De acordo com o Censo Escolar 2021, divulgado neste ano, as escolas públicas do Brasil ficaram 287 dias fechadas, desde o início da pandemia, em março de 2020. O reflexo disso foi uma perda de aprendizado em todas as etapas da educação. Recuperar o que foi perdido ou sequer aprendido é considerado um dos principais desafios da educação agora que a retomada das aulas presenciais é uma realidade para todo o país.

A complexa tarefa de recuperar as aprendizagens com foco na equidade foi tema do Seminário Melhoria da Educação, do Instituto Itaú Social, realizado recentemente e que discutiu como enfrentar um dos principais desafios durante a pandemia: garantir a aprendizagem adequada dos estudantes. Um dos temas abordados trata das ações para combater as desigualdades na educação: “Se você quer entender como a educação funciona, precisa levar em conta duas dimensões: o nível de aprendizado e a desigualdade," alertam.

ATENÇÃO PERSONALIZADA

A Gerente de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação, Adriana Haruyoshi Biason explica que o objetivo da recomposição da aprendizagem é acolher os alunos que não se apropriaram dos conteúdos necessários no período da pandemia. "Apesar de todos os esforços de professores e famílias, precisamos ter essa clareza de que os alunos nessa etapa dos anos iniciais precisam dessa mediação do professor e do atendimento presencial", afirma.

Adriana Haruyoshi Biason, Gerente de Ensino Fundamental: "Recomposição não é reforço. É reorganizar os níveis de conhecimento"
Adriana Haruyoshi Biason, Gerente de Ensino Fundamental: "Recomposição não é reforço. É reorganizar os níveis de conhecimento" | Foto: Divulgação

Biason esclarece ainda que o trabalho atual é diferente de um reforço ou apoio. "A recomposição tem a perspectiva de dar um atendimento específico de acordo com o nível do aluno: onde ele está em termos de conhecimentos acadêmicos e seu nível de desenvolvimento e apropriação da leitura, escrita e conhecimentos matemáticos".

A prática da recuperação da aprendizagem nas escolas municipais de Londrina é um dos caminhos e soluções para a gestão da educação municipal no contexto pandêmico, buscando a recuperação das aprendizagens de forma equitativa. Os profissionais da área elaboraram a avaliação diagnóstica, flexibilização curricular, reorganização das atividades pedagógicas e acompanhamento das aprendizagens para dar continuidade aos estudos.

Os especialistas reconhecem que é urgente garantir a aprendizagem adequada para todos os estudantes e o cenário imposto pela pandemia aprofundou ainda mais as desigualdades, mesmo quando houve ensino remoto adequado. Assim, na prática, as escolas estão dando conta do recado e, em ação, fazem o atendimento dos alunos para que todos avancem os anos com o conhecimento necessário.

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Na Escola Municipal Joaquim Pereira Mendes, localizada na região sul de Londrina, o ano letivo começou com um compromisso a mais: alinhar a formação de cada aluno ao ano em que está matriculado.

Valdirene Guiraldelli, diretora da escola Municipal Francisco Pereira Mendes: "Montamos uma recuperação paralela ao ensino, mas quem tem disponibilidade vem também para o contraturno"
Valdirene Guiraldelli, diretora da escola Municipal Francisco Pereira Mendes: "Montamos uma recuperação paralela ao ensino, mas quem tem disponibilidade vem também para o contraturno" | Foto: Walkiria Vieira - Grupo Folha

De acordo com a diretora da unidade, Valdirene Maria de Oliveira Guiraldelli, a orientação chegou por meio da Secretaria Municipal de Educação e a estratégia é dedicada aos estudantes de 3 º ao 5º ano. Com o empenho de todos os professores e auxiliares, o trabalho está fluindo. "Montamos uma recuperação paralela ao ensino para não termos que obrigar os pais a trazer os estudantes, pois eles chegam de vários bairros, mas quem tem disponibilidade, vem para o contraturno", detalha a diretora da escola.

Para transformar o quadro de defasagem, um professor dedica-se a reforçar as disciplinas que indicam a necessidade de serem recuperadas para que o aluno esteja apto a assimilar novos conhecimentos, sem pular etapas. " Tanto de Língua Portuguesa, como Matemática, a Recomposição de Aprendizagem é uma necessidade e temos feedback muito positivo dos pais", declara Guiraldelli.

Com 635 alunos matriculados, a Escola Municipal Joaquim Pereira Mendes, assim como as demais escolas da rede, reconhece que a distância da escola, ainda que o estudo online tenha sido ofertado, tem seus reflexos e isso precisa ser corrigido com dedicação a cada aluno. "Por isso o nosso empenho para que venham é grande. Nossa comunidade escolar vem de diferentes bairros e os pais também estão se esforçando para que o resultado seja o melhor", reforça a diretora.

DEFASAGEM E DESIGUALDADES

Coordenadora de 3º a 5º ano da Escola Municipal Arthur Thomas, Giovania Prestes considera a ação de diagnosticar e nivelar o conhecimento conforme o ano escolar do educando uma missão fundamental. "A escola já vinha planejando realizar um trabalho nesse sentido ao observar as dificuldades das turmas e as expectativas não atingidas", expõe.

De acordo com a coordenadora, a orientação da Secretaria Municipal veio ao encontro dos anseios de todos e por isso o período de contraturno tem sido dedicado a essa meta. "Estamos insistindo muito para que os responsáveis tragam os alunos e nosso auxiliares, que antes se dedicavam a tarefas como preparar provas e tantas outras atribuições da função, dedicam-se agora exclusivamente a dar atenção ao aluno em relação ao que foi ensinado e que não foi assimilado como deveria para que ele atinja o nível ideal de conhecimento", relata.

Ao observar cada aluno, Prestes aponta que as diferenças se acentuaram com a pandemia. "Os níveis estão muito diferentes. Tem aluno do 3º ano que não está alfabetizado. Isso é ruim e um reflexo da pandemia. A coordenadora afirma que já era sabido que voltariam sem o preparo esperado. "Vimos como é grande a defasagem escolar e os exemplos são muitos. Há alunos do 4º ano que não estão lendo e não podemos fechar os olhos para isso".

A coordenadora reafirma que esse trabalho de recuperação paralela é um resgate e também um reconhecimento ao trabalho dos professores. "Sabemos também que embora os alunos tenham recebido atenção dos familiares, ensinar matemática requer material concreto". A Escola Municipal Arthur Thomas oferece aula em dois períodos e a unidade atende 600 alunos.

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