto Preto participou recentemente de reunião da CIB (Comissão Intergestores Bipartite do Paraná). | Foto: Geraldo Biesek/Sesa

De acordo com o secretário, o Paraná está com mil pessoas internadas nas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) que consomem ampolas de medicamentos para ficarem sedados em casos ligados ou não ao novo coronavírus. "Agora alguns procedimentos retornam, como ambulatoriais e eletivos que não utilizem anestesia geral e medicamentos em falta. Hoje, temos condição de estoque melhor que há um mês e suficiente para 25 dias", destacou.

Beto Preto ressaltou que o Ministério da Saúde tem atendido o Paraná, mas, apresentou que se não regular esse processo, o medicamento some e o preço sobe. "A falta de medicação pode causar um risco de calamidade para pessoas intubadas. Eu insisto, o momento não é de tranquilidade. Não chega a ser uma calamidade, mas é um momento grave", reforçou.

Segundo ele, embora tenham sido registradas três semanas de queda nos números referentes a casos novos e óbitos pela doença, há necessidade de manter o cuidado, principalmente na manutenção de ações. "Nós vamos manter os leitos de UTI abertos até que se consolide uma queda verdadeira. Porque simplesmente falar que em 15 dias caiu 50% o número de óbitos pode ser factual. Tivemos o Dia dos Pais, tivemos a chegada da chuva e uma queda abrupta da temperatura. Isso tudo ajuda o contágio a ganhar velocidade."

Conforme o secretário, hoje são realizados cinco mil testes por dia e a Fiocruz vai ajudar a chegar a um número próximo de dez mil testes por dia do padrão-ouro", destacou. Ele garantiu que continuará fazendo os bloqueios, caso seja necessário, e observará essa curva para ver se ela vai se manter em queda. "Se ela permanecer em queda por duas ou três semanas nós vamos comemorar a vitória da batalha, mas a guerra não está vencida. Por isso, é necessário rememorar, lembrar e reiterar os cuidados pessoais, como o distanciamento social, uso de máscaras, lavagem de mão, uso de álcool em gel e o isolamento domiciliar."

Beto Preto destacou ainda que mesmo com mais de cinco meses de pandemia todas as pessoas querem voltar ao seu cotidiano normal. "Na função de secretário de Estado da Saúde tenho que afirmar que não será o normal de antes da pandemia. Será um novo normal com regras de etiqueta respiratória, de distanciamento. Temos que aprender a conviver com isso. Eu também acho que a população paranaense se inteirou do assunto coronavírus e já sabe que o cuidado é necessário e como se comportar. É claro que vira e mexe sai uma notícia de uma festa clandestina, de uma aglomeração em determinado local, mas isso é uma fração da comunidade", apontou.

Outra questão apontada pelo secretário foi sobre a taxa de ocupação de leitos continuar alta, principalmente na região Leste, que chegou a 89%. "No resto do Paraná essa taxa permanece equilibrada, com crescimento de 2 a 3% na macrorregião Norte", apontou. Ele afirmou que a estratégia foi não fazer hospitais de campanha e isso tem resolvido problemas à pedra de toque. "É mais fácil que contratar tudo novo. Eu tenho confiança de afirmar que a estrutura hospitalar do Paraná nos deu condições de fazer esse enfrentamento. Temos contrato com uma rede enorme de hospitais. Eles têm sido fundamentais na resolução de problemas. Até agora não faltaram leitos de UTI no Paraná, diferente do que ocorreu em outros estados. Há 54 hospitais na estratégia de enfrentamento à Covid-19 e estamos na luta todos os dias", argumentou.

Questionado sobre o índice de isolamento social baixo no Estado, que está em 35,1%, quando o ideal é um índice acima de 70%, ele afirmou que o isolamento permanece baixo, mas poderia ter ficado em apenas 10% se não houvesse a interrupção das aulas e a decisão de muitas pessoas de se manter apartados de seus familiares e da vida cotidiana, principalmente os idosos. "Alguns aposentados ainda vão ao banco buscar sua aposentadoria, mas as pessoas estão com menos mobilidade que tinham antes."

A reportagem também o questionou sobre qual seria o índice de transmissão da doença, conhecido como R. Ele afirmou que atualmente no Paraná o R é de 1,02. "Chegou a ser de 1,34. Por isso, insisto na necessidade de cuidado. Todo dia tem um R novo. Todo dia surgem pequenos surtos em instituições de longa permanência para idosos em diversos pontos do Estado", destacou. Se o R é superior a 1, cada paciente transmite a doença a pelo menos mais uma pessoa, e o vírus se dissemina. Se é menor do que 1, cada vez menos indivíduos se infectam e o número dos contágios retrocede. Para coibir o alastramento, o número de reprodução deve estar abaixo de 1.

Atualmente, 398 dos 399 dos municípios do Paraná registraram casos de Covid-19 (99.74%). Apenas o município de Boa Ventura de São Roque, na região Central, segue ileso. Em 277 (69,42%) deles houve registro de mortes. Beto Preto afirma que a secretaria auxilia e traça estratégias de combate, mas quem executa a operação de combate ao novo coronavírus são os municípios. "Abrimos novos leitos, novas oportunidades de atendimento, dialogamos com o pessoal da saúde, mas são os municípios que fazem esse combate, desde a entrada da UBS", pontuou.