Uma exposição de fotocomposições que resgata parte da história de pequenas comunidades da região está disponível para visitação na Capela da Universidade Estadual de Londrina (UEL) até o dia 31 de julho.

Organizada pelo professor do Departamento de História, Marcos Soares, a exposição "Capelas Mortas" traz imagens de três capelas da região que não têm mais função religiosa, mas guardam histórias das comunidades. Quem quiser, também pode conferir o trabalho de forma virtual através do link: https://www.behance.net/gallery/169172359/Capelas-mortas.

Soares conta que a exposição é fruto do seu projeto de pesquisa chamado "A cultura material de pequenas comunidades da Região Metropolitana de Londrina". Segundo ele, junto a oito estudantes do curso, eles investigam a vida cotidiana de pequenas comunidades da região. “Fazendo esse trabalho de campo por essas comunidades, a gente encontrou diversas capelas católicas rurais, algumas em bom estado, outras razoáveis e outras em estado deplorável. A partir desse registro fotográfico que a gente fez ao longo do projeto, eu selecionei três capelas que representavam cada um desses estados de conservação”, explica.

Dessa forma, compõem a exposição imagens da Capela Jurema, na região da Estrada da Prata, em Cambé, que, embora sem ofício religioso, ainda é cuidada pela população que vive na região. Também na região da Estrada da Prata, a Capela Santa Terezinha está abandonada, mas ainda contava com bancos e os sinos, que foram roubados recentemente.

A terceira é a Capela do Bule, que fica na Estrada do Bule entre as cidades de Londrina e Arapongas. “Embora ela estivesse abandonada, também mantinha algumas de suas características. Entretanto, hoje, a condição é deplorável: destruição, furto do que restou, pichações e escrituras na parede que vão fazer com que em breve ela não exista mais”, conta.

Segundo o professor, o objetivo do projeto é investigar como essas pequenas comunidades constituíram o cotidiano em que vivem, o que tem forte presença da religiosidade. Soares explica que os alunos conversam com os habitantes, registram informações sobre o espaço e dão foco aos tópicos que são mais abordados pelos moradores, como a igreja, a escola e o campo de futebol. “São coisas que eles valorizam muito, mesmo estando fechados ou abandonados, a memória liga eles a essas edificações, então eles cuidam mesmo que elas não tenham mais nenhum tipo de ofício”, destaca.

Ao longo de três anos de projeto, eles visitaram oito comunidades. Segundo Marcos Soares, o objetivo é registrar a memória dessas comunidades. “Nós, como habitantes urbanos, muitas vezes ignoramos esses resquícios da vida rural ou das comunidades que se mantiveram apesar da globalização. E é muito importante contar essas histórias antes que elas desapareçam”, ressalta. De acordo com o professor, as três capelas e comunidades surgiram no período cafeeiro e findaram com a mecanização do trabalho e o êxodo rural.

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A exposição na Capela da UEL traz imagens de três capelas da região que não têm mais função religiosa, mas guardam histórias das comunidades
A exposição na Capela da UEL traz imagens de três capelas da região que não têm mais função religiosa, mas guardam histórias das comunidades | Foto: Gustavo Carneiro

Além da exposição, o projeto de pesquisa rendeu trabalhos científicos dos alunos. Sobre as fotocomposições, o professor conta que fez recortes nas fotografias para destacar algum elemento, incluindo a adição de camadas de cor e filtros. “Não são fotografias realistas, mas a partir da realidade da edificação a gente interfere para dar um destaque a algo que você normalmente não prestaria atenção”, detalha. Ao todo, são 30 fotografias.

AS CAPELAS

Capela do Bule, que fica na Estrada do Bule entre Londrina e Arapongas: destruição e pichações
Capela do Bule, que fica na Estrada do Bule entre Londrina e Arapongas: destruição e pichações | Foto: Marcos Soares/Divulgação

A estrada do Bulé foi uma importante via de integração das áreas da Companhia de Terras Norte do Paraná. O motivo do fechamento da Capela do Bulé ainda é incerto, mas há duas versões conhecidas: a primeira diz que, após um assassinato ao lado da capela, o dono da fazenda fechou o local e proibiu a interação de seus colonos com os das demais propriedades; já a segunda versão conta que, nos anos 1960, a fazenda foi vendida e o novo proprietário, que era protestante, cercou e fechou a Capela para proibir manifestações católicas na sua propriedade.

A Capela da Jurema está localizada na estrada da Prata, em Cambé. O local contava com uma comunidade religiosa muito ativa e tinha uma grande área destinada a festas e quermesses, bem como fornos coletivos. Embora seu núcleo original tenha sido a colônia da fazenda local, a população circunvizinha passou a frequentá-la e ampliou a comunidade. O templo ainda se encontra em boas condições, mas a área de convívio e seus equipamentos estão deteriorados.

Localizada no distrito da Prata, em Cambé, a Capela Santa Terezinha, ou da Prata, é um dos últimos testemunhos do crescimento da comunidade. Ela foi construída nos anos de 1960 pelas populações locais, que, inclusive, custearam o sino e o teto da Capela, mas foi abandonada nos anos de 1970 devido ao êxodo rural provocado pela crise do café. O local também conta com uma área destinada ao convívio da comunidade, mas boa parte está em ruínas. (Com Agência UEL)

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