Cinco municípios paranaenses entraram para a seleta lista dos que registraram o VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária) acima de R$ 1 bilhão em 2023, aponta relatório final produzido pelo Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Seab (Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento).

Corbélia (R$ 1,05 bilhão), Chopinzinho (R$ 1,05 bilhão), Ortigueira (R$ 1,02 bilhão), Nova Santa Rosa (R$ 1,01 bilhão) e São Mateus do Sul (R$ 1,01 bilhão) figuram entre os 35 municípios com VBP bilionário.

Larissa Nahirny Alves, economista e coordenadora da Divisão de Estatísticas Básicas do Deral, explica que esses cinco municípios já haviam registrado resultados próximos dessa cifra em anos anteriores, com faturamentos oscilando entre R$ 800 milhões e R$ 900 milhões.

“Em comum, os resultados foram favorecidos principalmente pela recuperação das produtividades das lavouras de 1ª safra. No ano de 2022, o estado enfrentou uma severa estiagem e vários municípios tiveram suas produções impactadas por esse fator. Em 2023, por sua vez, tivemos excelentes resultados, com a soja atingindo produção recorde no Paraná”, analisa.

PARTICIPAÇÃO DA SOJA

A cultura da soja é o principal item nos municípios de Corbélia, Chopinzinho e São Mateus do Sul; a segunda principal em Ortigueira e a quarta em Nova Santa Rosa. “Como os municípios estão em regiões diferentes, há algumas peculiaridades. Observa-se também que algumas culturas específicas ajudaram no crescimento do VBP de 2023.”

A técnica acrescenta que, em São Mateus do Sul, a produção de erva-mate aumentou 19% e sozinha contribuiu com 1/5 do VBP do município.

“Em Nova Santa Rosa, mais da metade do resultado corresponde aos abates de frango e suínos, que totalizam R$ 534,9 milhões. A avicultura, desde a produção de ovos férteis até a comercialização de pintinhos e o próprio abate, exerce uma influência bastante significativa nos municípios de Corbélia, Chopinzinho e Ortigueira.”

Em Corbélia, na região oeste do Paraná, a produção de soja quase quadruplicou de 2022 para 2023, de 42 mil toneladas para 163,7 mil toneladas. Com isso, o VBP do grão passou de R$ 119,9 milhões para R$ 357,5 milhões, um crescimento de 198%.

Em Chopinzinho, no Sudoeste, mais da metade do VBP vem da soja e do frango de corte. Essas culturas renderam, respectivamente, R$ 238,3 milhões e R$ 235,4 milhões para o município em 2023. Destaque para o aumento no volume produzido do grão, que subiu 158%, de 50,3 mil toneladas em 2022 para 129,8 mil toneladas em 2023.

ORTIGUEIRA

Além do frango para reprodução (R$ 252,7 milhões) e da soja (R$ 247,6 milhões), que compõem metade do VBP de Ortigueira, na região dos Campos Gerais, os produtos florestais têm uma participação importante na geração de renda no campo. Em 2023, papel e celulose renderam R$ 136,76 milhões para o município, 31% a mais do que em 2022, quando o VBP desses produtos somou R$ 104,2 milhões.

Em Ortigueira, os produtos florestais têm participação importante na geração de renda no campo
Em Ortigueira, os produtos florestais têm participação importante na geração de renda no campo | Foto: alffoto/gettyimages

Nova Santa Rosa, no Oeste, se beneficia principalmente da produção de suínos, que gerou VBP de R$ 355,7 milhões no ano passado, seguida do frango de corte (R$ 179,1 milhões) e do pescado de água doce (R$ 95,9 milhões), que inclusive registrou aumento de 41% no rendimento comparativamente a 2022, quando rendeu R$ 68,2 milhões.

A tilápia, por sua vez, motivou o maior rendimento com o pescado de água doce, com o VBP saltando de R$ 64 milhões em 2022 para R$ 90 milhões em 2023, crescimento de quase 40%.

