Nesses tempos modernos, de tanta desordem social, natural e espiritual, a interação com o coletivo tornou-se intransponível, somos como ilhas, no máximo pequenos arquipélagos familiares.

Às vezes acontece de nos impressionarmos com certos acontecimentos tristes, mortes, violência e outros tipos de tragédia. Geralmente ficamos somente no ver, julgar, ficar triste e …nada mais.

Nos últimos dias, uma grande tragédia atinge o nosso país. A ferida é no extremo do mapa do Brasil.

De repente, um grito de calamidade emerge violentamente das águas e, sem nenhum respeito, sem poupar ninguém, vai levando vidas e sonhos, sufocando tudo e todos, sem piedade, num mar de enxurrada e lama.

Enquanto em algum lugar do nosso mapa, muitas pessoas ainda festejam e dançam, sem sentido, o coração de muitos brasileiros sofre a “dor do outro”; e esses se colocam numa grande ação, não só de cidadania mas de profunda solidariedade. De repente, a gente pode ver coisas boas na TV e nas redes sociais, além das coisas de sempre.

Aos momentos de pânico e desespero de alguns, somam-se a boa vontade e a disposição de muitos. É o País que, sem questionar nem pedir nada em troca, coloca o avental da fraternidade e vai servir, vai vestir a camisa do outro, do anônimo, do sofredor, do sem casa, sem água, sem comida, sem esperança … que agora só tem a vida (e a bendiz por ainda a ter). Seus sonhos estão adormecidos e interrompidos, mas vão acordar.

Quando a tempestade passar, as cidades voltarão a ser lindas e limpas, as flores ressurgirão nas calçadas e nos quintais, os bichos serão vistos nas ruas e nas casas, trazendo alegria aos donos.

Os rostos das crianças voltarão a brilhar e aquela nuvem de preocupação não será mais motivo para desesperar os homens e mulheres porque voltarão a ser fortes e valentes, fortalecidos pela experiência da dor.

Hoje é o dia da luta intensa e contínua, com o mesmo espírito: vencer os danos materiais, morais e humanos, as dores do corpo e da alma. Cada ajuda material, cada mão que se une, cada passo que se dá em prol do flagelado pela água é um sinal de esperança. E nessa esperança de reconstrução é que devemos focar, por tempo indeterminado e necessário.

Então virá o dia em que, sob as bênçãos de Deus e pelas mãos dos homens, a história será reescrita, as cidades reconstruídas e, entre as pessoas voltará a reinar a paz.

Com coragem e esperança, caminhemos para dias melhores. Força e fé, Rio Grande do Sul!

Estela Maria Frederico Ferreira, leitora da FOLHA