Pesquisas sobre carne celular avançam, mas popularização ainda está longe
Estados Unidos deve ser o primeiro país a alcançar o consumidor final; Anvisa já deu sinal verde à `carne de laboratório´ no Brasil
PUBLICAÇÃO
sábado, 04 de maio de 2024
Estados Unidos deve ser o primeiro país a alcançar o consumidor final; Anvisa já deu sinal verde à `carne de laboratório´ no Brasil
Lucas Catanho - Especial para a FOLHA
![Marcelo Szpilman, CEO da Sustineri Piscis, mostra bolinhos de robalo: pescado obtido por cultivo celular](https://www.folhadelondrina.com.br/img/Artigo-Destaque/3250000/400x0/Pesquisas-sobre-carne-celular-avancam-mas-populari0325033300202405040707-14.webp?fallback=https%3A%2F%2Fwww.folhadelondrina.com.br%2Fimg%2FArtigo-Destaque%2F3250000%2FPesquisas-sobre-carne-celular-avancam-mas-populari0325033300202405040707.jpg%3Fxid%3D6067778&xid=6067778)
As pesquisas sobre carne produzida em laboratório avançam a cada dia no Brasil, mas a popularização desse tipo de invenção ainda está longe de acontecer.
Vivian Feddern, pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, destaca que hoje o que se tem no Brasil são protótipos, porém mais testes ainda são necessários. “É necessário submeter a avaliação dos produtos desenvolvidos para os órgãos competentes, como a Anvisa e o Ministério da Agricultura e Pecuária”, pontua.
![A pesquisadora Vivian Feddern: Embrapa Suínos está com três pesquisas sobre carne celular no momento](https://www.folhadelondrina.com.br/img/inline/3250000/0x800/Pesquisas-sobre-carne-celular-avancam-mas-populari0325033300202405040707.webp?fallback=https%3A%2F%2Fwww.folhadelondrina.com.br%2Fimg%2Finline%2F3250000%2FPesquisas-sobre-carne-celular-avancam-mas-populari0325033300202405040707.jpg%3Fxid%3D6067780&xid=6067780)
A Anvisa já deu sinal verde à carne por cultivo celular no Brasil, ao publicar a Resolução RDC nº 839, em dezembro do ano passado. A norma dispõe sobre a comprovação de segurança e a autorização de uso de novos alimentos e novos ingredientes. Isso significa que a agência vai receber os produtos para autorizar o ingresso deles no mercado, após análise.
Não param de surgir novas pesquisas para produção de carne em laboratório. A pesquisadora pontua que várias instituições estão aprovando e elaborando projetos do tipo, como UFMG, Cefet/MG, UFPR, UFSC, Unicamp e USP.
A Embrapa Suínos e Aves, por sua vez, está conduzindo três pesquisas do tipo. Em 2021, a empresa pública participou do edital internacional do GFI (The Good Food Institute), sendo contemplada com a aprovação para criar uma carne de frango em laboratório.
As atividades começaram em 2022, quando chegaram recursos. A pesquisadora explica em que fase a pesquisa está no momento. “Estamos produzindo protocolos otimizados para produção dos miotubos que perfazem as fibras musculares, que são a etapa mais importante do processo, pois são eles que vão conferir o conteúdo proteico do produto.”
Além dessa pesquisa, a Embrapa Suínos está iniciando neste ano projetos com duas empresas, de Porto Alegre e de Niterói, para desenvolver “carne de laboratório”.
AVANÇO
Entre as pesquisas mais adiantadas nessa direção está a promovida pela Sustineri Piscis, primeira startup brasileira a produzir carne genuína de pescado marinho por cultivo celular.
As pesquisas começaram na startup há pouco mais de três anos, em janeiro de 2021. Em agosto de 2023, o bolinho de robalo foi servido numa degustação em um restaurante no centro do Rio de Janeiro, feito inédito realizado por uma startup no Brasil.
