O Paraná está entrando no período mais crítico quando se fala na ocorrência de incêndios florestais, com maior concentração de julho a setembro por conta da maior estiagem. Mesmo assim, o Estado já registra aumento das ocorrências de incêndios florestais neste ano em comparação a 2023. Em 2024, a média de ocorrências está em 25 por dia, volume 66% maior que a média registrada em 2023, que alcançou 15 ocorrências diárias. No ano passado, foram registrados 5.597 incêndios florestais no Paraná. Neste ano, até 13 de junho, foram atendidas 4.116 ocorrências do tipo.

Os incêndios trazem uma série de malefícios aos produtores rurais, conforme alerta Néder Maciel Corso, técnico do Detec (Departamento Técnico) do Sistema Faep/Senar-PR.

“Em condições mais severas, de baixa umidade relativa do ar e temperaturas acima do normal (como a que estamos verificando neste mês de junho), os incêndios florestais podem provocar prejuízos consideráveis relacionados a perdas materiais, ambientais e até risco de morte (animais silvestres e seres humanos)”, pontua.

CONSEQUÊNCIAS AO MEIO AMBIENTE

Entre os efeitos dos incêndios em áreas rurais, o técnico cita a destruição de nascentes de água, a redução da fertilidade do solo, acidentes com a rede elétrica e o aumento da poluição do ar, condição que pode causar ou agravar problemas de saúde, como doenças pulmonares e alergias respiratórias.

“Apesar de trazer consequências agronômicas negativas, não diria que os incêndios (fogo fora de controle) podem inutilizar por anos uma área de cultivo agrícola”, pondera.

No entanto, o técnico aponta que há um elevado custo envolvido para reverter os principais danos causados às áreas de cultivo.

“Os incêndios provocam alterações físicas (exposição direta à chuva, maior suscetibilidade a erosão) e biológicas (perda de micro-organismos benéficos do solo), condições que comprometem diretamente a produtividade da lavoura. Em condições de estiagem severa e calor excessivo, uma simples fagulha do motor de maquinário sem manutenção adequada, em contato com o capim seco, pode dar início a um princípio de incêndio”, acrescenta.

AGRAVAMENTO

Integrante da Câmara Técnica de Prevenção e Combate a Incêndio Florestal, a capitã do Corpo de Bombeiros Militar do Paraná, Luisiana Guimarães Cavalca, explica que o fenômeno El Niño em 2023 proporcionou um inverno mais chuvoso e com temperaturas mais elevadas no estado.

“Já em 2024, estamos passando por uma transição do El Niño para uma curta fase de não haver influência climática e, de acordo com o Simepar, iniciará a influência de outro fenômeno La Niña, com inverno mais seco e com temperatura baixa, mas um pouco mais elevada que a habitual, trazendo um ambiente propício para incêndios florestais”, pontua.

Devido a essa condição, a previsão é de um aumento ainda maior dos incêndios florestais neste ano.

LA NIÑA

“Interessante ressaltar que, nos últimos anos que o Paraná sofreu a influência do fenômeno La Niña, houve um aumento significativo nos incêndios florestais que atendemos. Os anos em questão foram os de 2019, 2020 e 2021, nos quais atingimos mais de 10 mil ocorrências dessa natureza atendida no Paraná em cada ano”, pontua.

Estudos não somente no Brasil, mas em nível mundial, mostram de que a cada 10 incêndios florestais, 9 (90%) são causados pelo ser humano.

“Esses dados são ainda mais surpreendentes quando percebemos que 50% desses incêndios ocorrem por incendiários, ou seja, o indivíduo queria iniciar um incêndio; e os 50% restantes são causados não propositalmente, de fogo que se perdeu o controle. Assim, percebemos que quase todos os incêndios florestais poderiam ser prevenidos, caso algumas atitudes preventivas fossem tomadas.”

Com o intuito de prevenir os incêndios florestais, 16 órgãos do Paraná (entre governo e entidades) lançaram uma campanha de prevenção aos incêndios florestais, incluindo uma cartilha para o público infantil de conscientização ambiental. O material pode ser acessado no site paranacontraincendioflorestal.com/.

PREVENÇÃO

Entre os cuidados que podem prevenir incêndios florestais, a capitã do Corpo de Bombeiros destaca: manter as edificações aceiradas (sem material vegetal no entorno); não utilizar o fogo como forma de limpeza de terreno; recolher material vegetal, pois pode ser potencial foco de princípio de incêndio; evitar realizar a queima de lixo e fazer a destinação de materiais como colchões e sofás, por exemplo, para órgãos competentes, com o intuito de descarte.

CURSOS

O Senar-PR oferta cursos de prevenção e combate aos incêndios florestais/ambientais desde 2010, quando desenvolveu material didático em conjunto com professores do Departamento de Incêndios Florestais da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e capacitou instrutores para atuar nas empresas de base florestal.

Informações sobre o curso de incêndios florestais (objetivo, conteúdo, carga horária, pré-requisitos) podem ser acessadas no link: sistemafaep.org.br/cursos-detalhes/?ETNumero=145.

Após a pandemia, também em função de ter sido um ano crítico em relação aos incêndios ambientais, o Senar-PR passou a ofertar cursos de prevenção e combate aos incêndios no meio rural. Mais informações: sistemafaep.org.br/cursos-detalhes/?ETNumero=563.

“Neste treinamento incluímos conteúdo relativo aos primeiros socorros, em função dos possíveis problemas de saúde e segurança envolvidos nas ocorrências de incêndios”, explica o técnico da Faep.

O Senar-PR também oferta cursos voltados à capacitação de brigadistas prediais (incêndio em instalações), em acordo com a Norma de Procedimento Técnico (NPT 017) do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Paraná (CBPM-PR). Mais informações: sistemafaep.org.br/cursos-detalhes/?ETNumero=115.