A recepção que teve Memphis Depay pela torcida do Corinthians mostra a carência que existe hoje no futebol brasileiro por ídolos. Ainda de madrugada, centenas de torcedores se aglomerando para receber um jogador sem qualquer identidade com o futebol brasileiro, mas que representa a esperança de dias melhores ao clube. E Memphis (que não gosta do Depay no nome) já soube ocupar um espaço vago no coração do torcedor corintiano.

Os ídolos sempre foram preponderantes para alavancagem de um time, seja comercial, de imagem, de torcedores ou de identidade de marcas. O ídolo atrai e projeta. Potencializa. Um ídolo influencia gerações. A paixão por um clube ou por uma modalidade, muitas vezes, começa a partir de alguém que se idolatra, como se projetasse ser igual e viver igual.

O automobilismo, por exemplo, nunca foi um esporte popular no Brasil por vários fatores, mas Nelson Piquet e Ayrton Senna mudaram essa relação a partir do momento em que se tornaram ídolos de um país inteiro. Por muitos anos, havia a divisão de quem “era” Piquet ou Senna. O basquete se tornou ainda maior com os feitos de Oscar e Hortência, até hoje reverenciados. E no futebol, então, a lista é imensa. Cada time tem algum ídolo eterno.

Mas, e hoje? Os times têm ídolos? Não dá mais tempo. Hoje, os jogadores não vivem com a mesma intensidade um clube como antigamente para criar essa relação, e o tempo de permanência também é curto. Gabigol, do Flamengo, foi comparado a Zico em importância e conquistas. Foi venerado e virou ídolo de uma geração recente, que já não o reverencia mais e não se importa com a saída iminente do atacante.

Ídolo é para sempre, como um herói. Se um dia ele deixa de ser é porque não era de verdade. Pelé não deixou de ser ídolo para várias gerações do Santos e do futebol; Zico, para os flamenguistas; Dirceu, para os cruzeirenses; Reinaldo, para os atleticanos; Garrincha, para os botafoguenses. E muitos outros. Se não temos mais esse simbolismo, esse amor fica frágil, onde qualquer um pode ocupar essa “coroa”, mas sempre por pouco tempo e para ser esquecido num futuro breve.

Julio Oliveira é jornalista e locutor esportivo da TV Globo - A opinião do colunista não representa, necessariamente, a da Folha de Londrina