Histórias se somam e, ao longo da vida, o conjunto de ações de cada indivíduo representa suas vivências, sua trajetória, sua biografia e sua própria história. "Cada um de nós compõe a sua história/ E cada ser em si carrega o dom de ser capaz /De ser feliz", traz a letra da canção "Tocando em Frente", de Almir Sater. As histórias contadas pelos avós, ainda que na simplicidade de sua formação, as lidas pelos pais na hora de os filhos dormirem ou aquele tio que rouba a cena nos encontros familiares pela habilidade de contar suas experiências, piadas e até suas pescarias, sempre têm grande êxito.

Daniella Fiorucci, contadora de histórias e produtora  do ECOH, em ação: despertar o interesse dos alunos pelo conhecimento é uma das funções da contação
Daniella Fiorucci, contadora de histórias e produtora do ECOH, em ação: despertar o interesse dos alunos pelo conhecimento é uma das funções da contação | Foto: Divulgação

Nesse processo de construção de experiências, a Educação atua como protagonista na formação de repertório dos estudantes. Os professores, seja na explicação de uma fórmula matemática, em uma aula de história, ou no momento de ensinar sobre Artes, Geografia e Língua Portuguesa, por exemplo, precisam ser bons contadores, didáticos e objetivos. Precisam atuar de modo a serem entendidos por cada indivíduo e destrinchar a informação de modo que ela encante os alunos, desperte o interesse e mova o aluno a pensar, criar e desenvolver suas habilidades em cada contexto em exposição.

Os contadores de histórias, por sua vez, são capítulo à parte na arte da narração. A entonação da voz, o gestual e o olhar são ferramentas a serem citadas. Dentro de um biblioteca, em uma sala de aula, numa roda ou em um palco improvisado em uma praça, os profissionais mostram a que vieram e sabem encantar pessoas de diferentes idades. Dos contos de fadas às lendas populares e personagens folclóricos, o contador cria uma relação de confiança com seu espectador e sua história, ainda que já conhecida em outras versões, torna-se única. O contador está ali: presente, entregue, por inteiro e prende a atenção.

DA TEORIA À PRÁTICA

Nem a pandemia interrompe a Educação. Adaptada e à distância, os idealizadores do projeto Circulação do ECOH (Encontro de Contadores de Histórias) são prova de que a vontade de contar histórias de professores das redes municipais justifica o acesso a oficinas e material pedagógico de apoio do projeto específico para a educação.

11 prefeituras do Paraná firmaram parceria com o projeto, por meio de carta convite, com o objetivo de receber conteúdos que auxiliem os educadores a trabalharem as histórias em sala de aula. São elas: Astorga, Bela Vista do Paraíso, Ibiporã, Imbaú, Prado Ferreira, São Sebastião da Amoreira, Uraí, Ortigueira, Pitangueiras, Jaguapitã e Cornélio Procópio.

De acordo com a Secretária de Educação do Município de Pintagueiras, Valquíria da Silva Santos Corrêa, a contação de história é um trabalho sempre incentivado junto aos professores. "Contribui muito para o desenvolvimento e aprendizagem do aluno". A partir dos quatro meses até o 5º do Ensino Fundamental. "Trata-se de um recurso e uma estratégia de ensino que favorecem o desenvolvimento psicológico superior: a imaginação, a atenção, a percepção, a memória, a criatividade - elementos essenciais para o psíquico e cada indivíduo", ratifica a secretária.

Mas para que a atividade tenha o resultado almejado, segundo a secretária, é crucial que o professor planeje, organize o espaço, o tempo e esteja presente por inteiro de forma que desperte o interesse dos alunos. "A criança nota a preparação, o planejamento e para ela é um momento de encantamento, pois a postura, os gestos, a verbalização da história é que fazem a diferença na retenção de atenção e interesse. De acordo com Corrêa, a proposta não se limita ao momento da contação. "O livro vai para casa, as famílias se comprometem e os momentos em casa são importantes para caminharmos juntos no processo de formação", explica.

Daniella Fiorucci: o encantamento da contação de histórias está na criatividade dos contadores que despertam a atenção e a sensibilidade da plateia
Daniella Fiorucci: o encantamento da contação de histórias está na criatividade dos contadores que despertam a atenção e a sensibilidade da plateia | Foto: Valéria Félix/ Divulgação

Ao todo, três vezes por semana, a contação é realizada e está inserida no currículo escolar. A atividade perpassa por todas as disciplinas- Língua Portuguesa, Educação Física, Artes, por exemplo. Em Pitangueiras, a prática é realizada no Centro Municipal de Educação Infantil - CMEI Criança Feliz e na Escola Municipal Santo Antonio - que conta com 172 alunos d Educação Infantil e 198 do Ensino Fundamental. "O recurso cabe em biblioteca, sala de aula e também em momento de deleites, revela a secretária de educação.

OFICINAS VALORIZAM A ATIVIDADE

Durante o evento, quatro oficinas “Histórias das histórias” foram programadas em modo virtual, entre os dias 14 e 23 de setembro, com duração de 2h30, cada uma. Já é sabido que as histórias são fontes maravilhosas de experiências, meios preciosos de ampliar o horizonte das pessoas e aumentar o conhecimento sobre o mundo e sobre si mesmo. Nas histórias, a humanidade reconhece a si mesma, reconhecendo seus temores, seus valores, seus desejos, vontades, ideias, amores, sentimentos.

“Essas oficinas pretendem mostrar na prática como podemos despertar histórias das histórias, valorizar as situações lúdicas de aprendizagem, potencializar o desenvolvimento da oralidade e, consequentemente, da escrita e dos processos de percepção e compreensão. Também queremos ampliar o sentido de como olhamos os contos, mergulhar no contexto, construir interações e brincadeiras,com um olhar para o processo autônomo e criativo do educando”, explica a produtora do ECOH e ministrante das oficinas, Daniella Fioruci.

De seu ponto de vista, toda pessoa pode ser uma contadora de histórias e dentro da educação a ação do narrador tem um valor muito grande, pois transmite credibilidade. "A arte de narrar histórias durante muito tempo para a Humanidade foi uma arte muito viva, se fazia muito presente e, no começo do século XX, Walter Benjamin escreve um texto falando sobre a importância da comunidade ter um narrador e que isso estava se perdendo. Enquanto formação profissional, a contação é aberta no mundo, está se fazendo e permite que as pessoas vão se descobrindo quem ela é como contadora e esse processo segue para sempre.

Fioruci reforça que as histórias trazem sabedoria acumulada durante séculos e falam se sentimentos e colaboram para a formação do ser humano.

MATERIAL PEDAGÓGICO

Gracieli Maccari, produtora do ECOH e professora da Educação Infantil: oficinas garantem um espaço onde se pode refletir sobre a aprendizagem do conto
Gracieli Maccari, produtora do ECOH e professora da Educação Infantil: oficinas garantem um espaço onde se pode refletir sobre a aprendizagem do conto | Foto: Divulgação

Além das oficinas, cada prefeitura recebe material pedagógico de apoio em PDF que é encaminhado para ser utilizado pela coordenação pedagógica das escolas. "Estas ações fazem parte do ECOH Pedagógico,que integra o projeto Circulação do ECOH. Por meio das oficinas, queremos garantir um espaço que se possa instigar, refletir e despertar situações lúdicas de aprendizagem sobre o conto, a história ouvida/ vista, ajudando na implementação de ações que aprofundem o sentido da narração no espaço escolar”, afirma a produtora do ECOH e professora da Educação Infantil, Gracieli Maccari.

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