“Um Prato Cheio de História – Comida Multicultural em Londrina”, livro escrito pelo jornalista e compositor Bernardo Pellegrini e pelo escritor Maurício Arruda Mendonça, passeia pela história da gastronomia e da alimentação londrinense. Em formato de almanaque ilustrado, a obra resgata a memória cultural e afetiva da culinária da cidade.

Traz um amplo panorama da culinária praticada em Londrina ao longo de seus 90 anos de existência. Começa com a comida dos pioneiros, a cozinha caipira, passa pela primeira padaria, primeira fábrica de shoyo, o Salão de Chá Fuganti, a Cervejaria Londrina, os primeiros restaurantes de comida italiana, japonesa, alemã e chinesa, os buffets pioneiros, o suco da Rodoviária, a vitamina da Sergipe, os bares das décadas de 1970 e 1980, a comida de rua, as escolas de gastronomia, a comida de boteco, os corredores gastronômicos, até chegar nos dias de hoje comprovando o multiculturalismo da comida londrinense.

Restaurante do Toninho, nos anos 50, na Vila Matos: da zona boêmia a espaço gastronômico dos mais representativos da cidade
Restaurante do Toninho, nos anos 50, na Vila Matos: da zona boêmia a espaço gastronômico dos mais representativos da cidade | Foto: Reprodução

“Um Prato Cheio de História – Comida Multicultural em Londrina” sai em edição bilingue (português-inglês) publicado pela editora Pelle através da Lei de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet. O lançamento acontece neste domingo (11) no Mercadão da Prochet com show gratuito do saxofonista Derico e Orquesta de Metais de Londrina. No evento o livro será distribuído em troca de 3 quilos de alimento não perecível que serão doados para entidades e organizações assistenciais da cidade.

A seguir, os autores Bernardo Pellegrini e Mauricio Arruda Mendonça falam sobre o livro.

No começo da colonização de Londrina, na década de 1930, o que a população comia?

Mendonça – Quando se abriu a clareira da cidade, as pessoas viviam precariamente e se alimentavam dos produtos que estava mais à mão. Basicamente palmito, peixes de rio, caça, mas assim que começavam a abrir seus lotes de terra, já faziam suas roças de arroz, feijão, milho, plantavam abóboras e mandioca, criavam galinha, porco, etc.

Muitos produtos chegavam via Cambará pela estrada. A partir de 1935 já havia mantimentos variados chegando regularmente por trem. Os primeiros empórios foram abertos e abasteciam a população, havia até sorvetes e bebidas.

Pellegrini – Nessa época já havia prodígios na cidade dos prodígios. Por exemplo: ninguém sabe como, mas os alemães da Warta já estavam produzindo cervejas artesanais em 1934. E para além dos imigrantes da Europa, do Japão e de brasileiros de todos os cantos, havia venezuelanos cultivando abacates em Tamarana. Mais multicultural que isso é impossível.

A história da culinária de Londrina passa pelos indígenas, pelos peões, pelos lords ingleses, pelos operários, pelos empresários, pelos aventureiros, pelas cozinheiras, pelos agricultores, pelas donas de casa, pelos milhares de migrantes e imigrantes. Como foi todo esse processo?

Pellegrini – Londrina é uma cidade do século 20, uma cidade que nasceu moderna, e a modernidade é isso: a convivência de todas as formas no mesmo tempo e no mesmo espaço. O ano de 2024 tem duas datas comemorativas importantes: os 90 anos da cidade, e os 100 anos da Missão Montagu, a missão inglesa que trouxe o trem e ocupou o território. Aliás, a compra do território foi decidida num jantar em alto estilo na Fazenda do Bugre, em Cambará, com a presença de Lord Lovat e do Major Ferraz.

