SAN DIEGO, EUA - "O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder" pode até ter não uma, mas duas menções ao acessório no título, e ainda assim eles demoraram a aparecer na primeira temporada da megassérie do Amazon Prime Video. Só em seu episódio final vemos os objetos sendo confeccionados, a fim de ajudar os elfos em sua guerra contra as forças do mal de Sauron.

Ao voltar para sua segunda temporada nesta semana, a trama promete dar o protagonismo pelo qual os anéis clamam. Enfim teremos dedos adornados por eles, que nos novos episódios vão inspirar desavenças entre aliados, acrescentando drama e complicações à defesa da Terra Média.

Fora das telas, também, não falta lugar para disputa. Antes mesmo de lançada, a primeira temporada de "Os Anéis de Poder" gerou debates acalorados pela decisão dos produtores de transformar o universo fantasioso criado por J.R.R. Tolkien num antro de diversidade.

Na nova versão, elfos podiam ser negros, contrariando o que se viu não apenas nas bem-sucedidas adaptações cinematográficas de sua obra, como no cânone da fantasia no cinema e na televisão - mas não na escrita de Tolkien, em que elfos, humanos, anões, hobbits e orques representam as diferentes raças, não a cor da pele.

MAIS REPRESENTATIVIDADE

Em seu retorno, "Os Anéis de Poder" não apenas amplia o protagonismo de alguns de seus personagens interpretados por atores de grupos pouco representados, como ainda sugere que um romance queer está prestes a florescer na Terra Média.

"Talvez vocês já tenham visto um personagem LGBTQIA+", disseram os produtores Patrick McKay e J.D. Payne no painel da série na San Diego Comic Con, mais importante feira de cultura pop do mundo, que aconteceu na Califórnia no mês passado.

Sem dar mais detalhes, os dois se reuniram com jornalistas no dia seguinte para retomar este e outros assuntos. Na conversa, reforçaram o compromisso da produção com a diversidade, destacando que "O Senhor dos Anéis" é uma história que pertence a todos, e que existe há tempo suficiente para que opiniões sobre o que ela deveria ou não ser pouco importem.

"Esta é uma história sobre uma comunhão, sobre como personagens de diferentes espécies e culturas se juntam pelo bem comum. Portanto, uma série com um elenco tão diverso quanto o mundo em que vivemos parece estar em harmonia com o que Tolkien escreveu", diz a dupla sobre o autor, há anos alvo de disputas entre estudiosos que defendem o antirracismo de sua obra e aqueles que veem nela o reforço de estereótipos e preconceitos.

Nova safra de episódios traz mais disputas e ação
Nova safra de episódios traz mais disputas e ação | Foto: Divulgação

Vítima da maioria dos ataques racistas recebidos na primeira temporada, o porto-riquenho Ismael Cruz Córdova diz não ter se abalado. Um poço de carisma, ele é talvez quem tenha conquistado a maior fatia de fãs entre seus colegas de elenco, todos pouco conhecidos e que, por isso, não causaram grande comoção quando vieram ao Brasil, na semana retrasada.

"Nós temos um trabalho a fazer, e eu sinto que essa discussão é algo que temos que levar adiante de forma coletiva. É algo que me anima, mas se alguém não gostar disso, que seja feliz assistindo a qualquer uma das outras milhares de séries disponíveis por aí", diz o ator.

Ao seu lado, Sophia Nomvete, intérprete da anã Disa, é mais incisiva. "Não é algo que a gente tenha conseguido fazer sem enfrentar desafios, mas eu posso dizer, com segurança, que não acho que Tolkien gostaria de um acesso exclusivo à Terra Média [para pessoas brancas]", afirma ela.

Por maior que tenha sido a gritaria de uma parcela dos fãs de "O Senhor dos Anéis", diversidade vende. Se motivos nobres não são o suficiente para que ela apareça em cena, ao menos o lado comercial da indústria vem se encarregando de mitigar o problema.

Assim, engrossam o coro de Córdova e Nomvete os atores Maxim Baldry, de ascendência armênia e que interpreta Isildur, Alex Tarrant, maori e responsável por Valandil, Tyroe Muhafidin, filho de indonésio que vive Theo, e Cynthia Addai-Robinson, como a poderosa rainha regente Míriel. Selina Lo, britânica descendente de chineses, é a nova adição ao pelotão de elfos da segunda temporada.

Mais ação também é o que prometem os produtores nesta nova safra de episódios. Com cada capítulo de cerca de uma hora da primeira temporada orçado em US$ 90 milhões, ou R$ 495 milhões.

O repórter viajou a convite do Amazon Prime Video.