18h40, vejo passar o ônibus que vai para o Conjunto Vivi Xavier, na zona Norte de Londrina. Lento, ele carrega pela rua Pio XII trabalhadores em pé ou sentados, voltando de mais um dia. Não vejo nenhum sorriso enquanto o ônibus passa, seguido por uma fila de carros já com faróis ligados. Vão todos bufando, soltando a fumaça, fazendo o barulho dos motores a diesel ou a gasolina, rompendo um silêncio que, nesta hora, combinaria mais com "a noite envolvendo Londrina", como na valsa de Arrigo Barnabé.

Não há nada que envolva a cidade, a não ser o céu onde um balé de pássaros busca abrigo para o pouso, tão diferente do balé dos homens. Penso que, definitivamente, a humanidade escolheu um caminho sem volta, de muito barulho, cansaço e, pelas aparências, de pouca felicidade no cotidiano.

Alguns motoristas vão parar em supermercados e padarias, levar para casa o alimento conseguido por um esforço que, há muito tempo, roubou parte da alegria. Eles vão voltar para os carros carregando sacolas, na verdade um peso somado com o da existência, dando graças a Deus por ainda poder comprar. Mas a que preço sobrevivemos?

O pai grita com o filho na volta da escola, ele queria gritar com o trânsito, com a lentidão dos automóveis e seu desejo urgente de chegar em casa pelo menos a 40 km por hora. Mas a marcha é lenta e, na vida apressada, a paciência forçada é uma ladra de sorrisos. Descubro, enfim, a vilã que transforma rostos de homens e mulheres em carrancas tristes, nas janelas dos ônibus e dos carros, às 19h.

Tem muitas coisas que roubam nossos sorrisos, do dia de trabalho ao dia do salário uma série de contrariedades cabe na metáfora do trânsito. Daí tantas discussões e até a violência, enquanto os homens sorriem menos para acelerar ainda mais aquilo que escapa ao seu controle.

A vida seria outra se pudéssemos sair e voltar para casa com a tranquilidade que os semáforos subvertem naquelas luzes em três tempos: verde, amarelo, vermelho. E os afoitos ainda atravessam o sinal, no ímpeto de atravessar a existência num ato contido da rebeldia que toma o lugar da liberdade das coisas simples.

Na volta para casa, costumo parar em lanchonetes e bares do centro de Londrina, um hábito para viver a urbanidade a pé, sem me enfiar num ônibus ou carro que já dispensei sem nenhuma saudade dos impostos, da troca de pneus, da fila do abastecimento nos postos.

A alegria de andar a pé é para quem tem o privilégio de morar perto do trabalho. No meu caso, escolhi morar no centro e dispensar o transporte para tentar ganhar qualidade de vida. Mas não é assim para todo mundo, a maioria faz parte das filas para pegar os ônibus que param rangendo freios, uma sinfonia dos diabos que marca o dia de milhares de pessoas, uma, duas, três vezes.

No entardecer, um balanço da civilização passa pelas ruas e avenidas. Um saldo que só é zerado quando quase todos estão recolhidos, depois de enfrentar a serpente de faróis que dobra esquinas, o olho da civilização avançando sem trégua sobre as cidades, enquanto espreito o movimento em busca do tempo perdido.