Uma dos mantras das escolas de samba é que o próximo Carnaval começa na Quarta-Feira de Cinzas, logo após a apuração das notas na Praça da Apoteose, no Sambódromo do Rio de Janeiro. E neste ano a máxima está sendo cumprida. Mal a Imperatriz Leopoldinense foi declarada a campeã de 2023, quebrando um jejum de 22 anos, as agremiações já anunciaram as primeiras movimentações visando os desfiles de 2024.

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A Estação Primeira de Mangueira, quinta colocada neste ano, espera voltar às cabeças apostando num enredo lhe é bem peculiar: a vida e obra da cantora Alcione, uma das maiores vozes em atividade da nossa MPB. Com a partida de Beth Carvalho, em 2019, Marrom é a grande baluarte da Verde e Rosa, sua escola do coração. Enredos biográficos costumam render bons carnavais à Mangueira, que foi campeã homenageando Monteiro Lobato (1967), Braguinha (1984), Carlos Drummond de Andrade (1987), Chico Buarque (1998) e mais recentemente Maria Bethânia (2016).

A Acadêmicos do Salgueiro, que amargou um 7º lugar e já não conquista o título desde 2009, foi a primeira a definir o próximo enredo. A Vermelha e Branca do Andaraí vai fazer uma defesa dos povos originários por meio da mitologia Yanomami, aproveitando a situação calamitosa dos yanomami na Amazônia, que veio à tona em meio ao avanço da atividade ilegal de garimpeiros e grileiros nas terras indígenas na gestão Bolsonaro.

Além do enredo, a Mangueira já garantiu a permanência da dupla de carnavalescos que estreou pela escola neste ano, Annik Salmon e Guilherme Estevão. O mesmo fez a Imperatriz Leopoldinense, que tratou de renovar o contrato do carnavalesco campeão Leandro Vieira. Novo "queridinho" do Carnaval carioca, ele emplacou três títulos nos últimos sete anos de Sapucaí (dois pela Mangueira, em 2016 e 2019).

Enquanto os enredos ainda vão sendo escolhidos, o que está intensa nos bastidores é a tradicional dança das cadeiras dos intérpretes oficiais das escolas. Atual vice-campeã, a Unidos do Viradouro dispensou Zé Paulo Sierra, sua voz oficial desde 2014, e anunciou a contratação de Wander Pires. O experiente cantor, eleito o melhor deste ano pelo júri do troféu Estandarte de Ouro, considerado o Oscar do carnaval carioca, estava na Paraíso do Tuiuti. Sierra, por sua vez, foi para a Mocidade Independente de Padre Miguel em lugar do novato Nino do Milênio. A Unidos da Tijuca trocou Wantuir por Ito Melodia, que neste ano cantou pela rebaixada Império Serrano.

Se uns saem, outros continuam. Mangueira, Portela e Imperatriz confirmaram a manutenção de seus intérpretes: respectivamente a dupla Marquinhos Art'Samba e Dowglas Diniz, Gilsinho e Pitty de Menezes. A Beija-Flor de Nilópolis, desnecessário dizer, segue com Neguinho da Beija-Flor, "patrimônio" da escola da Baixada Fluminense há 47 anos. Chora, cavaco!