A seleção brasileira de futebol não é mais uma paixão. Não paramos mais para ver uma partida, com ansiedade e entusiasmo. Não gostamos mais de futebol? De jeito algum, apenas continuamos gostando de bom futebol e, com muita oferta, não nos prendemos por qualquer partida, mesmo tendo a camisa pentacampeã do mundo.

A atual seleção vive a entressafra, que é mundial. Não temos gênios, e poucos craques, assim como a maioria das outras seleções pelo mundo. O último gênio está se divertindo no final de carreira atuando nos Estados Unidos. Ainda há talentos excepcionais, mas os que estão se despedindo são maior número dos que estão chegando. Logo, o Brasil é apenas um retalho desse novo (des)colorido mundial.

Mas como somos saudosistas, queremos hoje aquilo que já foi comum noutro tempo sem ter a matéria prima daquele tempo. As comparações surgem naturalmente porque é assim que se faz a história: o passado é o ponto de partida para mudanças evolutivas. Mas quando se trata de criatividade, a construção não passa pela aplicação de novos conhecimentos e, sim, que ainda continuem surgindo os “gênios”.

Dorival Júnior chegou à Seleção pelos trabalhos no Flamengo e São Paulo. No Rubro-negro pegou um time com títulos recentes e sem desempenho equivalente, num momento de crise produtiva. Ajeitou posições, resgatou autoestima, reconectou torcida e tudo fluiu. Foi campeão da Copa do Brasil. No Tricolor paulista acolheu um time desacreditado por torcida e pelo próprio elenco. Sem contratações, conseguiu formatar um esquema de jogo que surpreendeu. Também foi campeão.

Na Seleção, Dorival Júnior está tendo que “construir” um grupo, um time e um jeito de jogar. E aí está sua dificuldade. Não basta ter bons jogadores, convocá-los e jogar. É preciso uma concepção de estudo do futebol que os técnicos de gerações anteriores não conseguiram absorver e, por isso, os mais jovens têm conquistado tanto espaço.

A Seleção de Dorival Júnior não vai jogar diferente do que já vimos. E não é por convocações equivocadas. É pela sua história como treinador. Nesta terça, poderemos até brilhar mais contra o Peru, mas será pelo jogo intuitivo e não pela consciência coletiva.