Ela era uma professora boa, mais humana que qualquer coisa, tipo mãezona, que lia fundo a alma do aluno. E tinha lá seus trinta e tantos alunos, sala diversificada, em todos os aspectos.

Seu bom humor combatia o cansaço, os obstáculos e os problemas sem solução de uma classe, como: o comportamento, a dificuldade de aprendizagem, a falta de recursos. Às vezes a gente se sentia impotente mesmo.

Diante disso ela reclamava para a coordenadora: “Olha, vou comprar uma passagem para o fulano para Curitiba. Só de ida...” E, sem ter o que fazer, ria. E continuava sua luta. Com calma, paciência, perseverança.

Um certo dia, trabalhando o tema “a casa”, com seus alunos de 2ª série, ia conversando e perguntando, até chegar a um deles, o mais humilde, de família numerosa, com muita dificuldade de aprendizagem, pelo qual a escola até tinha certa predileção, dada a situação dele e de sua família.

Ele disse que morava numa chácara. Na verdade, era um barraco num fundo de vale. Mas a professora valorizou e marcou um passeio com os seus alunos para conhecer a casa dele, fazer um piquenique na chácara do J. E foram todos muito alegres, barulhentos, a pé mesmo, porque ficava perto da Escola.

Depois ela veio contando, daquele jeitão de professora entusiasmada, com toda sabedoria e ternura, como o passeio havia sido bom.

O menino foi mostrando as árvores, a grama, a casa humilde, os animais domésticos. As crianças se encantaram, brincaram, correram, pararam para o lanche sentadas na grama, à sombra de uma árvore. Que leveza, que liberdade, que…gostosura era aquele lugar!

No dia seguinte eram só elogios, além da felicidade do aluno que, graças ao profundo olhar de uma professora, soubera transformar a tristeza em alegria, a desilusão em esperança, enfim, mostrando que não era o “diferente” pela sua condição social econômica, mas uma criança como todas as outras que tinha o seu tesouro escondido para revelar.

Além de incluí-lo, a professora soube promover a auto estima de uma criança pobre, marginalizada pela vida, pela sociedade, mas tornada igual dentro da escola.

Nesse momento em que espio pela janela do passado, voltando aos bancos escolares ou na profissão de professora das séries iniciais, revivo várias lembranças muito boas, nesse lugar tão rico em experiências como é a escola. Ela que escreve, literalmente e, em grande parte, a história de cada um.

Educação é isso! Nossas professoras, principalmente das séries iniciais e infantis, tem essa visão muito humana, essa sensibilidade, essa disponibilidade em promover, entre as crianças, a equidade, a dignidade, a cidadania e a alegria, numa fase tão importante e que para sempre vai marcar as suas vidas: a infância. Todos precisam e a ninguém pode ser negado o direito de ter uma infância feliz.

Estela Maria Frederico Ferreira, leitora da FOLHA