Não é preciso ter propriedade rural para investir no agronegócio. Financiar as operações de campo é atividade também de quem nunca teve sequer um pedaço de terra.

Marcelo Sousa Filho, especialista em investimentos e commodities da Kaza Capital explica que existem várias possibilidades de investimento no agro, do mais conservador ao mais arrojado.

As LCAs (Letra de Crédito do Agronegócio), por exemplo, são formas de investir no agro e financiar projetos diretamente do agronegócio. “São o investimento mais conservador da série, sendo que o investidor empresta para uma instituição financeira e essa repassa às empresas do agro”, explica.

Marcelo Sousa Filho: "São diversas empresas do agronegócio brasileiro listadas e que podemos adquirir e participar de seus lucros/prejuízos diretamente"
Marcelo Sousa Filho: "São diversas empresas do agronegócio brasileiro listadas e que podemos adquirir e participar de seus lucros/prejuízos diretamente" | Foto: Arquivo Pessoal

Os CRAs (Certificado de Recebimento do Agronegócio), por sua vez, são títulos de renda fixa que financiam diretamente as empresas do agro, com um risco de crédito atrelado à empresa investida. “Temos nessa modalidade desde perfil mais conservador até os mais arrojados”, pontua.

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Um exemplo novo de investimento é o Fiagro (Fundo de Investimento em Cadeias Agroindustriais), fundo que capta recursos de investidores para aplicar em ativos do agronegócio. Funciona de maneira similar aos fundos de investimento imobiliário, porém com foco nas cadeias produtivas agroindustriais.

“Ainda temos as ações. São diversas empresas do agronegócio brasileiro listadas e que podemos adquirir e participar de seus lucros/prejuízos diretamente. Alguns exemplos conhecidos são a SLCE3 e a Agro3”, exemplificou o especialista.

BOI, MILHO E SOJA

Dentro deste mundo de investimentos no agro, o investidor consegue negociar boi, milho e soja na Bolsa de Valores. “Você consegue isso por meio de derivativos, operações mais arriscadas que acompanham a oscilação de preço da commodity por determinado prazo”, exemplifica.

Outro exemplo de investimento no agro são os ETFs (Exchange Traded Fund), fundos de investimentos negociados na Bolsa de Valores.

“Esses fundos acompanham passivamente os futuros da commodity e o investidor participa da alta/baixa dos ativos.” Um dos exemplos é o CORN11, focado em contratos futuros de milho.

Sobre rentabilidade, o especialista pondera que depende do momento de vida do investidor.

“Cada ativo tem suas particularidades e riscos/retornos. O ideal é montar uma carteira diversificada e buscar um ganho médio agradável ao investidor. Temos no setor do agronegócio uma das maiores eficiências globais, mas ainda é pouco utilizado pelos investidores”, conclui.

MANEIRAS DE INVESTIR NO AGRO

O economista José Carlos de Lima Júnior, professor de pós-graduação da Harven Agribusiness School, explica que, de modo geral, é possível investir no agro de duas formas distintas, sem ser proprietário de terra.

“A primeira, com arrendamento. Nesse caso, o objetivo é ser remunerado diretamente pelo trabalho na terra. A segunda, com os Fundos de Investimentos nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros). Nesse caso, o objetivo é ser remunerado indiretamente pelo trabalho realizado por empresas especializadas (seja na produção de commodities, seja na comercialização e/ou arrendamento de ativos agrícolas - terra, infraestrutura e maquinários)”, diferencia.

O professor José Carlos de Lima Júnior lembra que o arrendamento também é uma forma de investir na agropecuária
O professor José Carlos de Lima Júnior lembra que o arrendamento também é uma forma de investir na agropecuária | Foto: Markestrat

O especialista acrescenta que, como muitas cadeias viveram excelentes anos (rentabilidade com valorização dos seus produtos commodities), os Fiagros receberam muita atenção nos últimos anos, com a abertura de vários fundos, sendo comparados com os Fundos de Investimentos Imobiliários (FIIs).

“No entanto, apesar do volume de investidores ter aumentado significativamente, muitos desses primeiros investidores passaram a incluir o Fiagro como parte da estratégia individual de diversificação de portfólio, sem entender as diferenças estruturais que há entre os dois mercados-foco desses fundos.”

O FII foca no setor urbano (imobiliário), enquanto o Fiagro foca no setor agro. “Portanto, a sazonalidade de mercado (momentos de alta e de baixa) é muito mais comum no agro (aliás, sazonalidade é parte básica do agronegócio, quando se pensa nos ciclos de cultivos de uma safra). Sob essa perspectiva, o Fiagro pode ter maior variação de rentabilidade do que um FII.”

Segundo o economista, dado que neste mês o preço das commodities se ajusta no mercado internacional (queda), gerando um quadro preocupantes de inadimplentes, selecionar criteriosamente o Fiagro é tão relevante quanto entender a sazonalidade do agro.

ORIENTAÇÃO É ESSENCIAL

Sobre os novos investidores no agro, Lima Júnior pontua que a orientação é essencial para cada decisão que seja nova.

“Há profissionais que se dedicam profissionalmente em estudar o Fiagro como opção de investimento. Em tese, esses profissionais são os mais capacitados em adequar os objetivos particulares do investidor com os riscos inerentes em qualquer investimento”, conclui.