Mendonça – A experiência da modernidade é a da velocidade. As etapas de desenvolvimento não demoraram séculos, aqui elas foram ultrapassadas em poucas décadas. As pessoas que vinham para cá eram pessoas que buscavam reterritorializar-se, estavam abertas à adaptação, às novas formas de sobrevivência. Nisso, evidentemente, a alimentação era a necessidade primordial e, em Londrina, ela adquiriu uma característica coletiva singular.

O editor Marcos Pellegrini e os autores do livro “Um Prato Cheio de História – Comida Multicultural em Londrina”, Bernardo Pellegrini e Maurício Arruda Mendonça
O editor Marcos Pellegrini e os autores do livro “Um Prato Cheio de História – Comida Multicultural em Londrina”, Bernardo Pellegrini e Maurício Arruda Mendonça | Foto: Divulgação

No livro vocês revelam que, a partir do começo da década de 1960, as famílias que preservavam a tradição de cozinhas étnicas de maneira reservada começaram a abrir restaurantes e levar para toda a cidade uma cozinha multicultural. Como isso aconteceu?

Mendonça – Eram pessoas que passaram a oferecer o que comiam em suas casas. Houve um momento de plasticidade, de definição dos nossos cardápios e dos saberes do cozinhar. Os londrinenses passaram a comer, além da comida caipira, as comidas japonesa, libanesa, italiana, alemã, portuguesa. Nosso paladar se abriu para diversidade.

Pellegrini – Surgiram os restaurantes chineses como Matsuo, italianos como o Dante e o Calone, libaneses como o Kiberama, alemães com a família Strass. Era tempo também das churrascarias lendárias. O escritor João Antonio esteve por aqui e escreveu páginas fantásticas sobre nossos hábitos à mesa. Resgatamos esses textos no livro.

Com tantas influências regionais e multiculturais, vocês consideram que é possível definir um prato típico londrinense, ou uma cozinha típica londrinense?

Mendonça – Não existe um prato típico, mas há muita criação, que é o que a culinária tem de arte, pesquisa, invenção. Todo londrinense conhece e aprecia a vitamina e o pastel da rua Sergipe, o suco da rodoviária, os pasteis de feira. Eles são os nossos sabores afetivos, como o suco Saci, o manju, a bananinha, o quebra-queixo.

Pellegrini – Se tivéssemos que definir Londrina por um prato, seria o “prato atípico”.

“Um Prato Cheio de História” resgata o passado culinário da cidade, mas também apresenta os novos rumos da atualidade. Vocês conseguem imaginar o futuro de uma possível culinária de “tradição regional londrinense”?

Pellegrini – Nossa pesquisa parte da década de 1930 até os anos 2000, que é tempo de franquias, dos chefs, das escolas de culinária, dos programas de TVs, dos blogues de comidas de boteco, tempo de pandemia e de ifoods. O futuro deve ser a soma e as novas fusões de todos esses novos componentes.

Mendonça – A Londrina de hoje também acompanha as tendências que se espalham por todo o mundo na busca de uma alimentação ética e sustentável. Cidade produtora e consumidora de produtos orgânicos, de comidas especiais, de comida vegana, evoluindo para uma alimentação saudável. Talvez mais do que uma tradição regional, esperamos que haja uma tradição de comida menos transgênica, com produtores agroflorestais, equilíbro ecológico que se traduza em alimentos vivos que verdadeiramente nos alimentem.

Foto de capa: José Juliani
Foto de capa: José Juliani | Foto: Reprodução

SERVIÇO

“Um Prato Cheio de História – Comida Multicultural em Londrina”

Autores – Bernardo Pellegrini e Maurício Arruda Mendonça

Editora – Pelle Editorial

Consultoria de gastronomia – Marcello Sokolowski

Tradução – Denise Costa Rodrigues

Páginas – 256

Quanto – Doação de 3 quilos de alimento não perecível

LANÇAMENTO

Quando – Domingo (11), às 11h30

Onde – Mercadão da Prochet (Av. Harry Prochet, 305)

Apresentação musical – Derico e Orquesta de Metais de Londrina