O rap (ritmo e poesia) e as batalhas de rima são elementos importantes do movimento Hip Hop. Em Londrina, os duelos de improvisação alcançam cada vez mais espaço: atualmente, em todos os pontos cardeais, de domingo à sexta-feira, sete batalhas ocupam diferentes espaços públicos. As batalhas da Leste, do Hemp, do Cinco, do Café, do Galo, da Praça e da Concha são iniciativas independentes na região que, sem auxílio público ou privado, se mantêm pela vontade dos apoiadores em ‘’fazer acontecer’’.

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O hip hop ocupa Londrina

Sob batidas musicais, som de palmas ou a cappella, o objetivo dos MCs dentro da batalha é vencer o seu adversário utilizando as palavras. Isso exige criatividade, raciocínio rápido, estudos, inteligência emocional. Mas a vitória não é o principal foco da participação nesse movimento que, desde a sua origem na década de 70, nos Estados Unidos, se consolida como ferramenta de expressão dos jovens para se conectar com a cultura, com os amigos e com eles próprios.

RIMA EM AÇÃO

‘’Toda terça, vejo vários meninos que tem muito potencial para rima se soltando cada vez mais. Vejo muitos meninos que já falaram comigo que o movimento os tem ajudado a repensar sobre suas vidas, a pegar o microfone e sair da criminalidade, tá entendendo?’’ conta Gabriel Lourenço, um dos organizadores da Batalha do Café do bairro Cafezal. A iniciativa teve início há cinco anos e, após pausa feita em 2019, voltou a ser realizada em 2022 como braço do hip hop na região sul, levando e revelando MCs e tirando os jovens das ruas. ‘’É o que a gente quer, a gente quer fortalecer a arte!’’, completa Lourenço.

A Batalha do Café é o braço do hip hop na zona sul  de Londrina
A Batalha do Café é o braço do hip hop na zona sul de Londrina | Foto: Divulgação

São esses jovens que cultivam a cultura das batalhas na cidade. Na Vila Nova, zona central, ocorre a Batalha da Praça, liderada por três amigos: Felipe Moraes e Gustavo Souza, de 18 anos, e Sofia Saviniec, de 17. A ideia surgiu como ‘’Interclasse de Rimas’’ para a aula de Língua Portuguesa na escola que o grupo frequentava, juntando MCs de diferentes turmas para competir e trocar conhecimentos. No fim do trimestre as improvisações se expandiram tomando os corredores, mas a administração da escola preferiu não dar continuação às atividades. Os jovens, então, decidiram migrar para a praça dando continuidade ao projeto, possibilitando o acesso aos eventos a mais pessoas da região central. ‘’Fomos super bem recebidos pela galera do rap e assim a gente cresceu. É um sonho nosso, envolve dedicação e união’’, destaca Souza reforçando que foram muito bem recebidos no circuito, pois ‘’as batalhas de Londrina são muito acolhedoras’’.

A Batalha da Leste, realizada todas as quintas-feiras na Vila Nova, começou como iniciativa escolar de ''interclasse de rimas''
A Batalha da Leste, realizada todas as quintas-feiras na Vila Nova, começou como iniciativa escolar de ''interclasse de rimas'' | Foto: Divulgação

A mais recente do circuito, a Batalha da Leste, assume o papel de acolher os MCs da região após a pausa das atividades da Batalha do Antares em 2019. Agora, os MCs que precisavam se deslocar a outros pontos da cidade para rimar voltam a ter uma batalha para chamar de sua. ‘’A importância do movimento na região leste é principalmente a acessibilidade, né? Existem eventos em outros lugares de Londrina só que, por conta da distância e do dia da semana, a gente trouxe a Batalha da Leste para a galera daqui’’, explica Gustavo Rodrigues, 27 anos, organizador da batalha que vem sendo realizada aos domingos no bairro Cidade Industrial II, próximo à Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Para ele, na pandemia as pessoas passaram a consumir batalhas pela internet, e então, aproximar pessoalmente esses elementos culturais das pessoas é uma alegria.

UMA CAIXINHA DE SOM E DISPOSIÇÃO

‘’Sem documentação, sem luz, sem equipamento, sem nada. Só com uma caixinha de som e disposição’’, assim foi o início da Batalha da Praça, conta Moraes sobre a ausência de financiamento do projeto. Quem ajudou o grupo foi o Centro Vocacional Juvenil, viabilizando o alvará de funcionamento, disponibilizando a caixa de som, conselhos e orientações para a continuidade da batalha.

Mas o que devia ser regra para o cenário cultural londrinense, virou exceção. ‘’É um movimento totalmente de quebrada, de quem faz acontecer, não recebemos nenhuma ajuda’’, relata Lourenço sobre os recursos para a Batalha do Café. Por lá, os microfones e a caixa de som são emprestados. O mesmo ocorre com a Batalha da Leste: a caixa de som é emprestada e eles não possuem microfone, obtê-los é a próxima meta dos organizadores.

É essa disposição em movimentar a cultura de Londrina que mantém o funcionamento das batalhas semanais: se não tem caixa de som, emprestam, ''passam o chapéu'' ou até mesmo rimam aos gritos para se fazerem ouvidos. Pois, para eles, o importante é que - com ajuda ou sem - a voz do hip hop londrinense não seja calada.

Supervisão: Célia Musilli/ Editora

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