Gilberto Schweig, diretor do Departamento de Fomento Agropecuário e Meio Ambiente de Nova Santa Rosa, destaca que a cadeia produtiva da tilápia vem crescendo a cada ano no município. Entre 2022 e 2023, o crescimento se deu tanto no número de produtores (hoje são 103), como também houve aumento no valor pago aos criadores.

“Em 2022 foram produzidas 8,5 mil toneladas de tilápia para comercialização, a um preço médio de R$ 7,58 o kg do peixe vivo. Em 2023 houve um incremento de produção saltando para 9,8 mil toneladas. Ocorreu também uma melhoria no preço pago, com média de R$ 9,17 o km do peixe vivo, aumento de 21% de um ano para o outro”, compara.

Segundo Schweig, esse impulso se deve a diversos fatores, principalmente pelos investimentos feitos pelos produtores, seja com recursos próprios ou por meio de financiamentos bancários ou integradoras.

“Há também apoio do Poder Público Municipal e de parceiros como Seab e Itaipu Binacional, com convênios para incremento das infraestruturas como asfaltamento e calçamento de vias municipais, readequação de estradas, horas-máquina, aquisição de máquinas, cascalhamentos de estradas e taipas dos tanques de criação”, lista.

Os três principais produtos na composição do VBP de São Mateus do Sul, no Sudeste do Estado, foram a soja (R$ 325,1 milhões), a erva-mate (R$ 192 milhões) e o fumo (R$ 118,7 milhões). As três principais culturas registraram, respectivamente, aumento de 11%, 15% e 27% nos rendimentos entre 2022 e 2023.

OS 35 MUNICÍPIOS

Os outros 30 municípios com VBP acima de R$ 1 bilhão em 2023 são Toledo, Castro, Cascavel, Santa Helena, Guarapuava, Carambeí, Marechal Cândido Rondon, Dois Vizinhos, Assis Chateaubriand, Tibagi, Palotina, Francisco Beltrão, São Miguel do Iguaçu, Nova Aurora, Piraí do Sul, Palmeira, Lapa, Londrina, Arapoti, Ubiratã, Prudentópolis, Cianorte, Ponta Grossa, Cafelândia, Astorga, Missal, Pitanga, Medianeira, Pinhão e Irati.

TOLEDO TEM O MAIOR VBP DO ESTADO

Toledo, no Oeste do Paraná, continua sendo o município com o maior VBP do estado, totalizando R$ 4,6 bilhões em 2023. A produção de suínos para corte está no topo da atividade que gera mais riquezas, totalizando R$ 1,3 bilhão no ano passado – participação de quase 30% no VBP total.

A produção de suínos está no topo das atividades que mais geram riqueza em Toledo. município com maior VBP no Paraná
A produção de suínos está no topo das atividades que mais geram riqueza em Toledo. município com maior VBP no Paraná | Foto: iStock

O município ocupa essa posição desde 2012, ano em que Castro obteve o maior faturamento no Paraná. Nas 2ª e 3ª posições, os municípios de Castro e Cascavel trocam de lugar com bastante frequência. Em 2023, Castro foi o segundo, com R$ 3,9 bilhões, e Cascavel o terceiro, com R$ 3,8 bilhões.

Londrina é dona da 18ª posição entre os maiores VBPs do Paraná, atingindo a cifra de R$ 1,4 bilhão
Londrina é dona da 18ª posição entre os maiores VBPs do Paraná, atingindo a cifra de R$ 1,4 bilhão | Foto: Anderson Coelho/iStock

EM LONDRINA, SOJA É PROTAGONISTA

A soja é a maior protagonista nas propriedades rurais de Londrina – a cultura foi responsável por gerar 40% das riquezas advindas da produção agropecuária no município em 2023.

A estatística integra o VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária) definitivo, produto de levantamento realizado por técnicos do Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Seab (Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento).

Detentora do 18º maior VBP do estado, Londrina atingiu a cifra de R$ 1,4 bilhão, resultante de tudo que foi produzido pelo setor agropecuário dentro das porteiras no ano passado.

Desse montante, R$ 560,3 milhões vieram da produção de soja 1ª safra. Na sequência vêm o frango de corte e o milho 2ª safra, com participações de 12,3% e 11,4% no VBP total do município.

A área com cultivo de soja 1ª safra em Londrina ocupou quase 70 mil hectares de terras que produziram 256,6 mil toneladas do grão em 2023, de acordo com levantamento do Deral. Segundo o Censo Agropecuário do IBGE, são 640 propriedades que cultivam soja no município.

Willian Arc Meneghel, economista do Deral, analisa que a expansão da soja em área no município de Londrina depende do mercado, porém hoje não há muito espaço para crescimento.

“A expansão da cultura só ocorre se o preço estiver bom, o que vem acontecendo nos últimos anos. Hoje a expansão seria possível em áreas de pastagens, citros ou ocupadas por café, mas para se ter uma ideia, a área do café ocupa somente 1 mil hectares, então não há muito para onde ir”, pontua.

Como o maior desafio dos produtores, o economista cita as sensíveis mudanças climáticas. “Estamos com períodos maiores de estiagem, então o produtor precisa ter mais atenção nesse aspecto e não se ater somente ao controle de pragas”, acrescenta.

Diante desse desafio incontrolável que é o clima, Meneghel sugere a cobertura vegetal (como a braquiária, por exemplo) antes do plantio da soja para regular a umidade do solo. “Se o produtor não fizer essa cobertura, vai estar fora do mercado em pouco tempo”, destaca.

Segundo o técnico, este momento de incertezas em relação às condições climáticas faz com que o produtor tenha de buscar órgãos de pesquisas, como cooperativas e instituições privadas, em busca de meios tecnológicos para minimizar ao máximo essas adversidades.

“O produtor precisa ser eficiente ao máximo em busca de alcançar uma maior rentabilidade final decorrente do processo produtivo”, destaca.

MERCADO

O produtor rural Mylton Casaroli Neto começou a plantar soja em Londrina desde o final da década de 1970, após a geada negra, em substituição ao café. Hoje, o agricultor tem 300 hectares do grão cultivados.

No ano passado, o agricultor cultivou 900 toneladas no grão. Neste ano, a expectativa é ampliar o volume para 1 mil toneladas.

“Por enquanto, esperamos um mercado mais apertado em termos de preço de venda. A safra americana está se desenvolvendo muito bem e não temos, por ora, perspectiva de redução de produção no Brasil”, pontuou.

O agricultou relembra que, em agosto de 2023, o preço médio ofertado por uma cooperativa de Londrina foi de R$ 130,00 por saca de soja. Em agosto deste ano, o preço médio da mesma cooperativa caiu um pouco – para R$ 118,00.

PRÁTICAS

Para obter o melhor desempenho na produção de soja, Mylton adota algumas práticas. “Primeiramente, sigo rigorosamente as recomendações do agrônomo. Fazemos anualmente análise de solo e corrigimos os nutrientes. Trabalhamos com rotação de culturas, tanto no verão (soja e milho) quanto no inverno (trigo e culturas para cobertura vegetal)”, lista.

Entre os desafios do cultivo da soja, Mylton aponta a escala de produção. “Com a redução gradual das margens, uma escala maior passa a ser cada vez mais exigida. No caso de minha família, não temos interesse em aumentar a área, criando esse desafio”, acrescenta.

Hoje, 100% da produção de soja é comercializada no mercado interno. “Na verdade, a imensa maioria dos produtores brasileiros, incluindo muitos daqueles com dezenas de milhares de hectares plantados, vende no mercado interno, devido à dificuldade de venda no mercado externo, por conta da burocracia nos processos aduaneiros e na logística”, conclui.

RANKING

O ranking dos produtos agropecuários que mais geram riqueza em Londrina pouco se alterou de 2022 para 2023.

Levantamento do Deral mostra que a participação da soja também atingiu 40% do total do VBP do município em 2022, assim como no ano passado.

A diferença no ranking ficou entre o milho 2ª safra e o frango de corte, que trocaram de posição em um ano – o frango estava em 3º em 2022 (11,9% de participação no VBP) e subiu para 2º em 2023. O milho, por sua vez, estava em 2º (13,5% de participação) em 2022 e caiu para 3º no ano passado.