Em Londrina, 40% dos resíduos sólidos gerados pela população de quase 580 mil habitantes são orgânicos. Esse montante de 120 mil a 130 mil toneladas de matéria orgânica geradas por ano têm como principal destino o aterro sanitário. O problema é que apenas 0,08% desse total passa pelo processo de compostagem.

Pesquisador do Ninter (Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Resíduos), vinculado à UEL (Universidade Estadual de Londrina), Felipe Nepomuceno Coimbra Santos aponta que um dos principais motivos do baixo volume de compostagem em Londrina é que a coleta diferenciada de orgânicos e rejeitos é realizada, desde 2011, somente no quadrilátero central da cidade.

“Na maior parte do território, a coleta é feita de modo misturado, isto é, não diferenciada, o que inviabiliza o aproveitamento dos materiais, transformando todo resíduo em rejeito, que é aterrado”, explica. Por conta disso, a média de compostagem na cidade fica na casa dos 0,08%, pouco abaixo da média nacional, que está em apenas 1%.

Dentre os principais problemas decorrentes do não aproveitamento correto dos resíduos orgânicos, a redução da vida útil do aterro sanitário é um dos mais notáveis. Com início das operações no final de 2010, o aterro sanitário conta com uma vala de volume aproximado de 252 mil metros cúbicos, podendo chegar a acumular 504 mil metros cúbicos de resíduos sólidos até 2026.

“Ao manter-se a taxa de geração de resíduos e o baixo índice de reciclagem e compostagem, em breve uma nova vala precisará ser projetada e sua construção licitada, acarretando novos custos aos cofres públicos, impactando na taxa de lixo anual paga pelos imóveis londrinenses”, detalha Santos.

Para reverter o cenário, aponta, o município precisa estabelecer políticas como um plano anual de investimentos vinculados à gestão de resíduos e um programa de educação ambiental que impulsione a conscientização da população.

Santos cita os exemplos de duas cidades catarinenses que adotaram diferentes ações para lidar com resíduos orgânicos, com resultados positivos. O primeiro é Rancho Queimado, com o Projeto R4 - Rancho, Reduz, Recicla, Recomeça, que leva composteiras para as residências de moradores. Por meio do programa, o município conseguiu reduzir em cerca de 60% a quantidade de resíduos orgânicos descartados no aterro sanitário.

Já em Florianópolis foi colocado em ação um programa de coleta seletiva porta a porta específica para resíduos orgânicos, em que foram distribuídas bombonas para armazenamento da matéria orgânica, tanto nas casas e condomínios quanto nas ruas da cidade. O projeto está em fase de ampliação.

Geógrafa da Sema (Secretaria Municipal do Ambiente), Mariza Pissinati explica que o descarte de matéria orgânica nos aterros contribui para o aquecimento global e as mudanças climáticas, já que a matéria orgânica em decomposição gera gases de efeito estufa. E ainda gera chorume, líquido que precisa ser tratado antes de ser devolvido à natureza.

“A operação do aterro e o tratamento do chorume constituem altos custos para a população e isso poderia ser revertido se os resíduos orgânicos fossem reintroduzidos em um novo ciclo de produção”, aponta. “A intenção é que haja pátios de compostagem descentralizados”, acrescenta, complementando que a participação do poder privado e de associações de bairro também é fundamental.

O assunto será discutido durante a Conferência Municipal de Meio Ambiente, no dia 20 de julho, como estratégia de sensibilização da sociedade civil e dos conselheiros que vão compor o Conselho Municipal de Meio Ambiente nos próximos dois anos.

Pissinati destaca que para os resíduos orgânicos, a solução mais viável é a compostagem, que é um processo biológico que transforma resíduos orgânicos em um material semelhante ao solo. “Ela completa o ciclo da planta, devolve nutrientes e aeração ao solo, aumenta a capacidade de retenção de água e promove a biodiversidade microbiana no solo, reduz os custos de operação de um aterro e reduz a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera”, enumera.

COMPOSTAR É RECICLAR

Docente do Departamento de Engenharia Ambiental do campus de Londrina da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Tatiane Cristina Dal Bosco explica que a reciclagem da matéria orgânica permite que os resíduos sejam convertidos em matéria orgânica, que podem ser utilizados na adubação de diversas culturas.

A professora explica que a compostagem pode ser feita em qualquer espaço, desde apartamentos até grandes áreas. “Desde uma composteira com potes de sorvete até em grande escala, para um município ou uma indústria”, afirma. Apesar dos benefícios, há especulações de que a compostagem gera odor, chorume e vetores de doenças, o que Dal Bosco afirma se tratar apenas de um mito. “Eu costumo dizer que a compostagem é um processo que acontece todos os dias na natureza. Não precisamos fazer muito. É só ajudar a natureza a fazer a sua parte”, destaca.

Em âmbito municipal, explica a professora, é preciso haver a separação do material reciclável, do orgânico e dos rejeitos. “Este é o maior desafio: viabilizar essa logística e custo de coleta para a implementação de pátios de compostagem municipal”, admite. Além disso, ela ressalta a importância da participação da população nesse processo. “Não precisamos depender apenas dos pátios municipais: podemos compostar em nossos quintais, sacadas, condomínios. É preciso assumir o protagonismo no gerenciamento desse tipo de resíduo, assim como fazemos com os recicláveis, e lembrar que compostar também é uma forma de reciclar”, reforça.