![Marcelo Szpilman, CEO da Sustineri Piscis, mostra bolinhos de robalo: pescado obtido por cultivo celular](https://www.folhadelondrina.com.br/img/inline/3250000/0x800/Pesquisas-sobre-carne-celular-avancam-mas-populari0325033301202405040707.webp?fallback=https%3A%2F%2Fwww.folhadelondrina.com.br%2Fimg%2Finline%2F3250000%2FPesquisas-sobre-carne-celular-avancam-mas-populari0325033301202405040707.jpg%3Fxid%3D6067781&xid=6067781)
Até o momento, foram produzidos em laboratório cerca de 500 gramas de carne de robalo em um biorreator de bancada com capacidade para 2 litros.
Esta primeira fase de pesquisas já consumiu R$ 5 milhões, produto de investimentos por parte do CEO e de outros seis investidores, entre eles o maior distribuidor de pescados do país.
A produção da carne por cultivo celular parte do robalo vivo, sendo que dele foram retiradas as células musculares e levadas ao laboratório, onde ocorre o processo de reprodução celular.
“Em um ano de pesquisas, foi possível atingir uma linhagem celular imortalizada, de modo que é possível produzir toneladas e toneladas de peixe a partir dessa matriz já obtida”, explica Marcelo Szpilman, CEO da Sustineri Piscis.
As células dessa linhagem são colocadas no biorreator, equipamento que faz com que as células cresçam e se reproduzam, transformando-se na massa proteica do robalo, ou seja, a carne de robalo.
FASES
A próxima fase da pesquisa da startup é promover o escalonamento e o barateamento dos custos de produção, com a aquisição de biorreatores com capacidades bem maiores de produção – de 50 e de 100 litros. Por fim, chega-se à fase industrial, quando se amplia a escala do produto.
Szpilman destaca que ainda não há uma projeção do montante de investimentos necessários para viabilizar essas fases, mas o prognóstico é positivo. “Estamos conversando com vários investidores e essa questão vai evoluir bem.”
Segundo o CEO, a expectativa é que essa carne de robalo chegue ao consumidor final até 2028, mas para que se popularize é preciso mais tempo.
NO MUNDO
A previsão é que neste ano, nos Estados Unidos, as empresas Upside Foods e Good Meat comercializem carne produzida em laboratório, já que ano passado ambas empresas obtiveram autorização para isso, após análise criteriosa da segurança dos alimentos que elas produzem.
![Imagem ilustrativa da imagem Pesquisas sobre carne celular avançam, mas popularização ainda está longe](https://www.folhadelondrina.com.br/img/inline/3250000/0x800/Pesquisas-sobre-carne-celular-avancam-mas-populari0325033302202405040707.webp?fallback=https%3A%2F%2Fwww.folhadelondrina.com.br%2Fimg%2Finline%2F3250000%2FPesquisas-sobre-carne-celular-avancam-mas-populari0325033302202405040707.jpg%3Fxid%3D6067782&xid=6067782)
“Para alcançarmos uma produção em grande escala com um preço acessível é necessário que os insumos utilizados na produção sejam mais baratos. Para tal, é necessário fomento para pesquisa nessa área. O preço final dependerá do valor dos insumos. Em teoria, é possível que a carne cultivada a longo prazo tenha um preço final mais acessível, esse é o objetivo”, pontua Vivian Feddern, pesquisadora da Embrapa Suínos.
Hoje, no mundo, não há nenhuma produção de carne a partir do laboratório que esteja em larga escala.
“Existem restaurantes nos Estados Unidos e em Israel que oferecem esta opção em seu menu, por exemplo. Eu diria que os países mais adiantados são os EUA, Singapura e Israel, pois já têm legislação neste sentido. Outros que possuem startups/empresas são a Holanda, onde tudo começou em 2013 com Mark Post, Alemanha, África do Sul, Austrália, China, República Tcheca, Coreia, entre outros”, conclui.
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