Há mais ou menos 300 milhões de anos, a região dos Campos Gerais era coberta de mar, embora hoje Ponta Grossa esteja 450 metros acima do nível do mar. Então a América Latina inteira se situava no grande e único continente Pangea, que foi se desagregando em vários continentes até uns 180 milhões de anos, e é por isso que o perfil oeste da América do Sul parece ajustável ao perfil oeste da África.

Toda essa movimentação da crosta do planeta se deu devido às placas tectônicas, como uma fruta que a casca ressecasse e por onde escorresse o sumo, no caso a lava. E a lava saía com tanto volume e força que ergueu montanhas, como a Cordilheira do Himalaia, que resultou do choque de uma grande placa, onde hoje se situam Índia e Paquistão, com o que hoje chamamos de Ásia. Esse choque continua, tanto que o Everest e suas montanhas colegas de cordilheira crescem todo ano alguns milímetros, como nos oceanos há cordilheiras submersas crescendo com seus cimos aflorando como ilhas. O planeta vive!

Tudo isso a gente fica a pensar no Buraco do Padre, uma grota vertical em parque turístico a dez quilômetros de Ponta Grossa, onde o mar se esvaziou e o terreno se elevou graças aos movimentos tectônicos, enquanto no Norte do Paraná o terreno rochoso se avermelhava também durante milhões de anos.

O Buraco do Padre é assim chamado porque padres ali faziam orações, antes dos bandeirantes paulistas liquidarem com as reduções jesuíticas, caçando índios para escravizar há alguns séculos atrás.

Visitei ali há trinta anos, com o amigo e atual reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Miguel Sanches Neto, quando chegava-se à funda grota vadeando o riacho que por ela despenha, durante também milhões de anos transformando as rochas na areia de seu leito. Nos paredões da grande furna que é o Buraco, vemos as grossas camadas de rocha geradas pelos derrames de lava. Profundas fendas, de cima abaixo, revelam que esse lençol rochoso, que faz parte da formação geológica Vila Velha, “um dia” se rompeu verticalmente, e uma dessas fendas foi maliciosamente chamada de Fenda da Freira... E ali o visitante pode descer por tirolesa até o começo da trilha turística.

Tudo isso está na fazenda que o hoje nonagenário Ferdinando Scheffer comprou justamente por isso, e onde se magoava vendo o turismo selvagem que ali fazia fogo e deixava lixo. Desgostoso, seo Ferdinando até pensou em vender o terreno, mas sua neta Priscila tomou a peito transformar aquilo em exemplar parque turístico, implantando toda uma estrutura e serviços, com ótimas trilhas, vigilância e segurança efetivas, jardinagem ambientada e sanitários decentes, além de restaurante de madeira com notável arquitetura. Em tudo, evidente atenção a detalhes que, quando desprezados, são os grandes inimigos das maiores obras.

Saímos de lá cheios de brasilismo, o sentimento de ver gente fazendo otimamente o que deve ser feito. Miguel, que também viu o antes e o agora, resume bem:

- O Buraco do Padre nos enche a alma.