Imagem ilustrativa da imagem DEDO DE PROSA - O primeiro emprego
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Quando a gente termina a faculdade, fica com a cabeça fervilhando de ideias, motivada a colocar em prática tudo que aprendeu. Não imagina o quão difícil é iniciar uma carreira.

Voltei de Assis para casa e quase todos os meus irmãos estudavam e trabalhavam. O Dadá só fez o científico, casou-se e foi cuidar das nossas terras no Mato Grosso; o Idivar trabalhava na Skol e fazia Administração na UEL; a Idivanda estudava no Colégio São Paulo e ajudava na biblioteca; o Édson trabalhava na Viação Garcia e com a Eliana e o Sertão estudavam no Champagnat; mas ela também tocava na fanfarra do colégio e ajudava a cuidar dos nossos três irmãos menores.

O Zé (Sertão) tinha 14 anos, porém a mamãe decidiu que ele também tinha que trabalhar. Se não conseguisse, todos ajudariam a construir uma caixa de engraxate e ele iria engraxar sapatos. O Zé saía todas as manhãs e voltava à tarde. É que conhecera um protético, o Emílio, no Edifício Fuganti, que perguntou se ele queria aprender o ofício. O Sertão se interessou, aprendeu quase tudo sobre prótese e por três meses não ganhou nada; depois já ganhava meio salário. É um ótimo protético e trabalha até hoje. E eu, com um diploma na mão, também tive que sair à procura de emprego. Passava em todas as escolas e as diretoras sempre respondiam: ¨O quadro de professores está completo.¨

O Padre João Azevedo era o diretor do Colégio São Paulo. Conversando com ele sobre as dificuldades que estava tendo em arrumar aulas, uma vez que nunca lecionara, disse-me que iria abrir à noite, novas turmas de ginásio e científico e se eu aceitaria ficar com as aulas de português. Não acreditei e muito feliz, respondi que sim. Depois, consegui aulas no Colégio Londrinense, hoje demolido.

Havia noites em que saía apressada do Colégio São Paulo para dar as últimas aulas no Londrinense. O Dr. Hosken de Novais soube que eu queria lecionar em escolas estaduais, telefonou para a dona Aparecida Luz, Inspetora de Ensino. A Inspetoria funcionava num anexo do IEEL e, na distribuição de aulas do colégio, ela conseguiu que me dessem algumas, porque o Estado não faria concurso tão cedo. Esse foi o início dos meus 33 anos dedicados à Educação.

Certo dia, em casa, conversávamos sobre o nosso primeiro salário. A Idivanda comprou quase tudo em bolachas; o Édson, para comemorar o primeiro emprego, levou o papai e a mamãe pra comer pizza e suco de laranja no Armarinho Paulista, na Sergipe; o Sertão entregou todo o salário para nossa mãe. Eu só recordo que olhei os dois cheques do São Paulo e do Londrinense e nem acreditava que tudo aquilo era meu, fruto do meu trabalho; porque o Estado pagava só em agosto. Os professores compravam tudo a prazo pra acertar nesse mês. Eu tinha pena de quem não trabalhava em escola particular.

Hoje rezo por todos que nos ajudaram e agradeço a Deus pela vida, família, saúde, amigos e por nosso emprego.

Idiméia de Castro, leitora da FOLHA