“Todas as crianças precisam de amigos imaginários, especialmente quando crescem”. Esta é a frase que o espectador ouve no início do mais recente esforço de direção de John Krasinski, “IF” (abreviação de Imaginary Friends/Amigos Imaginários). E ela, frase, pode servir para descrever o filme hoje em lançamento mundial, já que se articula cuidadosamente entre o mundo dos adultos e o das crianças, e que é sua maior força.

Com esta sua mais recente realização, Krasinski (“Um Lugar Silencioso I e II”) prova ser um diretor que pode tocar o coração, a alma e o cérebro do público. Na tela, o “IF” do realizador tem todos os ingredientes para uma aventura familiar com muita diversão, não esquecendo nunca o apelo mais sentimental nos moldes da produtora Amblin.

É uma terna história sobre como nos reconectar com nossa "criança interior” e com as maravilhas de nossa imaginação. E em seu conceito de tornar reais os “amigos imaginários”, ela dá vida a uma série de personagens coloridos. Você não pode deixar de aderir a inventividade quando Cal (Ryan Reynolds) sai de uma pintura antes de festejar no palco com todos os IFs ao som de “Better Be Good To Me”, de Tina Turner. É uma experiência de visualização frequentemente mágica, apesar de um enredo às vezes um tanto desconexo.

A trama do filme segue Bea (Cailey Fleming), uma jovem que vem passando por acontecimentos complicados na vida, como a perda da mãe. Quando vai morar com a avó (Fiona Shaw) em Nova York enquanto o pai (John Krasinski) está no hospital, Bea ganha uma habilidade muito especial. Aprendemos que ela pode ver os amigos imaginários das pessoas que foram abandonados pelas crianças que os criaram e lutam agora para encontrar um propósito. Acompanhada por um vizinho, Cal (Ryan Reynolds), que também pode ver amigos imaginários, Bea tenta ajudar os IFs reunindoos com seus ex-filhos, agora adultos, enquanto aprende uma lição importante.

Krasinski está com o coração no lugar certo, flexionando suas habilidades longe de “Um Lugar Silencioso” para mostrar sua versatilidade como cineasta. Em boa parte, a mudança do terror para a fantasia infantil funciona. A vastidão infantil de “IF” é influenciada por todos os filmes da Disney/Pixar já feitos, mais especificamente “Toy Story”, “Monstros S.A.”. e “Up” (a música-tema de Michael Giacchino de “Up” é ouvida nos créditos de abertura).

No entanto, é um exemplo clássico de quando se tem muita coisa boa, tudo junto, em todo lugar, em todo momento. Apesar da doçura reinante e participações especiais repletas de estrelas na dublagem original, o enredo exagerado nunca se posiciona para se estabelecer em uma ideia coerente, seja um serviço de reunião para amigos imaginários e crianças novas, ou amigos imaginários se reunindo com seus antigos criadores. O resultado deixa perguntas no ar e piadas pela metade, sem atingir seu pleno potencial. Ainda assim, Krasinski oferece sinceridade suficiente para estabilizar o plano de rota, feliz em vibrar com as performances de Reynolds e Fleming.

No geral, “IF” é um filme que nos lembra o poder absoluto da imaginação e da narrativa, algo que muitas vezes esquecemos quando adultos, mas que nunca nos abandona realmente, se o filme servir de referência. É o tal produto familiar quase perfeito, embora seus momentos comoventes possam ser mais adequados para os adultos na platéria que conseguem compreender todas as suas complexidades.