O futuro da cultura em Londrina passa por um debate marcado para esta segunda-feira (09) com os candidatos à Prefeitura que deverão se reunir com artistas, produtores culturais e o público em geral na Associação Médica de Londrina (AML), a partir das 19h. A realização é do Conselho Municipal de Política Cultural - CMPC - e Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural.

Até agora, entre os temas culturais abordados "de raspão" estão o orçamento da pasta que tem se mantido no mesmo patamar há anos; o futuro do Promic - Programa Municipal de Incentivo à Cultura; demandas sobre as reformas de equipamentos culturais da cidade, como o Teatro Zaqueu de Melo e o Museu de Arte de Londrina (MAL) que continuam fechados; a conclusão do Teatro Municipal que se encontra abandonado há mais de uma década sem que lideranças municipais, estaduais ou federais tenham demonstrado a atenção prioritária que o assunto merece.

A impressão é que há um certo esquecimento sobre Londrina ser considerada um polo regional de cultura que, em alguns momentos, esteve inserida no mapa nacional em função da importância de alguns eventos realizados na cidade. Condição que ainda se apresenta em grandes eventos como o Festival Internacional de Música, que em 2024 realizou sua 44ª edição, ou o Festival de Dança de Londrina, que também conecta a cidade com à cultura contemporânea.

As gestões culturais municipais em Londrina têm se mantido estagnadas essencialmente por falta de verbas. A Secretaria da Cultura tem um dos menores orçamentos do município, ficando com cerca de 3%. Já o Promic, principal programa municipal de fomento à cultura, manteve o orçamento de R$5,3 milhões na LOA (Lei Orçamentária Anual ) de 2024 a duras penas, depois do programa ter sido ameaçado de perder R$ 3,2 milhões que alguns vereadores queriam remanejar para a Secretaria de Defesa Social e a Guarda Municipal. O orçamento do Promic se manteve, mas diante das constantes ameaças de quem parece querer bombardear a cultura local, é o caso de se perguntar: até quando?

Nos debates realizados até agora, sem que a especificidade tenha sido a cultura, quando os candidatos são abordados sobre alguns temas, percebe-se que há desinformação em muitas respostas, dando a impressão de uma improvisação geral.

A ideia de cultura como entretenimento ainda prevalece em muitas respostas, sem que se atualize o conceito de arte e cultura como fator de empregabilidade e renda, oferecendo transformação social e impulso econômico.

ECONOMIA CRIATIVA: MUITO DISCUTIDA, POUCO COMPREENDIDA

O conceito de Economia Criativa, muito discutido e pouco compreendido, parece não caber em algumas respostas que tomam a cultura apenas como entretenimento ou festividade que deveria ser estendida a essa ou aquela região da cidade, sendo citado o centro como local onde falta movimentação cultural em Londrina sem que se atente ao fato de que, apesar dos equipamentos fechados, é no centro que ainda pulsa parte importante da cultura viva da cidade.

Isso se deve a espaços como a Biblioteca Pública Municipal, a Galeria do Villa Rica com suas salas de cinema e teatro restauradas, a própria Concha Acústica onde são realizados shows e eventos, o emblemático e necessário Teatro Ouro Verde. Sem contar o Bosque Central onde grupos pequenos de jovens voltaram a fazer batalhas de rap redescobrindo um novo espaço depois de serem expulsos da Concha Acústica pela incompreensão do que significa este movimento que conquistou não só Londrina como o País e o mundo.

Os candidatos também não parecem considerar a descentralização da cultura como fator de reinvenção do espaço urbano. Mas é nos bairros que hoje acontecem as Batalhas de Rima que levam milhares de jovens a eventos como a Batalha da Leste ou do Galo, celebrando o rap de forma espontânea.

Foi o próprio Promic - que já completou 20 anos - que também levou vários projetos culturais aos bairros através de uma rede com a proposta de descentralizar a cultura. Alguns candidatos parecem desconhecer tudo isso.

A impressão é que políticos raramente frequentam teatros, não vão a concertos nem a shows. À exceção da época das eleições quando alguns dão uma "passadinha."

Com espaços culturais quase sempre lotados nos eventos, Londrina não tem seu Teatro Municipal
Com espaços culturais quase sempre lotados nos eventos, Londrina não tem seu Teatro Municipal | Foto: Fábio Alcover/ Divulgação

POLO DO AUDIOVISUAL

Ignoram que Londrina se tornou um polo do audiovisual com a realização de filmes que competem em festivais de todo País, graças a editais municipais, estaduais e, sobretudo, federais. Esses movimentos geram empregos para centenas de pessoas. Da mesma forma, os grupos de teatro e circo autônomos que resistem e empregam. Mas sem informações precisas - e atualizadas - os candidatos são pegos subitamente nas sabatinas e alguns dão opiniões inconsistentes.

No debate desta segunda-feira, essas questões e outras deverão vir à tona com a esperança de quem quer vença as eleições municipais - no Executivo e na Câmara - olhe para cultura local como marca da vitalidade de Londrina, evitando comentários que - com todo o respeito - flutuam no puro suco da desinformação, com algumas exceções merecedoras de consideração por parte dos eleitores, artistas, produtores culturais, jornalistas e quem quer que ajude a girar a roda da cultura e da arte na cidade.

SERVIÇO:

Debate com candidatos à prefeitura de Londrina sobre a Cultura

Onde: AML Cultural (rua Maestro Egídio do Amaral, 130 - perto da Concha Acústica) - centro de Londrina.

Horário: a partir das 19h

Realização: Conselho Municipal de Política Cultural (CMPC) e Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural