Paris - "Un petit peu désolé". Foi com essa expressão, que em português significa algo como "lamento um pouquinho", que Tony Estanguet, presidente do Comitê Organizador de Paris-2024, definiu o sentimento em relação ao transtorno causado a moradores, turistas e comerciantes da capital francesa com o perímetro de segurança implantado para os Jogos Olímpicos.

Desde a última quinta-feira (18) e até o dia da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos (26), todo o entorno do rio Sena, ao longo de seis quilômetros, está fechado ao trânsito de veículos e de pedestres sem autorização. A intenção é prevenir um atentado terrorista durante o evento, que pela primeira vez na história olímpica acontecerá fora de um estádio.

O resultado da medida é que algumas das áreas mais turísticas de Paris, como o entorno do museu do Louvre e da catedral de Notre-Dame, estão praticamente desertas, em um período que teria forte tráfego de turistas.

"Usar tantos lugares icônicos não pode ser feito sem restrições", justificou Estanguet. "Tomamos essa decisão sabendo que haveria impactos. Tentamos reduzir ao máximo esse tempo de interrupção. Temos consciência dos importantes constrangimentos que estamos impondo a toda a população, aos proprietários de restaurantes. Não vemos os Jogos [em Paris] há 100 anos, por isso fomos tão ambiciosos."

Neste domingo (21), o Comitê Organizador realizou a primeira entrevista coletiva no centro de imprensa dos Jogos. Estanguet apresentou uma série de números positivos. Já foram vendidos 8,8 milhões de ingressos. Restam apenas algumas centenas de milhares, inclusive 4 mil para a cerimônia de abertura. Já estão instalados na Vila Olímpica 4,4 mil atletas, cerca de 40% do total. Segundo o dirigente, o orçamento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, de 4,5 bilhões de euros (cerca de R$ 27 bilhões), já está 95% coberto por recursos privados.

A imprensa francesa pressionou Estanguet por detalhes da cerimônia de abertura, sobretudo o nome da pessoa que acenderá a pira olímpica. Os favoritos são a ex-campeã de atletismo Marie-José Pérec e o ex-jogador Zidane. Estanguet afirmou que a pessoa escolhida ainda não foi avisada.

O CEO de Paris-2024, o ex-jogador de badminton Etienne Thobois, disse à reportagem que o apagão cibernético global da última sexta-feira (19) afetou pouco a organização dos Jogos. O serviço de credenciamento de atletas, jornalistas e dirigentes chegou a ser interrompido por algumas horas, mas logo voltou ao normal, segundo Thobois. O apagão também perturbou a operação de aeroportos do mundo inteiro, atrasando a chegada de algumas delegações à França.

Estanguet negou ainda que o recente aumento dos casos de Covid-19 na França possa prejudicar os Jogos: "Monitoramos de perto com as autoridades de saúde e não há nenhuma recomendação especial, apenas as de praxe, como lavar as mãos."