SÃO PAULO, SP - Morreu na madrugada desta segunda-feira (5) o músico e compositor Rubens Antônio da Silva, mais conhecido como Caçulinha, que se tornou célebre por fazer a trilha do Domingão do Faustão por mais de 20 anos. Ele tinha 86 anos e se recuperava de um infarto, há dez dias, no Hospital Sancta Maggiore, em São Paulo.

Segundo nota publicada nas suas redes sociais, o velório será na capela do Cemitério São Paulo, às 11h, e o sepultamento será às 16h, no mesmo local.

"Uma vida de dedicação à música popular brasileira. O maestro, com ouvido absoluto, que tocou com os grandes artistas, gravou mais de 30 discos e divertiu muita gente por 60 anos na televisão, deixa um legado imenso de amor à arte", afirma a nota.

TRAJETÓRIA

Nascido em Piracicaba, no interior paulista, em 1938, foi criado numa família musical, herdada do pai, Mariano de Silva, compositor sertanejo de sucesso na região, que formou com o irmão Caçula, tio de Caçulinha, a primeira dupla sertaneja a gravar disco no Brasil. Após o tio desistir da carreira para se dedicar à fazenda, pai e filho tocam como o duo Mariano e Caçulinha. O apelido de Caçulinha vem do tio.

Aos oito anos, já tocava acordeão, e exibia sua habilidade com o ouvido absoluto —capaz de identificar ou recriar qualquer nota mesmo sem tom de referência. Aos 20, já se apresentava na noite paulistana entre o piano, violão, acordeão e escaleta.

Foram mais de 30 discos gravados —o primeiro solo em 1959; o último, em 2019, para celebrar os 60 anos de carreira na música e na televisão— e colaborações com nomes como Luiz Gonzaga, como na música "Sabido", e "Arrasta-pé na Tuia" em conjunto com Lourival dos Santos e a valsa "Primeiro Amor".

Ao longo da carreira, acompanhou também músicos como Dominguinhos, Gonzaguinha, Roberto e Erasmo Carlos, João Gilberto, Simonal, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, Milton Nascimento e o norte-americano Tony Bennett..

TRILHAS SONORAS

Antes do Domingão do Faustão, que deu a ele projeção sem igual por fazer a trilha sonora ao vivo por 20 anos, sua carreira esteve ligada à TV desde os anos 1960, quando foi contratado pela Record para para participar do programa Fino Trato, apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues. Na emissora, faria ainda Esta Noite se Improvisa e Bossaudade.

Nos anos 1980, foi para a Bandeirantes com o programa Caçulinha Entre Amigos, seguido do Perdidos na Noite, apresentado por Fausto Silva. Essa parceria se estenderia com a ida do apresentador à Globo, a partir de 1989. Caçulinha permaneceu no programa até 2009, quando foi demitido do programa após, segundo publicou a Folha na época, ter feito críticas ao próprio Faustão, sobre o programa.

Durante o período na emissora, de onde seria desligado em 2014, fez também músicas incidentais no humorístico Sai de Baixo. De lá, foi para a Gazeta, acompanhando Ronnie Von em Todo Seu, com o quadro "Causos e Canções", contando histórias conforme tocava ao piano. Deixou a emissora paulistana em 2019.

POR QUE ELE FOI ENTERRADO DE ÓCULOS?

Caçulinha está sendo velado de uma maneira diferente: o músico está usando óculos.

Ao UOL, Andrea Cavalheiro, sobrinha do artista, explicou que ele adorava o acessório, principalmente o modelo com o qual será enterrado.

"Ele tem coleção de óculos, e não se via mais sem", disse Andrea Cavalheiro, ao UOL.

Caçulinha pediu para usar o acessório até mesmo quando estava no hospital. "Foi a primeira coisa que ele pediu."

O apego aos óculos levou a família a decidir pela singela homenagem. "Já que ele gostava tanto, deixa ele ir com seus óculos, essa característica dele. Então, ele será enterrado com óculos".

Wanda Cavalheiro, única irmã do músico, recebeu amigos e familiares. Ao UOL, ela disse que Caçulinha estava com a família quando teve o infarto.

"[Caçulinha] ficou conhecido com o que ele sabia fazer. Só trouxe alegria para o Brasil, para o mundo. A vida dele era definida por música, música, música, sempre", disse Wanda Cavalheiro, irmã de Caçulinha.

FAUSTÃO LAMENTA A MORTE DO AMIGO

Fausto Silva, 73, lamentou a morte do músico Caçulinha. Os dois trabalharam juntos por mais de duas décadas no "Domingão do Faustão" (Globo).

"Caçula é um dos meus amigos mais antigos, somos amigos e irmãos desde 1965. Eu o conheci apresentando a um programa de rádio chamado rádio Baile, em Campinas, desde lá tivemos um convivência absurda de viajar junto, de dividir a vida junto, de curtir os altos e baixos da vida. Foi um prazer ter trabalhado com ele. Um ótimo caráter, um cara criativo que convivi bastante", disse Faustão.

O apresentador disse que músico teve "estrutura de vida extraordinária". "Meu único consolo é que ele teve uma estrutura de vida extraordinária. Uma irmã, a Wanda, que foi excelente e as sobrinhas que deram a ele todo o carinho e dignidade como ele mereceu".

"Ainda bem que ele não sofreu tanto como em algumas doenças, ele viveu e entrou no grande baile da vida, fez história e deixará saudades!"

Caçulinha passou 26 anos fornecendo "música incidental" para o Domingão do Faustão. A parceria com Fausto Silva começou na Band, migrou para a Globo, enfrentou boatos de briga e virou amizade fora das câmeras.