SÃO PAULO - Chico Buarque, que completou 80 anos nesta quarta-feira (19), ficou conhecido antes de tudo como cantor e compositor, mas nas últimas décadas tem se dedicado cada vez mais à escrita de livros.

Não é um trabalho displicente: com seu projeto literário, o autor angariou prêmios como o Jabuti e o Oceanos. Há três anos, também venceu o Camões, maior distinção mundial para literatura feita em língua portuguesa - num reconhecimento que compreende também seu trabalho compondo canções.

O escritor, aliás, prepara o lançamento de "Bambino a Roma", livro em que deve abordar sua infância na Itália, para agosto pela Companhia das Letras, casa de toda a sua obra literária.

Para quem quer se iniciar no lado escritor de Chico, a Folha tem cinco indicações.

ESTORVO (1991)

O livro de estreia do autor é uma exploração de verve mais experimental sobre um narrador atormentado pelo passado e atordoado por situações confusas. De cara, Chico já recebeu o prêmio Jabuti de melhor romance.

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BUDAPESTE (2003)

A narrativa em que o autor melhor decanta seu estilo literário conta a história de um ghost-writer que visita a Hungria e se apaixona tanto por uma mulher quanto pelas traduções de seus escritos, se tornando cada vez mais um duplo —numa exploração sofisticada sobre autoria, linguagem e identidade.

LEITE DERRAMADO (2009)

Provavelmente a obra mais ambiciosa do autor em termos de escopo, parte de um narrador centenário que conta sua vida e seus arrependimentos enquanto compõe um panorama de décadas de formação do Brasil. Foi um dos vencedores do Jabuti de 2010.

O IRMÃO ALEMÃO (2014)

O primeiro exercício robusto de autoficção de Chico, digamos assim —que deve ter novo capítulo com "Bambino a Roma"— se baseia na história real de quando o autor descobriu, já mais velho, que seu pai teve um filho em outro país.

ANOS DE CHUMBO (2021)

Uma maneira mais leve de se aproximar da literatura buarquiana pode ser pelo único livro de contos que publicou até agora, com muitas histórias saborosas —como a de um escritor que perde o passaporte num aeroporto e de um jovem cantor que se encanta ao conhecer Clarice Lispector.

Confira as músicas mais tocadas compositor

Entre vários sucessos, dez canções foram mais tocadas nas rádios de acordo com a Ecad

"IOLANDA", DE 1999

A declaração de amor em forma de melodia foi composta com o cubano Pablo Milanés.

"A BANDA", DE 1966

Um dos hits mais icônicos de Chico venceu em primeiro lugar o Festival de Música Popular Brasileira daquele ano. A canção fala sobre uma banda que passa pela cidade e leva alegria aos moradores.

"JOÃO E MARIA", DE 1977

Contos de fadas foram transformados em música por Chico e o acordeonista Sivuca para falar sobre a magia do primeiro amor.

"FOLHETIM", DE 1978

A canção sedutora fala sobre uma mulher que vive romances rápidos, curtos e intensos.

"ANOS DOURADOS", DE 1986

Chico e Tom Jobim criaram a canção sobre paixão e nostalgia para a minissérie homônima da Globo.

"COTIDIANO", DE 1971

A canção é como uma crônica do dia a dia de um casal de trabalhadores, e fez sucesso também pela voz de Seu Jorge.

"QUEM TE VIU QUEM TE VÊ", DE 1967

O ritmo alegre da canção contrasta com a letra melancólica, que fala sobre um amor que mudou com o passar do tempo.

"APESAR DE VOCÊ", DE 1978

A música alegre, quase um samba, disfarça a letra política que afrontava a repressão da ditadura militar no Brasil, transmitindo a esperança de que a liberdade voltaria a vencer.

"SAMBA DO GRANDE AMOR", DE 1984

A música doída fala sobre a saudade deixada por um grande amor que não vingou.

"RODA VIVA", DE 1967

A roda é uma metáfora para a existência turbulenta no Brasil e no mundo da década de 1960, que enfrentava guerras e ditaduras. Hoje, a música também permite uma reflexão sobre a passagem do tempo.